segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Romantismo não reverterá colapso ecológico



* Ecio Rodrigues
Todos os anos, uma professora do ensino fundamental, sempre bem intencionada e nem tão bem informada, dedica-se, na primeira semana de junho, a promover junto aos seus alunos o que chama de “educação ambiental”.
As aspas foram propositais: embora a maioria desconheça, os conteúdos sobre meio ambiente estão incluídos na Lei de Diretrizes de Base da Educação e dizem respeito a processos pedagógicos estabelecidos, exigindo formação acadêmica específica.
Significa dizer, em primeiro lugar, que nem tudo o que se refere ao meio ambiente é educação ambiental. Orientar a população a poupar água, por exemplo, a despeito de ser medida didática, importante para a ecologia, não tem relação com educação ambiental.
Significa, em segundo lugar, que nem todos possuem o conhecimento técnico necessário para dominar o tema.  
Voltando à historinha do início. Na tal semana, as crianças cumprem duas atividades, estimuladas por sua professora: plantar mudas de árvores e produzir papel reciclado artesanalmente.
A professora não sabe que de cada 10 mudinhas plantadas pelas crianças, 9 vão morrer de insolação, de sede ou por falta de alimento. E ela também ignora que o papel reciclado é mais prejudicial ao meio ambiente do que o papel produzido do eucalipto cultivado exclusivamente para esse fim.
Explicando melhor. Plantar árvores é tarefa que exige expertise e que não se esgota no ato de depositar uma muda na terra ou uma semente num receptáculo. De outra banda, a produção de papel reciclado gasta mais energia e depende de mais produtos químicos do que a produção de papel branco, que tem por base a celulose, matéria-prima que por sua vez se origina das árvores.
Não tem sentido chorar por um pé de eucalipto derrubado para o fabrico de papel, pelo simples fato de que essa árvore, que foi plantada com essa finalidade, será substituída por outra – por outro pé de eucalipto.
Trata-se de um raciocínio simplório e que justificou a primeira grande transformação ocorrida na humanidade, quando o homem evoluiu de nômade para sedentário, ou seja, quando dominou os complexos processos que o levaram a dispor, perto de casa, de tudo o que precisava para comer, se vestir e se locomover – uma conquista que demorou muito tempo e exigiu muito esforço humano.
Resumindo, ainda que expresse uma declaração de amor à natureza, a iniciativa da professora não se confunde com educação ambiental: não envolve procedimento pedagógico ou material didático que sirva para difundir algum domínio em ecologia. Além de não transmitir muita informação para as crianças.
É óbvio que despertar o carinho pela natureza é importante. Todavia, o erro na abordagem pode causar desapontamentos futuros. Provavelmente, o problema maior reside na constatação de que declarações de amor à natureza não têm levado os futuros adultos a assumir sua responsabilidade e se esforçar para resolver a grave crise ecológica enfrentada pela humanidade.
O ato simbólico, repetido por milhares de atletas na abertura das Olimpíadas no Rio, de jogar uma sementinha num tubete com vermiculita, é uma declaração de amor à natureza, que decerto deixa a todos com a consciência tranquila. E isso será um grande problema no futuro.
Não vai aplacar nossa incompetência para organizar uma economia sem petróleo ou para explorar a biodiversidade florestal na Amazônia. E isso é um grande problema, hoje.

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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