quarta-feira, 2 de julho de 2014

Copa do Mundo e sustentabilidade


* Ecio Rodrigues

Embora os governos anunciem, ou declarem, certa preocupação com os impactos ambientais decorrentes da realização de eventos de grande porte, como a Copa do Mundo de Futebol que está acontecendo no Brasil, são raros os casos em que chegam a ser realizadas ações concretas em prol da sustentabilidade do planeta.

Os impactos dos grandes eventos se relacionam, com o perdão do trocadilho, ao aquecimento da economia (no local onde o evento acontece), ocasionado por um grande número de indivíduos que precisam beber, comer, dormir, locomover-se, vestir-se, divertir-se.

Essa ampliação do consumo requer, por sua vez, maior esforço produtivo para ofertar os produtos e serviços demandados. Parece claro, portanto, que haverá maior demanda por energia, e que uma quantidade atípica de carbono será lançada na atmosfera.

Como se sabe, o carbono é o elemento químico considerado chave para a ocorrência do efeito estufa, fenômeno que aquece o planeta e causa as mudanças no clima – o que, enfim, traz como consequência as alagações, secas, tsunamis, somente para ficar nas tragédias mais comuns.    

Calcular a quantidade de carbono depositada na atmosfera por conta de um grande evento esportivo não é tarefa fácil. Trata-se de um cômputo complexo, mas que pode ser aferido por metodologias já consagradas. É possível aferir quanto de carbono será produzido a mais, tanto no local do evento, o que é mais simples, quanto no planeta como um todo, o que exige maior esforço matemático.

Ocorre que as pessoas, no seu cotidiano, normalmente consomem uma quantidade esperada de produtos e serviços. Todavia, nos períodos em que acontecem uma Copa do Mundo de Futebol ou uma Olimpíada, obviamente o consumo se amplia, majorando, por seu turno, a produção de carbono. A diferença na quantidade de toneladas de carbono produzido pode ser, cientificamente, encontrada.

Ora, se é possível calcular a quantidade de carbono que foi produzida além do costumeiro no sistema produtivo, também é possível quantificar o investimento necessário para a execução de procedimentos com objetivo de retirar (ou sequestrar, como preferem alguns) esse carbono extra da atmosfera e, desse modo, zerar-se o balanço associado à realização do evento.

Mas aí, nesse ponto, o caminho para a sustentabilidade se perde.

Grosso modo falando, existem duas maneiras de se retirar carbono da atmosfera: pela via do controle ou da filtragem do carbono produzido na indústria, no intuito de retê-lo na origem; ou por meio do plantio de árvores.

Como se trata a filtragem de um sistema caro, geralmente as unidades produtivas, seja uma pequena fábrica ou uma grande indústria, não estão dispostas ou não têm capacidade orçamentária para realizar o necessário investimento.

O plantio de árvores, por ouro lado, é a forma mais rápida e eficiente de sequestro do carbono da atmosfera, além de ser de mais fácil monitoramento pelos órgãos de controle. Mediante a implantação de uma floresta, o carbono volta para o sistema produtivo, incorporado nas árvores na forma de lenho, ou madeira.

Discute-se interminavelmente se essas árvores plantadas com objetivo de retirar carbono da atmosfera devem ter ou não aproveitamento comercial. Contudo, o que é mesmo importante, vale dizer, a condição imprescindível para o resgate da sustentabilidade relacionada ao evento esportivo é que as árvores sejam, efetivamente, plantadas. E isso quase sempre não acontece.

Na maioria das vezes, as atenções se voltam para questões como coleta seletiva e reciclagem do lixo. E, assim, a preocupação dos governos se resume aos anúncios.

 

* Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

 

 

 

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