* Ecio Rodrigues
Desmatar
a floresta na Amazônia significa: aumentar o risco de alagação e secas; ampliar
a velocidade do processo de aquecimento do planeta e as consequentes mudanças climáticas;
possibilitar o surgimento de novas viroses que fazem lotar os hospitais na
época do verão amazônico; reduzir a fertilidade da terra; e assim por diante.
Ninguém
dúvida que o desmatamento está na raiz de quase todos os males que assolam a
região. Não há lacuna de informação científica que ainda necessite ser
preenchida para a comprovação dos nefastos efeitos sociais, econômicos e
ecológicos do desmatamento das florestas na Amazônia.
Mas, se
é assim, surge de pronto a pergunta de 1 milhão de dólares: por que raios continuamos
a desmatar a Amazônia todos os anos para criar boi?
Evidente
que a resposta é deveras complexa, e envolve uma série de variáveis, que vão
desde a inevitabilidade da ocupação demográfica do território amazônico no
final do século XIX até a demanda dos pequenos produtores rurais trazidos pelo
Incra durante o pico da colonização dirigida, ainda na década de 1970.
Atualmente,
porém, em 2018, não há pedacinho de terra da Amazônia que não possa ser titulado,
seja como patrimônio público, seja como propriedade particular, sendo que a
regularização fundiária e o consequente estabelecimento da cadeia dominial ganharam
dimensão significativa a partir de 2016.
Por
outro lado, desde há muito não surgem novos projetos de colonização. No Acre,
por exemplo, os últimos colonos trazidos pelo Incra chegaram na década de 1980.
Graças a Deus!
Reforça
a tese da ausência de demanda por novos desmatamentos na Amazônia os altos
níveis de abandono e ociosidade econômica do solo – níveis que podem chegar, em
alguns municípios, a 30% do total das terras desmatadas.
É o “desmatamento
nem-nem”, que nem gera emprego nem riqueza na Amazônia. Algo inadmissível até
para os defensores da criação de gado.
Deriva
daí, do diagnóstico de que não há necessidade de novos desmatamentos, a surpresa
em relação à estratégia adotada pelo governo federal em 2015, quando se
comprometeu, perante o Acordo de Paris, a zerar o desmatamento ilegal na Amazônia em 2030.
Um compromisso
um tanto inócuo, que caducou logo no ano seguinte, quando ficou claro que o
problema reside não no desmatamento ilegal, mas no legalizado – quer dizer, o desmatamento
realizado sob o amparo do Código Florestal.
A
mobilização da sociedade em torno do “Projeto de Lei do Desmatamento Zero”, que
tem como propósito proibir todo e qualquer tipo de desmatamento de florestas na
Amazônia, deu um importante passo com a realização de audiência pública no
Senado em abril último.
Capitaneada
pelo Greenpeace, a proposta angariou a impressionante cifra de 1,4 milhão de
assinaturas de apoio.
Para
os ativistas ambientais envolvidos no que chamam de Movimento pelo Desmatamento
Zero, além de não haver demanda por novos desmatamentos, há que se considerar também
o valor econômico da floresta em pé, que pode ser manejada para ofertar uma
série de serviços, em especial aqueles relacionados ao sequestro de carbono e aos
recursos hídricos.
No
caso dos recursos hídricos, estudos recentes demonstram que uma árvore suga e
expele por dia o equivalente a 500 litros de água. Imagine a quantidade de água
mantida pela floresta na Amazônia.
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília.
Nenhum comentário:
Postar um comentário