* Ecio Rodrigues
Neste ano de 2017, o pioneiro Projeto Antimary está completando
30 anos. Se poucos sabem disso, menos ainda compreendem a importância dessa
iniciativa para a pesquisa florestal e o desenvolvimento do Acre e da Amazônia.
Todas as homenagens à Funtac, a Fundação de
Tecnologia estadual, instituição responsável pela concepção do projeto e
captação dos recursos financeiros necessários, e que há muito tempo se encontra
no “limbo” governamental.
Mesmo hoje é difícil imaginar que um pequeno grupo
de engenheiros com pouca experiência, praticamente recém-graduados, conseguiria
elaborar e aprovar, junto à Organização Internacional de Madeira Tropical
(ITTO, na sigla em inglês) um projeto nos moldes requeridos pelos países
desenvolvidos, no valor de 3 milhões de dólares – um montante bastante
expressivo para a época.
Foi o que aconteceu na Funtac.
No longínquo ano de 1987, diante da constatação de
que o desmatamento no Acre e na Amazônia não daria trégua no médio prazo, e que
as taxas de ampliação anual da destruição da floresta colocavam em risco um
patrimônio inestimável em biodiversidade, os técnicos da Funtac vislumbraram o
que ainda soa como inovador – a saída pelo uso múltiplo da floresta.
A elaboração do projeto se sustentou numa premissa que
continua atualíssima, a saber: enquanto o desmatamento ilegal não é controlado
pela fiscalização estatal, o desmatamento legal mantém a taxa anual de
destruição florestal a níveis perigosos para a bacia hidrográfica.
Tratava-se, portanto, de uma proposta de
desenvolvimento produtivo, no campo do Manejo Florestal, que permitiria, ao
final, estabelecer um pacote tecnológico para a exploração sustentável da
biodiversidade florestal da Amazônia. Uma empreitada inédita no âmbito estadual,
que nunca foi repetida.
Na ocasião, e como contrapartida para receber a
doação em dólares pela ITTO, o Estado do Acre se comprometeu a segregar uma
área de floresta primitiva, com o maior grau de preservação possível para realidade
de então.
Depois de analisar a disponibilidade das terras
arrecadadas pelo Incra para assentamento rural, os pesquisadores escolheram uma
área com cobertura florestal representativa da vegetação local – com porções de
florestas densa e aberta associadas a palmeira e taboca – e localizada nas
proximidades da capital, no município de Bujari.
A fim de promover a regularização fundiária da
terra, de forma a fornecer segurança jurídica ao vultoso investimento a ser
realizado, a área foi transformada em unidade de conservação, posteriormente classificada
pelo Snuc (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) como floresta de rendimento.
Foi criada assim a Floresta Estadual do Antimary.
Diga-se que, só com o ato de criação, uma área
aproximada de 70.000 ha de floresta nativa foi retirada do processo nocivo de
desmatamento praticado pelos colonos e reservada à conservação florestal – condição
que perdura até os dias atuais.
Uma vez aprovada a proposta, uma equipe composta por
12 jovens profissionais assumiu a responsabilidade de tornar o Projeto Antimary
uma realidade. Inicialmente, levaram a cabo um detalhado mapeamento das experiências
em manejo florestal que se encontravam em operação na região.
As pesquisas desenvolvidas pelo Inpa (Instituto de
Pesquisas da Amazônia) e pela Embrapa, no intuito de viabilizar a exploração de
madeira na Amazônia, tornaram-se referência para o projeto.
Os pesquisadores da Funtac, no entanto, como é da
natureza dos jovens, eram audazes e arrojados. Eles não pensavam só em madeira,
almejavam o uso múltiplo da biodiversidade.
Mas isso já é outra história.
* Professor da Universidade
Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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