segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Nota de Repúdio






 AEFEA
ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS FLORESTAIS DO ACRE
Nota de esclarecimentos diante de reportagem que fere a imagem dos profissionais da Engenharia Florestal no Acre. 

A Associação dos Engenheiro Florestais do Acre foi surpreendida com a recente publicação do depoimento do Doutor Evandro Ferreira que, salvo melhor juízo, desqualifica de maneira acintosa e trata com preconceito a tecnologia do Manejo Florestal para produção de madeira no Acre.
Assim, alguns pontos precisam ser esclarecidos.
A afirmação de que "Uma vez feito o manejo, o estrago está feito”, além de precária para um cientista, poderia ter alguma validade se partisse de instituições que realizam pesquisa sobre o Manejo Florestal na Amazônia ou uma equipe de Engenheiros Florestais, em nível de mestrado ou doutorado na tecnologia de Manejo Florestal, o que não é o caso.
Em segundo lugar, causa repugnância e estranheza quando essa afirmação, precária repita-se, parte de um pesquisador pertencente aos quadros do renomado Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, o Inpa, uma vez que tal afirmação não está ancorada nas diretrizes do Inpa que publicou nos últimos 30 anos, vários estudos sobre a eficiência, eficácia e, o mais importante, da adequação da tecnologia do Manejo Florestal para o desenvolvimento de uma região como a Amazônia.
Chamamos ainda, a atenção para o fato de que a imprensa acriana se encontra sempre pronta para, com muita desinformação, sujar a imagem de todo o setor madeireiro e de um conjunto de profissionais da Engenharia Florestal do Acre.
Propagar uma visão distorcida é ignorar o que instituições como a UFAC, EMBRAPA, INPA, Serviço Florestal Brasileiro, MMA, IBAMA sustentam sobre o potencial da tecnologia do Manejo Florestal de madeira para a Amazônia e, óbvio, o Acre.
Assim, a AEFEA repudia veementemente esse tipo de manifestação tendenciosa na tentativa de criticar a tecnologia do Manejo Florestal e, requer da imprensa acriana consultar o outro lado, em especial as instituições citadas e profissionais da Engenharia Florestal para discutir o assunto.


Edivan Lima


Metas ousadas para a COP 21? Nem tanto




* Ecio Rodrigues
Consideradas ousadas até por ambientalistas, as metas que o Brasil apresentará para negociação no âmbito da 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima são, no máximo, provocativas. 
Para explicar melhor. Todas as 196 nações associadas ao sistema ONU devem apresentar e negociar, na COP 21 – a ser realizada em dezembro em Paris, França –, metas para redução de seus níveis de produção de carbono.
Duas datas são importantes na negociação. A primeira assinala o ano de 1992, quando foi assinada a Convenção sobre Mudanças no Clima (durante a Rio 92), e estabelecidos os níveis de referência para a produção de carbono. A segunda define 2030 como prazo-limite para que os países cumpram suas metas, antes que as tragédias climáticas se tornem irremediáveis, e o equilíbrio do planeta entre em colapso.
Resumindo, significa que cada país deve determinar, em números, a quantidade de carbono que deixará de jogar na atmosfera até 2030, tendo como referência o que produzia em 1992.
Uma parte da ousadia brasileira, comemorada por ambientalistas nativos e estrangeiros, atém-se à quantificação. Provavelmente, o país é um dos primeiros, se não o primeiro país em desenvolvimento, a traduzir em números o que pretende fazer para contribuir com a redução das emissões de carbono.
Outra parte da ousadia, igualmente festejada, alude, por sua vez, ao volume da redução pretendida, estipulada em 37% da produção de gases de efeito estufa até 2025, e em 43% até 2030. Números expressivos, sem dúvida – tão expressivos que exigem maior prudência em sua análise.
Ocorre que uma das principais medidas para alcançar esses números diz respeito ao fim do desmatamento ilegal na Amazônia. Essa proposta, aparentemente audaciosa, embute na verdade duas constatações bastante inconvenientes: o desmatamento legal nunca será zerado; e o cerrado continuará dando lugar à soja e ao boi.
Sempre é bom reforçar que a meta se reporta ao desmatamento ilegal, aquele que contraria a legislação nacional há mais de 50 anos – no mínimo desde a aprovação do Código Florestal de 1965. Ao apontar o ano de 2030 como prazo para o fim do desmatamento ilegal, o Estado brasileiro está efetivamente assumindo que a ilegalidade será admitida por mais 15 anos, para só então vir a ser suprimida.
Outra medida essencial para o país cumprir o compromisso assumido na ONU contempla a ampliação do aproveitamento hidroelétrico, o que só pode ocorrer, claro, mediante a construção de novas hidrelétricas. Só no rio Tapajós, por exemplo, sete novas usinas previstas deverão ser licitadas, construídas e entrar em operação até 2030. Ora, se a construção da usina de Belo Monte já tem sido (equivocadamente, diga-se) duramente contestada pelos ambientalistas, o que dizer de outras tantas?
Finalmente, como terceira medida para reduzir sua produção de carbono, o Brasil se propõe a recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, no intuito de tornar essas áreas novamente produtivas e aumentar a criação de boi na Amazônia, sem desmate de novas florestas. Uma proposta que pode criar mais problemas que soluções.
A história econômica amazônica é farta em exemplos de políticas públicas voltadas para o aumento da produtividade da pecuária e que no final das contas ampliaram, em igual proporção, o desmatamento. O persistente aumento da taxa de desmatamento no Acre, enquanto se observa sua redução no restante da Amazônia, certamente é resultado desse tipo de diretriz.
Controvérsias à parte, aos que comemoraram as metas faz-se um importante alerta: ampliar o valor da floresta na Amazônia é, e sempre foi, a única saída.
Sendo um momento de decisão planetária, a COP 21 representa a oportunidade de os países avançarem na busca de uma economia que substitua o petróleo e amplie a área de florestas. Essa é a meta!          

* Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

Projeto Igarapé Santa Rosa em Xapuri conclui saneamento ambiental




* Ecio Rodrigues
Há mais de cinco anos, um conjunto de instituições – Oscip Andiroba, Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre, Instituto de Ciência e Tecnologia (Ifac - Campus Xapuri), Fundação Banco do Brasil, Prefeitura de Xapuri, Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Associação de Moradores do Bairro Bolívia, capitaneadas pelo Fundo Mundial para Vida Silvestre, o WWF da sigla em inglês – vem se concentrando no esforço de recuperar o Santa Rosa, igarapé localizado em Xapuri, no Estado do Acre.
Duas metodologias foram testadas – com sucesso, diga-se – para reverter as acentuadas condições de degradação verificadas naquele tributário do Rio Acre, que é considerado o principal canal de drenagem de águas pluviais em Xapuri.
Ocorre que, numa situação bastante comum nas cidades da Amazônia, sobretudo em capitais como Rio Branco, Manaus e Belém, o Santa Rosa sofreu com o processo irregular e não planejado de ocupação, tanto em seu trajeto urbano quanto rural: ao longo do igarapé, a criação de gado destruiu a mata ciliar na zona rural, e o esgoto sem tratamento comprometeu a qualidade da água na área urbana.
Na zona rural, em todas as propriedades cortadas pelo igarapé, é visível o desmatamento da mata ciliar e o adiantado processo erosivo do solo.
A solução encontrada pelos pesquisadores foi promover a restauração florestal da mata ciliar, o que melhora, de forma rápida, a vazão de cursos d’água comprometidos, possibilitando o resgate de seu equilíbrio hidrológico.
Dessa forma, deu-se início à Fase I do Projeto Igarapé Santa Rosa. Assumindo-se como referência a tecnologia concebida no âmbito do Ciliar Só-Rio Acre, projeto de pesquisa aprovado em edital do CNPq e executado pelos engenheiros florestais da Ufac, espécies nativas presentes na floresta xapuriense foram plantadas na faixa de mata ciliar do igarapé.
Mas, de nada adiantaria a restauração florestal da mata ciliar se o esgoto domiciliar despejado no Santa Rosa em seu trajeto urbano não passasse por tratamento sanitário. Esse foi o objetivo da Fase II do projeto – vale dizer, mediante a limpeza do esgoto doméstico, pretende-se promover uma redução drástica nos níveis de degradação observados na água que flui no leito do igarapé.
Por meio do emprego da “fossa séptica”, uma técnica simplificada de saneamento ambiental reconhecida pela Rede de Tecnologia Social, foi possível, com recursos financeiros oriundos da Fundação Banco do Brasil, atender 100% das residências localizadas na área de influência do Santa Rosa.
Com a instalação de um total de 270 fossas sépticas, todo o esgoto domiciliar despejado no igarapé começa a ser tratado de maneira simples e barata. Para se ter uma ideia, cada unidade domiciliar custa em média 800 reais, incluindo despesas com instalação.
Por sinal, a perícia adquirida pelos xapurienses na instalação dessa tecnologia é um dos expressivos ganhos da experiência, já que todos os trabalhadores foram contratados no próprio local. Ademais, os equipamentos e insumos necessários à instalação das fossas sépticas também foram negociados no município, o que permitiu lançar na economia de Xapuri, em 2015, cerca de 500 mil reais.
Em reunião com os envolvidos, realizada no Ifac de Xapuri com objetivo de discutir o término da instalação das fossas sépticas, os pesquisadores aventaram a realização de uma eventual Fase III, voltada para realizar monitoramento da água e do crescimento das espécies cultivadas na mata ciliar.
A conclusão dos partícipes é que a experiência não deve se restringir ao Santa Rosa, deve ser repetida em outras localidades. Afinal, numa região como a Amazônia, o que não falta é demanda para restauração de igarapés.

* Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.