* Ecio Rodrigues
A realização da Copa do Mundo de futebol ampliará a contribuição do Brasil
para a emissão de carbono na atmosfera. Até há pouco tempo, uma frase como essa
não fazia o menor sentido: o fato de um país sediar um grande evento esportivo
significava tão somente uma expressiva promoção da dinâmica econômica, o que,
por sua vez, importaria em potencial melhora nas condições de vida.
Hoje, entretanto, existe uma crescente preocupação com a crise ecológica
acarretada pelo aquecimento do planeta – que é determinado, por seu turno, pelo
aumento da concentração de carbono e outros gases causadores do efeito estufa,
o que, por conseguinte, traz alterações significativas no clima e, enfim,
amplia os riscos de ocorrência de tragédias como alagação, furacões, seca e
tsunamis (apenas para ficar nas mais comuns).
Ou seja, sem embargo das melhorias econômicas carreadas por um evento da
dimensão da Copa do Mundo, o fato é que a percepção inequívoca de geração de
riqueza vem perdendo espaço para uma preocupação cada vez maior, relacionada com
a sustentabilidade.
Querendo sair bem na foto, o governo brasileiro tem se esforçado para
demonstrar que a realização da Copa não trará prejuízos para a sustentabilidade
do planeta. Não obstante, aposta suas fichas em medidas anódinas, como obras de
urbanização (incluindo-se até mesmo a construção de hotéis); troca de créditos
de carbono entre empresas (algo de finalidade incompreensível); e, ainda, coleta
seletiva de lixo. Sempre sob exaltações românticas à natureza que não levam a
lugar nenhum e que já não convencem.
Prefere-se esse jogo de cena a investir-se em projetos que de fato
promovam a sustentabilidade, mediante ações destinadas a zerar o carbono extra
lançado na atmosfera por conta da realização do evento.
De outra banda, embora não se duvide que a forma mais eficiente para
retirar o carbono da atmosfera e imobilizá-lo no sistema econômico seja o
plantio de florestas, no âmbito dessa questão os ambientalistas discordam sobre
os pontos mais elementares – por exemplo, a escolha da respectiva área para a
implantação da floresta e das espécies a serem cultivadas.
As zonas periurbanas, onde existam áreas degradadas pela ocupação
antrópica desordenada, o que ocorre na maioria das metrópoles com mais de 500
mil habitantes, deveriam ser priorizadas para o plantio de novas formações
florestais. Da mesma maneira, regiões deterioradas, localizadas próximas ou na
área de influência de bacias hidrográficas.
Quanto às espécies florestais, muitos defendem o cultivo de espécies nativas,
por considerar que as exóticas, como eucalipto e pinus, causam impactos no
solo, na fauna e na água. Trata-se de um juízo equivocado, e a quantidade
significativa de áreas de florestas formadas com essas espécies só demonstra a
importância delas.
Diga-se, ademais, que – ainda que mais atraente – o plantio de espécies
nativas é também extremamente mais complicado. Essas árvores costumam ser bem
mais exigentes quanto ao solo e, o pior, quanto aos cuidados necessários para se
estabelecerem, o que aumenta significativamente os custos do plantio.
Outro ponto polêmico diz respeito ao aproveitamento das árvores depois
que atingem a maturidade. Florestas não são ociosas, elas prestam serviços
cruciais para a sociedade, que podem ser de natureza paisagística ou de fornecimento
de alguma matéria-prima, como é o caso da madeira.
De qualquer forma, a despeito das controvérsias, o mais importante é que
novas florestas sejam, efetivamente, plantadas. E disso, nenhum governo quer
saber.
*
Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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