segunda-feira, 28 de maio de 2018

Mais uma chance para as reservas extrativistas


* Ecio Rodrigues
A criação das primeiras reservas extrativistas, no Acre, ainda em 1990, despertou enorme expectativa no meio acadêmico e científico em relação à consolidação de um modelo de ocupação produtiva para a Amazônia que se adequasse aos ideais de sustentabilidade preconizados pelo mundo.
Por “adequação aos ideais de sustentabilidade”, entenda-se a possibilidade de os extrativistas passarem a ganhar seu sustento mediante a coleta de produtos oriundos da diversidade florestal (ou da biodiversidade, como se diz), de maneira permanente e contínua.
Explicando melhor. Por meio da desapropriação de extensas áreas de florestas, foram criadas as reservas extrativistas. A ideia era dar essas terras em usufruto às populações que as ocupavam, de forma que pudessem explorar madeira e castanha-do-brasil (para ficar nos produtos mais valiosos), com o emprego da tecnologia do manejo florestal comunitário.
Lamentavelmente, 28 anos e quase 13 milhões de hectares depois, a espera em torno do modelo de ocupação baseado na biodiversidade permanece no campo da expectativa. Pior ainda, bem distante de concretização.
Mas no caso das 65 reservas extrativistas criadas e gerenciadas pelo governo federal, surge um caminho que pode alterar essa triste realidade.
Trata-se do Plano Nacional de Fortalecimento das Comunidades Extrativistas e Ribeirinhas, identificado pelo acrônimo Planafe. Lançado por meio do Dec. 9.934, de 05 de abril de 2018, o Planafe representa uma centelha de esperança para mais de 56 mil famílias extrativistas.
As expectativas se renovam, pois o Planafe retoma a discussão (um tanto esquecida, diga-se) em torno da viabilidade das reservas extrativistas, e que já havia levado à sistematização da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, PNPCT, por meio do Dec. 6.040/2007.
Muitos haverão de perguntar a diferença entre uma politica e um plano; ademais, diante de um mecanismo instituído há mais de 10 anos, é natural que se questione se há razão para o surgimento de outro.
Há que se considerar, todavia, que embora a PNPCT tenha reconhecido a importância social e econômica do extrativismo florestal para a Amazônia, e estabelecido uma série de preceitos importantes para o funcionamento das reservas extrativistas, deixou de elencar os meios de sua operacionalização.
No caso do Planafe, diferentemente, observa-se que é recorrente a busca por uma alternativa de renda baseada na exploração das florestas pelas comunidades que as habitam.
Por outro lado, a intenção de frear o visível e paulatino processo de pecuarização das reservas extrativistas na Amazônia, cujo avanço contribui para inflar as taxas anuais de desmatamento, configura-se em orientação primordial do Planafe.
Sob essa diretriz, todo esforço do Estado e das organizações não governamentais deve ser direcionado à elaboração dos planos de manejo das reservas extrativistas.
Trata-se de documento fundamental para possibilitar a extração de produtos como madeira, sementes, animais silvestres – produtos, enfim, que permitam aos extrativistas ganhar dinheiro sem cair no canto de sereia da criação de boi.
Como afirmou um produtor há mais de 20 anos: a reserva extrativista é a saída para conservar a floresta na Amazônia. Aí está, mais uma chance!  


*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.



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