* Ecio Rodrigues
Eram em torno de seis, um pouco mais talvez,
mas não passavam de dez os engenheiros florestais – todos importados da região
Sudeste – que atuavam no Acre no final da década de 1980.
Anos turbulentos, aqueles; a Amazônia
ostentava elevadas taxas de desmatamento, e o mundo pressionava os brasileiros
a encontrar uma saída para evitar a destruição da maior floresta tropical do
planeta.
Foi quando surgiu a concepção das Reservas
Extrativistas, um tipo especial de projeto de assentamento, que, diferentemente
dos demais, não assentava produtores em novas áreas de terra, simplesmente
reconhecia a posse de quem já estava lá (ou seja, dos seringueiros que
permaneciam nas colocações de seringa). Em contrapartida, os extrativistas
aceitavam a condição de produzir de maneira diversa da prevista na cartilha
comum da expansão agropecuária, baseada no desmatamento e na criação de boi.
O manejo da floresta para a produção de
borracha e de um rol de mais de 40 produtos - incluindo a madeira, obviamente -
foi a saída encontrada para viabilizar um modelo de ocupação produtiva que se
adequasse aos ideais de sustentabilidade preconizados para a Amazônia.
Por meio da tecnologia do manejo florestal
comunitário (para o caso da madeira) e da tecnologia do manejo florestal de uso
múltiplo (para a floresta como um todo), os ex-seringueiros - agora manejadores
florestais - poderiam obter renda e conservar a floresta. É provável que essa
tenha sido a principal contribuição que os extrativistas do Acre, com ajuda dos
engenheiros florestais, legaram para o desenvolvimento da região.
Nascia ali uma Engenharia Florestal
genuinamente do Acre. Mas foram necessários muitos anos para que seu passo mais
significativo fosse dado: a criação do curso de graduação na Universidade
Federal do Acre.
Hoje, ao completar 13 anos de funcionamento –
e sempre recepcionando 80 alunos por ano – a Engenharia Florestal da Ufac está
comemorando a graduação de seu engenheiro de número 200.
Embora exista, apenas no âmbito das reservas
extrativistas – que somam quase 2,5 milhões de hectares no estado – demanda
para um contingente estimado em mais de 250 engenheiros florestais (o que ajuda
a explicar o fato de que os graduados não ficam desempregados), a importação
desse profissional já não é necessária.
Contando com mais de 10 professores-doutores
em seu quadro de docentes, e investindo na formação de engenheiros com perfil
para atuar no Acre e na Amazônia, o curso da Ufac se vê às voltas com os
desafios da pós-graduação.
Depois da criação de um Programa de Residência
Florestal, que já está na terceira turma e tem foco na especialização em Gestão
Florestal, a meta agora é a implantação de um curso de Mestrado em Ciência
Florestal.
Decerto que depois de 200 engenheiros formados
– o que tem grande impacto em âmbito regional -, a demanda para o mestrado é
expressiva. Ademais, para um estado como o Acre, e uma região como a Amazônia,
com categórica vocação florestal, a importância da pós-graduação em Ciência
Florestal é inquestionável.
Contudo, e infelizmente, esses critérios não
são levados em consideração no equivocado processo de avaliação levado a efeito
pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o
órgão do Ministério da Educação responsável pela implantação dos cursos de
pós-graduação. Assim, o esforço da equipe não tem alcançado sucesso, e cinco
propostas de mestrado já foram recusadas. Sem embargo, uma sexta tentativa será
realizada em 2014.
Além do aprimoramento dos profissionais
formados no estado, a insistência dos professores-doutores tem uma razão
simples – o histórico significado da Engenharia Florestal para o Acre.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac),
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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