* Ecio Rodrigues
Não é novidade que entre as unidades de conservação
consideradas de uso sustentável as Reservas Extrativistas são as que apresentam
maior tendência à expansão da pecuária para criação de gado e, por isso, ostentam
taxas de desmatamento alarmantes – para dizer o mínimo.
Situação que se agrava, na medida em que não existe nenhum
tipo de resposta do órgão estatal responsável pelas unidades de conservação (o chamado
ICMBio), com vistas a reverter a tendência de ampliação do desmatamento.
Pelo contrário, o órgão se perde – por sinal, desde
sua criação, em 2007 – na tentativa frustrada de superar esse quadro caótico por
meio da costumeira e ineficaz fiscalização.
Parece haver uma cegueira incurável nos gestores responsáveis
pelas políticas públicas relacionadas às Reservas Extrativistas. Ao que tudo
indica, prefere-se acreditar que a segregação de terras na forma de unidades de
conservação é um tipo de “bônus de consciência”, que se presta tão somente a compensar
as terras entregues à conversão florestal para instalação da pecuária na
Amazônia.
Nessa linha de raciocínio, o entendimento que
prevalece é que a segurança fundiária trazida pela desapropriação da área
florestal (transformada em Reserva Extrativista) é medida suficiente e representa,
por si só, um inexorável caminho em direção à conservação da floresta amazônica.
Simplesmente desconsideram que todas as estatísticas
demonstram o contrário. Os números não deixam dúvida quanto a um fato
corriqueiro: o desmatamento avança, não importa de quem seja a terra – se da
União, de um posseiro ou de um proprietário.
Desnecessário repetir – como, aliás, há 25 anos se
vem fazendo – que urge encontrar meios para integrar as áreas florestais
segregadas na forma de Reservas Extrativistas à dinâmica econômica municipal e
estadual.
O emprego da tecnologia conhecida como manejo
florestal comunitário, que foi concebida no período do surgimento das primeiras
Resex no Acre, ainda na década de 1990, tem sido apontado como única solução possível
para que essa categoria especial de unidade de conservação alcance dois
objetivos precípuos e interdependentes: manter o ecossistema florestal e gerar
renda para o produtor que nele habita.
As experiências desenvolvidas na Floresta Estadual
do Antimary, no Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) Porto Dias e no Projeto
de Assentamento Dirigido (PAD) Peixoto, que desde aquela época realizam
pioneira exploração de madeira no modelo comunitário, poderão fornecer
respostas importantes para a sistematização do uso múltiplo levado a cabo por
populações tradicionais na Amazônia.
Diante dos dados que demonstram o crescimento da
floresta durante todo esse tempo, não há dúvida acerca da reposição da
quantidade de metros cúbicos de madeira retirada e, o mais importante, sobre a
manutenção da floresta, fato confirmado por diversas teses de doutorado.
Do ponto de vista econômico não é diferente.
Adiciona-se à viabilidade ecológica do manejo comunitário de madeira a garantia
para o produtor de uma renda jamais obtida na exploração de outros produtos
agrícolas ou florestais.
O diagnóstico da condição socioeconômica alcançada por
essas comunidades de manejadores florestais aponta o que a realidade provou. Que
a condição de vida dos produtores poderá sofrer expressiva melhora.
Depois de as comunidades de produtores amazônicos
passarem mais de 20 anos obtendo renda com a exploração de madeira nas Reservas
Extrativistas, não dá mais para admitir que retrógrados levantem dúvida quanto
à viabilidade técnica e econômica do manejo florestal comunitário.
Afinal, leseira tem prazo de validade.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.