*Ecio Rodrigues
Da
geração que nasceu na década de 1960 e frequentou o ensino fundamental e médio
ofertado nas escolas públicas do regime militar, provavelmente são poucos os
que se lembram das aulas de educação física e artes. Lembram, contudo, das
partidas de futebol e do tempo dispensado cortando cartolina e montando painéis
com motes de moral e civismo.
Decerto
não era o que imaginavam os idealizadores desse modelo falido, mas as
disciplinas de educação física e artes – consideradas importantes para moldar
indivíduos plenos, cidadãos aptos a exercer seus direitos e obrigações – se
resumiam a isso: jogar peladas e confeccionar cartazes para o mural da escola.
Herança
desse período infeliz da história nacional, o ensino médio atual não só repetiu
os mesmos erros como ampliou até ao limite do impensável o rol de disciplinas
obrigatórias. Ao longo dos últimos 30 anos, os congressistas se divertiram
aprovando regulamentos que incorporaram novas disciplinas à carga horária dos
alunos.
Demonstrando
irreflexão e insensatez, os incautos parlamentares, como sempre conduzindo as
discussões num nível fácil, raso, enganoso e inconsistente, foram introduzindo
conteúdos de cinema, sociologia, filosofia, libras...
Tudo o
que, a juízo deles, poderia ser necessário para moldar os tais indivíduos
plenos. Como resultado, mais de uma dúzia de matérias passaram a ser empurradas
aos alunos pelas escolas.
Uma
temeridade que acarretou o óbvio: tornou o ensino médio brasileiro um dos
piores entre os países associados à Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico, OCDE – de acordo com os índices de avaliação
internacional publicados regularmente por essa organização.
É o
famoso “pacto da mediocridade”: por um lado, as escolas fingem que atendem à
grade obrigatória exigida pelo Ministério da Educação, MEC, deixando escapar um
tempo precioso aos estudantes do ensino médio; por seu turno, os alunos, sempre
receosos de terem aumentada a carga horária de disciplinas como matemática,
física, química etc., topam o tempo perdido, a pretexto de se dedicar a
qualquer coisa – qualquer coisa, até cortar cartolina – que lhes seja impingida
como matéria obrigatória.
Tornar
obrigatório o ensino de línguas e de matemática e qualificar como optativas as
demais disciplinas foi um dos caminhos seguidos, senão por todos, pela
esmagadora maioria dos países da OCDE, com resultados mais que satisfatórios.
Essa é
uma das mudanças propostas na reforma idealizada pelo MEC. Outra alteração se
refere ao reconhecimento do notório saber. Na prática, significa que, para
ministrar uma determinada disciplina, o professor pode ser formado num campo
afim a essa disciplina. Um catedrático versado em física, por exemplo, poderá
lecionar matemática. Medida que não compromete a qualidade e contribui para
sanar a preocupante falta de professores observada em algumas áreas do
conhecimento.
Finalmente,
o período de permanência do aluno na escola será praticamente dobrado, passando
das 800 horas atuais para 1.400 horas por ano.
Há
quem critique a iniciativa do MEC, reputando-a como precipitada. Mas a simples
verdade é há mais de 10 anos se discute a necessidade de mudanças no ensino
médio no país. Parece que faltava ousadia.
É
basicamente impossível que a reforma piore o ensino médio brasileiro, diante de
uma pueril constatação: o fundo do poço, se é existe, já está acima de nós.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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