* Ecio Rodrigues
Políticos populistas subiram no palanque em favor
dos pobres caminhoneiros, que não conseguem pagar o combustível nem o pedágio
das rodovias – cuja manutenção, diga-se de passagem, tem custos elevados para
toda a sociedade justamente por causa dos caminhões.
Ganharam, de pronto, o apoio igualmente
entusiasmado de um jornalismo irresponsável, que nunca consegue explicar o que
é, de fato, importante para o país – como se existissem somente interesses do
governo e da oposição.
Embalada pela narrativa do coitadinho que precisa
da ajuda do governo, não do país, a sociedade – ou a opinião pública, como se
diz – saiu em defesa de uma existência romântica e cheia de aventuras pelas
estradas da vida, e que estava sendo destruída pelo preço do diesel.
Todos se uniram na grita em torno da culpa do malvado
presidente da outrora falida e agora recuperada Petrobras e, como não poderia
deixar de ser, contra o governo, que foi acusado de ser fraco e irresponsável
(para dizer o mínimo).
Por sinal, o governo demonstrou habilidade e
paciência para negociar com caminhoneiros intransigentes, que, externando uma
incapacidade assustadora (para dizer o mínimo) de interpretação da realidade brasileira,
chegaram a clamar por intervenção militar(!) – sem parar para pensar que as ditaduras
militares não são lá muito complacentes com esse tipo de “manifestação”.
É provável que a avaliação mais realista e pertinente
sobre as causas desse evento desastroso tenha sido empreendida pelo articulista
Samuel Pessôa, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas, que, em sua
coluna dominical no jornal “Folha de São Paulo”, observou:
“O
programa de crédito muito barato [para
compra de caminhões com subsídio do BNDES, iniciado em novembro de 2009] persistiu
até o primeiro mandato da presidente Dilma. De 2009 até hoje a frota de
caminhões aumentou 40%. A economia, no mesmo período, cresceu 11%”.
Ou seja, uma ação populista ocasionou a explosão de
oferta no serviço de transporte, derrubando o preço do frete e levando o preço
do diesel a ter uma participação maior na planilha de custo do frete.
Parece claro que decisões erradas de política
econômica, levadas a cabo durante os governos encabeçados por partidos ditos de
esquerda (os mesmos que, aliás, maldizem o atual governo) arrastaram o país a
uma crise sem precedentes, a pior em mais de 100 anos. Não à toa, o PIB bateu
recorde negativo de quase 4%, nos anos de 2015 e 2016, algo inédito na história
nacional.
Decisões como o controle de preços de combustíveis
por decreto deixaram de considerar regra elementar, preconizada pela teoria
econômica, a da curva de oferta e demanda: quem dita o preço de um bem ou
serviço é o mercado, e nunca – nunca! – a burocracia estatal.
Os prejuízos para a sociedade brasileira serão bem
mais expressivos, por certo, que o dinheiro a ser deslocado de áreas como educação
e saúde para acertar a diferença entre o que os caminhoneiros aceitam pagar e o
preço de mercado do diesel. Ou, ainda, para pagar as compensações devidas às
concessionárias de pedágio, por conta da gratuidade concedida aos caminhões sem
carga.
No caso da Amazônia, sendo o diesel um dos
principais itens de custo da indústria do desmatamento, em especial o desmatamento
legalizado pelo Código Florestal, podemos nos preparar para o pior.
Até porque estamos em período eleitoral, quando o
populismo para angariar apoio dos pecuaristas chega ao auge, sobretudo nos estados
de economia frágil, como o Acre.
No fim das contas, a sociedade vai pagar pelo
diesel consumido no desmatamento da Amazônia. Mas, quem quer saber disso?
*Professor
Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista
em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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