domingo, 25 de agosto de 2013

Características exclusivas garantem demanda para o cacau nativo



* Ecio Rodrigues
Nem sempre a domesticação de uma espécie florestal que adquire valor comercial expressivo é a única ou a melhor saída. Domesticar significa retirar a espécie do interior do ecossistema florestal para cultivá-la em espaço aberto, sob alta produtividade e em larga escala. Significa também intensificar os estudos em melhoramento genético, a fim de clonar a espécie florestal, tornando-a mais produtiva.
A domesticação teve o grande mérito, é verdade, de praticamente suprimir a fome no mundo. O procedimento vem sendo levado a efeito, diuturnamente e com relativo sucesso, para todas as espécies que compõem a cesta de alimentação básica da humanidade.
Todavia, no caso das espécies florestais, a experiência demonstra que existe uma demanda permanente para o produto obtido mediante o manejo da espécie no interior do ecossistema florestal. Esse produto encontra público garantido, um nicho de mercado que resiste ao consumo massificado do produto derivado da domesticação.
Na falta de uma explicação melhor, tudo indica que algumas características exclusivas, presentes na espécie em ocorrência natural no ecossistema florestal, fornecem certos atributos ao produto final, que, por sua vez, fazem com que um seleto grupo de consumidores mantenha sua demanda.
É provável que o melhor exemplo seja o do cacau nativo amazônico. Com uma produção expressiva desde o período posterior ao descobrimento do país, e que perdurou por mais de 300 anos, o cacau nativo passou pelo processo de inelasticidade da oferta até que a domesticação foi viabilizada.
Assim, sob elevados investimentos estatais, o cacau amazônico foi cultivado em outras regiões do país. Esperava-se que as pragas existentes na Amazônia, como o fungo causador da doença conhecida por “vassoura-de-bruxa”, não chegassem às regiões consideradas de escape – o caso de Ilhéus, na Bahia –, em que as condições climáticas, entre outros fatores, não seriam favoráveis à proliferação do micro-organismo.
Para encurtar a história: em que pese todo o investimento feito no cultivo do cacau, e não obstante o fato de o mercado para o chocolate produzido com o cacau de cultivo ser vultoso e preponderante, o cacau nativo amazônico continua sendo demandado e permanece no mercado, contrariando todas as evidências. Essa circunstância só pode ser explicada por razões que remetem a características exclusivas presentes nas espécies nativas.
Essas características exclusivas podem proporcionar melhorias relacionadas à percepção sensitiva do chocolate oriundo do cacau nativo, que o diferenciam do chocolate proveniente do cacau domesticado.
Como os europeus afirmam, o cacau nativo amazônico possui “flavour” (misto de sabor e aroma) superior ao do cacau cultivado e que, ao longo do tempo, passou por melhoramentos para se tornar mais produtivo. Como se sabe, a produtividade é o principal atributo para o mercado massificado.
A conclusão é que o mercado massificado, que requer uma grande escala de produção, pode ser atendido pela domesticação da espécie em cultivos, e até mesmo, como no caso da borracha, pela sua substituição por sintéticos (leia-se indústria do petróleo).
Todavia, quando a demanda busca certas especificidades num determinado produto oriundo de uma espécie florestal – concernentes ao sabor, à aparência, ao aroma ou aos coeficientes técnicos desse produto –, surgem nichos de mercado que mantêm o consumo da espécie florestal manejada em seu ambiente nativo, ou melhor, do produto extraído das árvores dispersas no interior da floresta.
O cacau amazônico, extraído da floresta nativa, apresenta menor escala de produção e alcança maior preço de mercado. O que é melhor para a Amazônia?
  
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Engenharia Florestal da Ufac é finalista de prêmio do Banco do Brasil

O projeto “Manejo Florestal Comunitário do Cacau Nativo do Purus: Extensão Tecnológica para Adoção”, desenvolvido nos últimos seis anos por professores e estudantes do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre (Ufac), numa área que vai de Sena Madureira-AC a Lábrea-AM, acaba de tornar-se um dos 30 finalistas do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, 7ª edição.
Entre os estudos realizados, desde 2007, pela equipe da Ufac sobre a incidência do cacau na área referida, destacam-se o mapeamento da dispersão do fruto com imagem de satélite, o inventário florestal da área de ocorrência, a logística da produção da semente, os dados referentes à sócio economia da população extrativista envolvida na produção, a genética dos cacaueiros e o teste dos protocolos de manejo.
Engenharia Florestal da Ufac é finalista de prêmio do Banco do Brasil
“Todos esses estudos são subsidiários ao Plano de Manejo Florestal Comunitário, documento que tem duas finalidades importantes: servir de referência para a cooperativa dos cacauicultores gerenciar toda produção e chegar às 40 toneladas de cacau nativo demandadas; e possibilitar o licenciamento ambiental de toda cadeia produtiva do cacau nativo do Purus”, explicou o professor Ecio Rodrigues, coordenador do projeto.
“Outra coisa interessante a ser dita, com respeito a esse projeto”, ainda no dizer de Rodrigues, “é que a Ufac não está sozinha nesse empreendimento, contando com um leque variado de parcerias institucionais, entre as quais se incluem a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), a Universidade de Freiburg, da Alemanha, e a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac)”.
Recorde de inscrições
O Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social recebeu, nesta 7ª edição, 1.011 inscrições de iniciativas sociais vindas de todas as regiões do país. O número é 93,3% maior do que o registrado na primeira edição, realizada em 2001. Naquele ano, foram inscritos 523 projetos.
Em 12 anos, por meio do prêmio, a fundação identificou, premiou e certificou como “Tecnologia Social” diversas iniciativas que hoje compõem o Banco de Tecnologias Sociais (BTS), uma base de dados on-line disponível para acesso. O tema educação recebeu o maior número de inscrições (457) em 2013, seguido de renda (219), meio ambiente (137), saúde (75), alimentação (64), recursos hídricos (35), habitação (14), e energia (10). A região Sudeste apresentou o maior número de iniciativas sociais inscritas (409).
Para ser certificado como “Tecnologia Social”, o projeto inscrito deve corresponder aos critérios de reaplicabilidade, efetividade da transformação social, interação com a comunidade, ter sido implementado há pelo menos um ano e contemplar, no mínimo, uma das seguintes dimensões: protagonismo social;  respeito cultural;  cuidado ambiental; e  solidariedade econômica. O certificado é concedido pela Fundação Banco do Brasil, em conjunto com a Petrobras e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).
Postado em: 20/8/2013
Fonte: http://www.ufac.br/portal/engenharia-florestal-da-ufac-e-finalista-de-premio-do-banco-do-brasil

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Novos indicadores sociais dos manejadores de cacau nativo do Purus

Nos últimos 3 anos uma equipe de pesquisadores oriundos da Universidade Federal do Acre, da Unesp e da Universidade de Freiburg, da Alemanha, se envolveram no estudo das características sociais e econômicas presentes na população de ribeirinhos do Rio Purus que se dedicam ao extrativismo do cacau nativo.
Com apoio do CNPq, que em 2007 aprovou projeto com orçamento equivalente a R$ 200.000,00, foi possível realizar um amplo processo de levantamento estruturado em 6 estudos principais: mapeamento da dispersão do cacau nativo com imagem de satélite, inventário florestal da área de ocorrência, logística de produção da semente de cacau, socio-economia da população extrativista envolvida na produção, genética dos cacaueiros e, por último, teste dos protocolos de manejo.

Considerado um dos estudos de maior importância para entender a realidade vivenciada no Purus, o estudo de socioeconomia procurou dividir a população de acordo com as especificidades de cada trecho do Purus.

Os novos indicadores, objeto de monografia de conclusão de curso defendida pelo, agora, Engenheiro Florestal ZULMIRO FELIX DE AMORIM NETO (foto ao lado: a partir da esquerda: Israell Melo, Aldenor Fernandes, Zulmiro Felix e Ecio Rodrigues) mostram claramente que tal qual a imensa diversidade biológica a realidade social e econômica também é diversa.

Como indica o título do estudo: SOCIOECONOMIA DOS MANEJADORES DE CACAU NATIVO DO PURUS: DO SANTO ELIAS AO CANACURÍ, AMAZONAS, o cotidiano nesse trecho do Purus apresentou surpresas que contrariam o senso comum: os indicadores sociais e econômicos melhoram à medida que se afasta da influencia dos maiores centros urbanos, como o do município de Boca do Acre, por exemplo.

Todos esses estudos são subsidiários ao Plano de Manejo Florestal Comunitário, documento que tem duas finalidades importantes: servir de referencia para Cooperar gerenciar toda produção e chegar às 40 toneladas de cacau nativo demandadas; e, possibilitar o licenciamento ambiental de toda cadeia produtiva do cacau nativo do Purus.

O Plano foi concluído e entregue à Cooperar em outubro último e inicia-se agora uma nova e decisiva etapa para produção familiar do cacau nativo do Purus, a de implementação do Plano.

Fonte: http://www.andiroba.org.br

Cacau gera renda em comunidades de Boca do Acre e Pauini. Matéria-prima serve à fabricação de chocolate na Alemanha

A comunidade Maracaju, na Reserva Extrativista (Resex) Arapixi, no interior de Boca do Acre, recebeu a visita de representantes de diversas instituições federais, estaduais, municipais e de produtores, que participaram da expedição Cacau Nativo do Purus. O grupo conheceu também outras três comunidades ribeirinhas da região – Prainha, Santo Elias e Fazenda São Sebastião, esta última localizada no entorno da Floresta Nacional (Flona) do Purus.
Com a expedição, as instituições pretendem integrar esforços para fortalecer a cadeia produtiva do cacau nativo na região. A produção será realizada por meio do manejo, organização comunitária e beneficiamento do produto nas próprias comunidades. Os organizadores acreditam que a medida resultará na geração de trabalho e renda e em aumento de produtividade, de eficiência e de qualidade do produto.
A várzea do rio Purus é pioneira no extrativismo do cacau nativo. Desde 2006, a Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar) contribui com a exportação do produto para a empresa de chocolates especiais Hachez (Alemanha).
A cooperativa compra os frutos de cacau nas comunidades ribeirinhas e os transporta (inteiros ou apenas as sementes com polpa) para serem beneficiados em quatro unidades produtivas centrais. Para garantir a qualidade do produto, as unidades localizam-se em área estratégicas.
No último ano, a cooperativa produziu cerca de 42 toneladas de cacau seco. No processo, foram envolvidos 553 extrativistas de 132 comunidades ribeirinhas dos municípios de Boca do Acre, Pauini e Lábrea (AM).
A Resex Arapixi é uma das principais áreas produtivas envolvidas no projeto. Em 2011, 72 extrativistas de 11 comunidades coletaram cerca de 440 mil frutos, equivalentes a aproximadamente 11 toneladas de cacau seco.
Alagação de 2012 compromete a produção
Os moradores da comunidade Santo Elias, margem esquerda do rio Purus, já no município de Pauini, disseram que alagação de deste ano prejudicou muito a produção. Segundo eles, a água invadiu os terrenos onde estão os pés de cacau, além de inundar e danificar as estruturas das estufas, que servem para a secagem do caroço.


Fonte: Portal do Purus
http://www.portaldopurus.com.br/index.php/melhores-noticias/6003-cacau-gera-renda-em-comunidades-de-boca-do-acre-e-pauini-materia-prima-serve-a-fabricacao-de-chocolate-na-alemanha

Reportagem Globo Repórter sobre o SuperAlimento Cacau

Cacau Nativo da Engenharia Florestal UFAC

domingo, 18 de agosto de 2013

A Domesticação Nem Sempre é a Melhor Saída



* Ecio Rodrigues
No âmbito da produção florestal, a opção pela domesticação de espécies de valor comercial é uma tendência de mercado. Essa tendência se concretiza quando existe uma demanda crescente pelo produto florestal, e a ocorrência da espécie em ambiente natural, dentro do ecossistema, proporciona oferta limitada, em vista da pequena quantidade de árvores dispersas por hectare.
Ante a inelasticidade da oferta, a ampliação da demanda pelo produto florestal força a inclusão de novas áreas no sistema produtivo até um determinado limite. Mantida a demanda crescente, mesmo após o novo limite de produção ter sido alcançado com a inclusão das novas áreas, o mercado começa a investir na domesticação da espécie, a fim de continuar o atendimento da demanda e ampliar os ganhos com a produção.
Trata-se de raciocínio relativamente simples e de fácil comprovação na história da ocupação produtiva da Amazônia e dos ciclos econômicos de alguns produtos florestais, como borracha, óleo de pau-rosa, pupunha, cupuaçu e, claro, cacau.
Essa relação de causa e efeito entre a inelasticidade da oferta e a domesticação decorrente do aumento da demanda, no caso das espécies florestais com importância comercial, foi muitas vezes abordada em documentos acadêmicos.
Todavia, nenhum desses estudos atentou para o fato de que a demanda pode assumir algumas especificidades, criando nichos de mercado para os produtos provenientes das árvores nativas, ou seja, das árvores que permanecem no ecossistema.
Acontece que, por razões variadas e de difícil aferição, as espécies florestais que se encontram no interior do ecossistema podem, ao longo de um permanente e ininterrupto ciclo de reprodução, manter e aprimorar características exclusivas, atraindo, para o produto florestal, um público específico, que busca justamente esse diferencial.
Ao que parece, há algum tipo de relação de interdependência com o ambiente, que faz com que essas características exclusivas sejam, como a própria expressão indica, exclusivas das árvores encontradas no ecossistema florestal.
O caso do látex usado como matéria-prima na produção de preservativos é um bom exemplo. Segundo estudos realizados pela fábrica de preservativos masculinos instalada no Município de Xapuri-AC, que produz a marca Natex, o látex oriundo do seringal nativo, isto é, o látex extraído das árvores de seringueira existentes na floresta nativa apresenta melhores coeficientes técnicos para a produção de preservativos, fornecendo maior resistência ao produto.
Como a resistência é uma característica importante para o preservativo, o produto confeccionado com o látex procedente dos seringais nativos tem sua demanda mantida pelo mercado – ou melhor, por um nicho do mercado de preservativos – pois, quando a mesma espécie é cultivada em seringais plantados essa característica exclusiva desaparece.
Significa que, embora o mercado dos preservativos oriundos das seringueiras cultivadas responda por mais de 95% do consumo desse produto, uma pequena parte dos consumidores irá permanecer no universo dos 5% que preferem os preservativos confeccionados a partir da borracha nativa.
Pode-se dizer então que, mesmo havendo uma demanda permanente pelas características exclusivas, o que impede a total e definitiva domesticação da espécie florestal, a quantidade de consumidores que valorizam essas características, a ponto de aceitar pagar a mais por elas, será sempre expressivamente inferior à quantidade de consumidores que continuam movimentando o mercado do cultivo. As características exclusivas, dessa forma, atendem não aos grandes mercados dos produtos florestais, mas a pequenos quinhões, a pequenos nichos desses mercados.
A domesticação não é a única resposta para os impasses econômicos da produção florestal. É possível gerar renda manejando a espécie no interior da floresta. Para a Amazônia, essa a melhor saída.
  
 * Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Cacau Nativo do Purus é Um dos Finalistas no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social.

O Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, criado em 2001, é o principal instrumento de identificação e certificação de tecnologias sociais que compõem o Banco de Tecnologias Sociais – BTS. Realizado a cada dois anos, o Prêmio tem por objetivo identificar, certificar, premiar e difundir tecnologias sociais já aplicadas, implementadas em âmbito local, regional ou nacional, que sejam efetivas na solução de questões relativas à alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos, renda e saúde. 
O Projeto Cacau Nativo do Purus do Curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre - UFAC tem se destacado pela inovação, tecnologia e implementação de um modelo de desenvolvimento sustentável na Amazônia, tornando-se referência a estudos de manejo florestal comunitário e usos múltiplos da floresta. Devido ao grande destaque e dimensão alcançada pelo projeto, outros estados tem buscado seguir este modelo, a exemplo de Rondônia na Floresta Nacional do Jamari. 
O projeto recebeu a visita do senhor Gerson Oscar representante do Banco do Brasil responsável pela a avaliação. O mesmo teve a oportunidade de conhecer a estrutura de beneficiamento e representantes das comunidades que trabalham com a exploração do cacau nativo em Boca do Acre – AM. Reuniu-se com a equipe responsável pelo projeto e conheceu um experimento que é realizado no parque Zoobotânico da UFAC que faz a avaliação do desempenho do cacau nativo em terra firme.