* Ecio Rodrigues
Considerado um dos eventos mais importantes, em
âmbito mundial, para a discussão dos recursos hídricos, o Fórum Mundial da Água,
em sua 8a edição, terá lugar em Brasília, entre os próximos dias
18 e 23 de março.
O Fórum é organizado pelo Conselho Mundial da Água,
CMA, uma instituição fundada em 1996, com sede permanente na cidade de Marselha,
França, sendo formada e financiada por 400 organizações. Essas organizações, por
sua vez, representam cidades e entes federativos, distribuídos em mais de 70
países.
Tanto para a fundação da entidade quanto para o seu
funcionamento, o CMA contou e conta com o esforço decisivo dos franceses. Não
por acaso, a França é reconhecida em todo o mundo como referência técnica e
política em gestão de recursos hídricos e saneamento, tendo sido pioneira na
institucionalização de agência de águas.
Realizando-se a cada 3 anos, o Fórum Mundial da
Água configura uma das principais atribuições do CMA.
Por isso, a escolha da cidade-sede é causa de
disputa interna, já que, para os países, hospedar o evento representa obtenção
de espaço político. O fato de Brasília ter sido escalada como sede da 8a
edição sinaliza a representatividade e o peso geopolítico que o Brasil possui
quando o assunto é a água.
A importância política do Brasil decorre de seu extenso
litoral no oceano Atlântico, que estoca um expressivo volume de água salgada em
200 milhas marítimas; decorre também dos aquíferos, que disponibilizam água
subterrânea em praticamente todo o território nacional.
Mas, acima de tudo, o protagonismo brasileiro
decorre da desmedida quantidade de água armazenada nas bacias hidrográficas da
Amazônia.
Sem embargo, as persistentes ameaças ao ecossistema
florestal, resultantes das altas taxas de desmatamento anual, deterioram, em
igual proporção, a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos na região.
Os estudos que relacionam as florestas à água que
flui no leito dos rios demandaram grande esforço dos pesquisadores, e a
comprovação dessa correlação, no caso da realidade amazônica, pode ser constatada
em farta literatura científica.
Não à toa, as regras que estabelecem a manutenção
obrigatória de uma faixa de floresta ao longo das margens dos corpos d’água (a chamada
mata ciliar), com largura proporcional à largura dos leitos, foram impostas
ainda na década de 1960, mediante a promulgação do Código Florestal.
Entretanto, a ampliação das terras destinadas à produção
de soja e criação de gado (para citar os principais produtos agropecuários)
exigiu a conversão de extensas áreas cobertas por florestas, inclusive de florestas
especiais como a mata ciliar.
Sacrificar a mata ciliar por alguns hectares a mais
de produção agropecuária é um erro estratégico absurdo, pois significa
comprometer o volume e a qualidade das águas que correm por cima e por baixo da
floresta tropical na Amazônia.
Para entender melhor: quanto maior a área desmatada
(ou quanto menor a quantidade de florestas), menos água integrará o ciclo
hidrológico em determinada localidade ou região. Infelizmente, quando o novo Código
Florestal foi aprovado em 2012, poucos entenderam o significado e a importância
da mata ciliar, e todos se esqueceram da água.
Ainda há tempo, todavia. O Fórum Mundial da Água
pode ajudar a rever a importância da floresta para a água que flui na Amazônia.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política
Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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