domingo, 3 de junho de 2018

Diesel subsidiado influenciará desmatamento na Amazônia


* Ecio Rodrigues
Políticos populistas subiram no palanque em favor dos pobres caminhoneiros, que não conseguem pagar o combustível nem o pedágio das rodovias – cuja manutenção, diga-se de passagem, tem custos elevados para toda a sociedade justamente por causa dos caminhões.
Ganharam, de pronto, o apoio igualmente entusiasmado de um jornalismo irresponsável, que nunca consegue explicar o que é, de fato, importante para o país – como se existissem somente interesses do governo e da oposição.
Embalada pela narrativa do coitadinho que precisa da ajuda do governo, não do país, a sociedade – ou a opinião pública, como se diz – saiu em defesa de uma existência romântica e cheia de aventuras pelas estradas da vida, e que estava sendo destruída pelo preço do diesel.
Todos se uniram na grita em torno da culpa do malvado presidente da outrora falida e agora recuperada Petrobras e, como não poderia deixar de ser, contra o governo, que foi acusado de ser fraco e irresponsável (para dizer o mínimo).
Por sinal, o governo demonstrou habilidade e paciência para negociar com caminhoneiros intransigentes, que, externando uma incapacidade assustadora (para dizer o mínimo) de interpretação da realidade brasileira, chegaram a clamar por intervenção militar(!) – sem parar para pensar que as ditaduras militares não são lá muito complacentes com esse tipo de “manifestação”.
É provável que a avaliação mais realista e pertinente sobre as causas desse evento desastroso tenha sido empreendida pelo articulista Samuel Pessôa, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, que, em sua coluna dominical no jornal “Folha de São Paulo”, observou:
“O programa de crédito muito barato [para compra de caminhões com subsídio do BNDES, iniciado em novembro de 2009] persistiu até o primeiro mandato da presidente Dilma. De 2009 até hoje a frota de caminhões aumentou 40%. A economia, no mesmo período, cresceu 11%”.
Ou seja, uma ação populista ocasionou a explosão de oferta no serviço de transporte, derrubando o preço do frete e levando o preço do diesel a ter uma participação maior na planilha de custo do frete.
Parece claro que decisões erradas de política econômica, levadas a cabo durante os governos encabeçados por partidos ditos de esquerda (os mesmos que, aliás, maldizem o atual governo) arrastaram o país a uma crise sem precedentes, a pior em mais de 100 anos. Não à toa, o PIB bateu recorde negativo de quase 4%, nos anos de 2015 e 2016, algo inédito na história nacional.
Decisões como o controle de preços de combustíveis por decreto deixaram de considerar regra elementar, preconizada pela teoria econômica, a da curva de oferta e demanda: quem dita o preço de um bem ou serviço é o mercado, e nunca – nunca! – a burocracia estatal.
Os prejuízos para a sociedade brasileira serão bem mais expressivos, por certo, que o dinheiro a ser deslocado de áreas como educação e saúde para acertar a diferença entre o que os caminhoneiros aceitam pagar e o preço de mercado do diesel. Ou, ainda, para pagar as compensações devidas às concessionárias de pedágio, por conta da gratuidade concedida aos caminhões sem carga.
No caso da Amazônia, sendo o diesel um dos principais itens de custo da indústria do desmatamento, em especial o desmatamento legalizado pelo Código Florestal, podemos nos preparar para o pior.
Até porque estamos em período eleitoral, quando o populismo para angariar apoio dos pecuaristas chega ao auge, sobretudo nos estados de economia frágil, como o Acre.
No fim das contas, a sociedade vai pagar pelo diesel consumido no desmatamento da Amazônia.  Mas, quem quer saber disso?


*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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