* Ecio Rodrigues
Seria otimismo exagerado imaginar que
pecuaristas renitentes, que sempre exerceram a pecuária e dessa atividade sempre
obtiveram renda, procedessem a uma alteração substancial em suas unidades
produtivas, a fim de trocar de animal, indo do boi para a ovelha. Independentemente
da escala de produção, passar do boi para os caprinos (cabras, cabritos e
bodes) ou para os ovinos (ovelhas e cordeiros) significaria organizar um novo –
e bem diferente, diga-se – tipo de produção.
É certo que o apoio governamental ajuda (e
muito) a convencer os produtores a embarcarem nessa aventura. Sem dúvida que, contando
com o lastro do dinheiro público, os produtores se sentem mais seguros para se
envolver com a criação das ovelhas, já que não teriam que arcar com iniciativas
de alto custo, como a aquisição de matrizes selecionadas que funcionam como
matriarcas do rebanho (daí o seu alto valor).
Entre outros incentivos, o Estado pode ainda fornecer
crédito subsidiado e se comprometer com a estrutura de abate, uma vez que as
novas criações precisam de matadouro próprio, não podendo ser aproveitadas as
instalações empregadas para o abate de bois e porcos.
A despeito desse patrocínio, contudo – e é possível
que apenas os extensionistas rurais, que estão no contato diário com os
produtores, possam, verdadeiramente, explicar isso – o fato é que os produtores
não só não querem mudar do boi para a ovelha, como de fato não irão fazê-lo. Estão
apenas deixando-se levar, sabendo que podem entrar e sair da atividade sem
qualquer tipo de comprometimento.
Existe uma cumplicidade entre quem financia,
que precisa mostrar para a sociedade que a produção rural goza de apoio do
governo, e quem é financiado, que vive ávido por apoio de qualquer ordem, seja
em dinheiro ou assistência técnica, que solidifica uma relação com a produção
rural, que, de concreto, promove a ampliação de pastos.
Por outro lado, a razão que leva os governos,
sobretudo na Amazônia, a investirem recursos públicos para estimular a produção
de ovelhas ou outro animal que não seja o boi, parece ser uma só: é feio
financiar a pecuária bovina.
Promover a pecuária bovina passou a ser feio
de uns anos para cá. Desde a Rio 92, a segunda conferência da ONU sobre desenvolvimento
e meio ambiente, que o cerco sobre a instalação da pecuária de gado na Amazônia
vem se fechando. Atualmente, até mesmo ardorosos defensores dessa atividade já
se convenceram que o futuro dela, na região, é limitado.
Não haverá mais meios de expansão, pois novas
terras significarão novos desmatamentos, algo que a sociedade não irá tolerar.
De outra banda, a ampliação da produtividade, a fim de aumentar a quantidade de
bois criados numa mesma quantidade de terras já desmatadas, tem limites
impostos por uma realidade de mercado, a saber, custos elevados.
Como é feio promover a pecuária, o apoio
público, que existe e não é pequeno, acontece por vias tortuosas, que não são
explícitas. Mas é esse apoio que fornece a essa atividade a importância
econômica que ela possui na região.
Todavia, se é feio
mostrar apoio à criação de boi, não será diferente, no curto prazo, com a
criação de ovelhas. Uma série de elementos relacionados à produção de ovinos e caprinos
afastam essa atividade dos ideais de sustentabilidade, tanto ou mais que a
própria criação de boi que (paradoxalmente) se pretende substituir.
Além do fato de que se trata de animais que vêm
sendo melhorados geneticamente ao longo dos anos, como é o caso da falecida
Dolly, que foi clonada, as ovelhas também exigem o cultivo de pastagens – o que,
no frigir dos ovos, irá significar mais desmatamentos no futuro.
Ou seja, com as ovelhas não se muda nada na
produção rural amazônica, a lógica insustentável da pecuária bovina continua prevalecendo.
* Professor da
Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em
Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela
Universidade de Brasília (UnB).
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