* Ecio Rodrigues
Com o aporte financeiro da Fundação Banco do Brasil,
a Associação Andiroba, em conjunto com a Prefeitura de Xapuri, e, ainda, com a Associação
de Moradores do Bairro Baía e com o Fundo Mundial para a Vida Selvagem, WWF, irá
construir 270 fossas sépticas, para atendimento das unidades habitacionais
existentes ao longo da porção urbana do trajeto do igarapé Santa Rosa, no
município de Xapuri.
Trata-se de uma iniciativa precursora e arrojada. Em
primeiro lugar, diz respeito à aplicação de uma tecnologia social (ou seja, a
fossa séptica), chancelada pela Rede de Tecnologias Sociais – que, por sua vez,
é responsável pela certificação de recursos tecnológicos direcionados para a solução
de problemas sociais.
A fossa séptica é considerada uma tecnologia social
por suas características de baixo custo e instalação simplificada, e também
porque contribui para reverter os graves problemas de saneamento e de despejo
de dejetos domiciliares em afluentes urbanos. No caso em questão, a fossa
séptica irá melhorar a qualidade de vida dos beneficiários, ao reduzir os
riscos de doenças decorrentes da falta de saneamento, e, obviamente, ao
despoluir o igarapé Santa Rosa.
O pioneirismo e a inovação do projeto podem ser
constatados, em segundo lugar, diante da escala de atendimento que será alcançada:
no perímetro da cidade de Xapuri, em todas as unidades domiciliares situadas ao
longo das margens do Santa Rosa, serão construídas fossas sépticas.
Significa que mais de 90% dos dejetos atualmente lançados
no curso d’água serão tratados pelas fossas. Como os resultados desse tipo de medida
são bastante rápidos, a expectativa é que no curto prazo – vale dizer, já a
partir de 2015 – ocorra uma melhoria expressiva na qualidade da água que flui
no igarapé Santa Rosa.
Não se pode deixar de considerar, em terceiro lugar,
o aspecto institucional do empreendimento, que será levado a efeito com a
participação de um leque bem diversificado de organizações.
Além de dispor da expertise da Associação Andiroba, uma
organização da sociedade civil qualificada como Oscip, e de recursos
financeiros providos pela Fundação Banco do Brasil – na ordem de 500 mil reais
–, a experiência conta com o envolvimento direto da Prefeitura de Xapuri e da
Associação de Moradores do Bairro Baía, e com o apoio técnico do WWF e da
Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre.
Na verdade, essas entidades e instituições vêm
atuando no Santa Rosa desde o final da década passada. Para se ter uma ideia,
foram concluídos seis estudos sobre a mata ciliar do igarapé e a população que
vive na respectiva área de influência. Esses estudos, por seu turno, geraram
informações que possibilitaram a elaboração do projeto aprovado pela Fundação
Banco do Brasil.
No trecho rural do Santa Rosa, que corresponde a
mais de 70% do traçado do igarapé, e onde se situam menos de 5% do total de habitações
presentes em suas margens, estão sendo executados projetos de restauração
florestal da mata ciliar.
A ideia é associar a restauração florestal (da mata
ciliar) efetuada na parte rural do igarapé à despoluição promovida pelas fossas
sépticas construídas na zona urbana – no intuito, por um lado, de melhorar a
qualidade e a quantidade da água que corre no afluente, e por outro, de evidenciar
que, mediante o emprego de tecnologias de baixo custo e adequadas à realidade
local, é possível recuperar os milhares de igarapés que cortam as áreas urbanas
da Amazônia e que se encontram em situação de completa degradação, em função do
recebimento de dejetos.
Encontrar soluções locais que valorizem a vocação
florestal da Amazônia é a saída mais rápida e mais barata para a maioria dos nossos
problemas.
* Professor da Universidade
Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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