* Ecio Rodrigues
Está nas florestas a solução para a maioria dos
problemas relacionados ao aquecimento do planeta. Essa foi a conclusão mais
importante do Congresso Florestal Mundial, evento realizado na África do Sul em
setembro de 2015. Conclusões que, por sua vez, serão levadas em dezembro para a
COP 21, em Paris, na França. Conclusões que podem tornar intolerável todo
desmatamento na Amazônia - seja legal ou ilegal. Aos amazônidas restam duas
opções: esperar para ver ou se antecipar. Mas antecipar-se às resoluções
mundiais é algo impensável para os políticos daqui e do momento.
Fonte: ADV
Tendo
contado com mais de quatro mil participantes oriundos de 142 diferentes países,
o Congresso Florestal Mundial, encerrado em 11 de setembro último na África do Sul,
destacou a relação cientificamente comprovada entre a conservação das
florestas, o equilíbrio do clima e a redução da fome no mundo.
O
congresso, que é realizado a cada seis anos e organizado pela FAO (Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), discutiu o papel da
tecnologia do manejo florestal na produção de um leque de produtos e serviços
oriundos do ecossistema florestal.
A
ideia central, que pode ser facilmente assimilada no documento final aprovado
pelos participantes – intitulado “Declaração de Durban”, numa referência à
cidade onde aconteceram os debates – é que as formações florestais têm papel decisivo
no equilíbrio do clima e no combate à fome.
No
intuito de definir um cenário mundial para as florestas em 2050, o evento analisou
o desflorestamento (ou perda de formações florestais) ocorrido no mundo desde
1990 – em contraposição ao surgimento de florestas plantadas.
O
balanço correspondente ao período entre 1990 e 2015 é desalentador. As
estatísticas indicam a perda de nada menos que 129 milhões de hectares de
florestas, área equivalente ao tamanho do território da África do Sul, um dos
países africanos de maior extensão. Nem precisa dizer que, principalmente em
função dos altos índices de desmatamento observados na Amazônia, a participação
brasileira nesse cenário é bastante acentuada.
A
boa notícia é que os dados apontam tendência de queda no desmatamento em todo o
mundo. Ainda de acordo com a FAO, enquanto na década de 1990 a taxa anual de
desmatamento no mundo era de 0,18%, atualmente a perda de florestas encontra-se
na faixa de 0,08% ao ano.
Outra
conclusão significativa assumida pelos participantes diz respeito à adoção, em
larga escala, das diretrizes do manejo florestal de uso múltiplo. O congresso reforçou
o princípio de que o ecossistema florestal pode ser manejado para produzir
alimentos, energia, água, e também para retirar carbono da atmosfera, melhorar
a paisagem, disponibilizar áreas voltadas para recreação, atividades
espirituais etc.
Trata-se
de um rol quase inesgotável de produtos e serviços que apresentam dois atributos
valorizados e priorizados pelo mundo contemporâneo: são sustentáveis e
acessíveis às comunidades de baixa renda.
Significa
dizer que as florestas podem garantir um conjunto de atividades econômicas que,
em face de suas características intrínsecas, não exaurem o recurso florestal
nem põem em risco de extinção espécies da flora e da fauna.
Por
outro lado, o manejo das florestas para a oferta de múltiplos produtos e
serviços não exige do pequeno produtor, em especial o que vive no interior da
floresta, habilidades complexas e distantes da realidade vivenciada por sua
família.
Pelo
contrário. As experiências de manejo florestal comunitário direcionadas para a produção
de madeira e de outros produtos florestais levadas a cabo na Amazônia e
especialmente no Acre demonstram, sem deixar qualquer tipo de dúvida, o
potencial dessa atividade na geração de renda sem pôr em risco o recurso
florestal.
Levar
as discussões do Congresso Florestal Mundial para a COP 21, conferência da ONU
sobre mudanças climáticas que acontecerá em Paris, França, em dezembro próximo,
certamente é prioridade para a FAO e para os participantes.
Afinal,
na COP 21 os países aprovarão resoluções sobre o desmatamento e as florestas. Resoluções
que podem mudar definitivamente a cena amazônica.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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