* Ecio Rodrigues
Referência para o estudo do Manejo Florestal – tecnologia
que possibilita a exploração sustentável da diversidade biológica presente na
floresta amazônica –, o Projeto Antimary completa 30 anos com futuro incerto.
O nível de investimentos em pesquisas alcançado durante
a década de 1990, por meio do financiamento obtido junto à Organização
Internacional de Madeiras Tropicais (ITTO, na sigla em inglês), jamais foi
retomado.
Embora não existam estatísticas, é possível afirmar,
sem medo de errar, que após o encerramento do financiamento da ITTO, o
orçamento atual destinado ao Antimary não chega a 10% do que era anualmente investido
até o início dos anos 2000.
Sucessivos governos estaduais não dedicaram à
Floresta do Antimary, unidade de conservação engendrada pelo projeto, a relevância
técnico-científica conquistada com muito esforço no período em que chegou a ser
uma das áreas de vegetação nativa mais estudadas da Amazônia – em face justamente
do cabedal de pesquisas ali realizado.
Não à toa, os mais renomados estudiosos da dinâmica
florestal amazônica e as mais notáveis organizações científicas da região, como
é caso do Inpa e da Embrapa, envolveram-se nalgum tipo de pesquisa levada a
cabo naquela área florestal.
A propósito,
merece destaque a relação do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia)
com o Antimary: além de tomar parte, desde o início, da assessoria permanente
ao projeto, os técnicos desse instituto também participaram da definição e
realização de diversos estudos.
Estudos que se estenderam por anos, mantendo o envolvimento
do Inpa com o Antimary até os dias atuais. Não seria demais afirmar que, hoje, as
pesquisas de maior envergadura ainda em andamento têm a participação direta do
Inpa.
O Inpa contribuiu no estabelecimento das diretrizes técnicas
que conferiram ao Antimary o status de pesquisa florestal de referência. Duas dessas
diretrizes foram essenciais e viriam a distinguir positivamente a experiência.
Trata-se, a primeira, da opção desenvolvimentista
assumida pelo projeto.
Desde o início, a intenção não foi a de dar continuidade
às pesquisas realizadas pelo Inpa em outra realidade ecossistêmica ou em outros
cantos da Amazônia. Tampouco se pretendeu, no âmbito do Acre, introduzir uma
nova linha de pesquisa, fosse básica ou teórica, como gostam os pesquisadores.
Dessa forma, o caráter de experiência piloto ou de
desenvolvimento foi mantido e impulsionado, tendo-se tornado importantíssimo
para o reconhecimento público do projeto e sua inserção no mercado.
Os desencadeamentos dessa opção levaram à segunda
diretriz fundamental: a inserção dos atores sociais e econômicos envolvidos com
a produção de madeira.
Entidades
como a Fieac (Federação das Indústrias do Acre), o CNS (Conselho Nacional dos
Seringueiros) e o CTA (Centro dos Trabalhadores da Amazônia) tiveram assento no
Conselho Consultivo e no Comitê de Direção do projeto, participando de todas as
deliberações importantes para o Antimary.
A superação das condições predatória e perdulária que
então caracterizavam a exploração madeireira no Acre configurou-se, assim, no propósito
primordial de tudo o que foi realizado no Antimary.
O escopo do projeto foi a elaboração dum conjunto de
procedimentos técnicos que, uma vez assumidos pelos empresários e aceitos pela
sociedade, viessem a viabilizar o manejo florestal para a produção permanente de
madeira em escala comercial.
Além, claro, de colocar à disposição dos gestores
públicos estaduais (de antes e de agora) um mecanismo de controle de mercado,
mediante a oferta de um estoque regulador de 18 mil m3 anuais de
madeira – de acordo com a área a ser manejada na Floresta Estadual do Antimary.
O legado do Antimary pode ser percebido na política
nacional para a floresta amazônica gestada em 1996 e na que foi aprovada no
Acre em 2001.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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