* Ecio Rodrigues
Há
mais de cinco anos, um conjunto de instituições – Oscip Andiroba, Engenharia Florestal
da Universidade Federal do Acre, Instituto de Ciência e Tecnologia (Ifac -
Campus Xapuri), Fundação Banco do Brasil, Prefeitura de Xapuri, Secretaria
Estadual de Meio Ambiente e Associação de Moradores do Bairro Bolívia, capitaneadas
pelo Fundo Mundial para Vida Silvestre, o WWF da sigla em inglês – vem se concentrando
no esforço de recuperar o Santa Rosa, igarapé localizado em Xapuri, no Estado
do Acre.
Duas
metodologias foram testadas – com sucesso, diga-se – para reverter as
acentuadas condições de degradação verificadas naquele tributário do Rio Acre, que
é considerado o principal canal de drenagem de águas pluviais em Xapuri.
Ocorre
que, numa situação bastante comum nas cidades da Amazônia, sobretudo em capitais
como Rio Branco, Manaus e Belém, o Santa Rosa sofreu com o processo irregular e
não planejado de ocupação, tanto em seu trajeto urbano quanto rural: ao longo do
igarapé, a criação de gado destruiu a mata ciliar na zona rural, e o esgoto sem
tratamento comprometeu a qualidade da água na área urbana.
Na
zona rural, em todas as propriedades cortadas pelo igarapé, é visível o desmatamento
da mata ciliar e o adiantado processo erosivo do solo.
A
solução encontrada pelos pesquisadores foi promover a restauração florestal da
mata ciliar, o que melhora, de forma rápida, a vazão de cursos d’água
comprometidos, possibilitando o resgate de seu equilíbrio hidrológico.
Dessa
forma, deu-se início à Fase I do Projeto Igarapé Santa Rosa. Assumindo-se como
referência a tecnologia concebida no âmbito do Ciliar Só-Rio Acre, projeto de
pesquisa aprovado em edital do CNPq e executado pelos engenheiros florestais da
Ufac, espécies nativas presentes na floresta xapuriense foram plantadas na
faixa de mata ciliar do igarapé.
Mas,
de nada adiantaria a restauração florestal da mata ciliar se o esgoto
domiciliar despejado no Santa Rosa em seu trajeto urbano não passasse por
tratamento sanitário. Esse foi o objetivo da Fase II do projeto – vale dizer,
mediante a limpeza do esgoto doméstico, pretende-se promover uma redução
drástica nos níveis de degradação observados na água que flui no leito do
igarapé.
Por
meio do emprego da “fossa séptica”, uma técnica simplificada de saneamento
ambiental reconhecida pela Rede de Tecnologia Social, foi possível, com
recursos financeiros oriundos da Fundação Banco do Brasil, atender 100% das
residências localizadas na área de influência do Santa Rosa.
Com
a instalação de um total de 270 fossas sépticas, todo o esgoto domiciliar
despejado no igarapé começa a ser tratado de maneira simples e barata. Para se
ter uma ideia, cada unidade domiciliar custa em média 800 reais, incluindo despesas
com instalação.
Por
sinal, a perícia adquirida pelos xapurienses na instalação dessa tecnologia é
um dos expressivos ganhos da experiência, já que todos os trabalhadores foram
contratados no próprio local. Ademais, os equipamentos e insumos necessários à
instalação das fossas sépticas também foram negociados no município, o que
permitiu lançar na economia de Xapuri, em 2015, cerca de 500 mil reais.
Em
reunião com os envolvidos, realizada no Ifac de Xapuri com objetivo de discutir
o término da instalação das fossas sépticas, os pesquisadores aventaram a realização
de uma eventual Fase III, voltada para realizar monitoramento da água e do
crescimento das espécies cultivadas na mata ciliar.
A
conclusão dos partícipes é que a experiência não deve se restringir ao Santa
Rosa, deve ser repetida em outras localidades. Afinal, numa região como a
Amazônia, o que não falta é demanda para restauração de igarapés.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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