* Ecio Rodrigues
Há séculos, a ciência emprega animais vivos em
testes de laboratório, como estratégia de sobrevivência para o Homo sapiens.
O princípio é fácil de explicar e de entender, já
que sem o sacrifício dos animais não teríamos alcançado o nível atual de avanço
da medicina. É correto dizer que o uso de cobaias é indispensável, pois não há como
criar novos remédios e vacinas sem testá-los antes em bichos de laboratório.
Sem embargo, invoca-se uma suposta razão ética para
defender o fim do uso de cobaias. Ainda que benevolente, essa tese nega o
posicionamento da espécie humana no topo da cadeia alimentar e, por outro lado,
a primazia da vida humana diante da vida de outros animais.
Ao contrariar princípios consagrados pelo
darwinismo, os defensores dos direitos dos animais terminam por assumir uma
série de raciocínios enviesados que, embora bem-intencionados, carecem de consistência.
Ora, não é razoável supor que os pesquisadores sejam
sádicos que maltratam animais por crueldade. É evidente que se a ciência encontrasse
outros meios de chegar à cura de doenças, dispensaria o uso de cobaias – até
porque, como se sabe, pesquisas com animais são caras e demoradas.
E apesar de estarem em andamento estudos voltados para
substituir os animais que abastecem os biotérios (onde cobaias de laboratório são
clonadas e criadas), é muito complexo o desafio de encontrar métodos
alternativos, que, observando os rígidos padrões internacionais impostos aos
procedimentos laboratoriais, apresentem operacionalidade acessível e forneçam
respostas tão confiáveis quanto as disponibilizadas pelo uso de cobaias.
A supressão ou mesmo a diminuição, de forma
inconsequente – apenas por indulgência –, dos testes em animais importaria em aumentar
ainda mais os riscos já embutidos em medicamentos e imunizações. A verdade é
que, sem essas pesquisas, ninguém se aventuraria a tomar remédios e vacinas.
Todavia, diante da dificuldade para dispensar a
cobaia viva, surgem os atalhos e, por suposto, a lógica enviesada que perpassa questões
como a escolha do bicho.
Mesmo que não se admita abertamente, a sociedade tem
mais rejeição ao uso de alguns animais que outros. Parece mais condenável, por
exemplo, empregar coelhos como cobaias que ratos. Por sua vez, o rato branco
cedeu espaço nos laboratórios para o marrom, em razão da percepção que os
primeiros eram vistos sob mais condescendência – é mais fácil, digamos, se
apegar a um camundongo do que a uma ratazana.
Daí para chegar ao caranguejo foi apenas um passo. Sobrou
para os caranguejos o lugar dos coelhos nos laboratórios, em experimentos específicos
que demandam o marsupial.
Para além do dilema ético, porém, a hipótese
averiguada pelos pesquisadores é que os testes com caranguejos apresentam redução
dos custos laboratoriais e facilidade de aplicação, podendo ser realizados inclusive
por laboratoristas menos experientes.
Além disso, entre um e outro se constata, aparentemente,
sensível diferença no impacto ambiental – ou seja, o uso de caranguejos causa
menos impacto que o de coelhos.
Poupar os coelhos em detrimento dos caranguejos
pode ser contraditório, sob a perspectiva da defesa dos direitos dos animais,
mas é inegável que traz um certo conforto moral – um bônus de consciência, por
assim dizer.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
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