* Ecio Rodrigues
Embora os governos anunciem, ou declarem, certa preocupação com os
impactos ambientais decorrentes da realização de eventos de grande porte, como
a Copa do Mundo de Futebol que está acontecendo no Brasil, são raros os casos
em que chegam a ser realizadas ações concretas em prol da sustentabilidade do
planeta.
Os impactos dos grandes eventos se relacionam, com o perdão do
trocadilho, ao aquecimento da economia (no local onde o evento acontece),
ocasionado por um grande número de indivíduos que precisam beber, comer,
dormir, locomover-se, vestir-se, divertir-se.
Essa ampliação do consumo requer, por sua vez, maior esforço produtivo
para ofertar os produtos e serviços demandados. Parece claro, portanto, que haverá
maior demanda por energia, e que uma quantidade atípica de carbono será lançada
na atmosfera.
Como se sabe, o carbono é o elemento químico considerado chave para a
ocorrência do efeito estufa, fenômeno que aquece o planeta e causa as mudanças
no clima – o que, enfim, traz como consequência as alagações, secas, tsunamis,
somente para ficar nas tragédias mais comuns.
Calcular a quantidade de carbono depositada na atmosfera por conta de um
grande evento esportivo não é tarefa fácil. Trata-se de um cômputo complexo,
mas que pode ser aferido por metodologias já consagradas. É possível aferir
quanto de carbono será produzido a mais, tanto no local do evento, o que é mais
simples, quanto no planeta como um todo, o que exige maior esforço matemático.
Ocorre que as pessoas, no seu cotidiano, normalmente consomem uma
quantidade esperada de produtos e serviços. Todavia, nos períodos em que
acontecem uma Copa do Mundo de Futebol ou uma Olimpíada, obviamente o consumo
se amplia, majorando, por seu turno, a produção de carbono. A diferença na
quantidade de toneladas de carbono produzido pode ser, cientificamente,
encontrada.
Ora, se é possível calcular a quantidade de carbono que foi produzida
além do costumeiro no sistema produtivo, também é possível quantificar o
investimento necessário para a execução de procedimentos com objetivo de retirar
(ou sequestrar, como preferem alguns) esse carbono extra da atmosfera e, desse
modo, zerar-se o balanço associado à realização do evento.
Mas aí, nesse ponto, o caminho para a sustentabilidade se perde.
Grosso modo falando, existem duas maneiras de se retirar carbono da
atmosfera: pela via do controle ou da filtragem do carbono produzido na
indústria, no intuito de retê-lo na origem; ou por meio do plantio de árvores.
Como se trata a filtragem de um sistema caro, geralmente as unidades
produtivas, seja uma pequena fábrica ou uma grande indústria, não estão
dispostas ou não têm capacidade orçamentária para realizar o necessário investimento.
O plantio de árvores, por ouro lado, é a forma mais rápida e eficiente de
sequestro do carbono da atmosfera, além de ser de mais fácil monitoramento
pelos órgãos de controle. Mediante a implantação de uma floresta, o carbono
volta para o sistema produtivo, incorporado nas árvores na forma de lenho, ou
madeira.
Discute-se interminavelmente se essas árvores plantadas com objetivo de
retirar carbono da atmosfera devem ter ou não aproveitamento comercial. Contudo,
o que é mesmo importante, vale dizer, a condição imprescindível para o resgate
da sustentabilidade relacionada ao evento esportivo é que as árvores sejam,
efetivamente, plantadas. E isso quase sempre não acontece.
Na maioria das vezes, as atenções se voltam para questões como coleta
seletiva e reciclagem do lixo. E, assim, a preocupação dos governos se resume aos
anúncios.
*
Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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