* Ecio Rodrigues
O Acordo
de Paris vale a partir de hoje, dia 04 de novembro de 2016.
Comemorada
mundo afora, a antecipação em quase 4 anos da entrada em vigor desse importante
tratado, assinado em dezembro de 2015 e previsto para vigorar a partir de 2020,
acalenta a esperança de todos os que se preocupam com o aquecimento do planeta
e suas trágicas consequências.
Motivos
de alegria não faltam: pela primeira vez um documento negociado entre
praticamente todos os países do mundo, prevendo alterações sensíveis na produção
industrial e na forma como as economias nacionais se organizam, passa a vigorar
antes do prazo acertado pela diplomacia.
Graças
sobretudo ao esforço de negociação desencadeado pelo governo americano, que convenceu
as autoridades chinesas a selar o acordo ainda em agosto.
Presentemente,
mais de 90 países, de um total de 195, já lograram aprovar em seus respectivos parlamentos
os compromissos firmados perante a ONU para conter as alterações no clima do
planeta. Essas nações representam mais de 55% das emissões de carbono lançadas anualmente
na atmosfera, o que permitiu a validação do pacto.
A
prioridade dada foi tamanha que a União Européia, por exemplo, mesmo envolta em
contratempos políticos, referendou o acordo ainda em outubro.
Do
lado de cá não foi diferente, e desta feita os brasileiros se mostraram antenados
em relação à sua responsabilidade perante o mundo. Sempre reverenciado como um
dos países que podem assumir uma posição de liderança na discussão dos temas
relacionados à Convenção do Clima, o Brasil chancelou o acordo no Congresso em
setembro último.
Sem
embargo da importância para os outros biomas existentes no território nacional,
no caso específico da Amazônia, os compromissos assumidos pelo Brasil na ONU adquirem
relevância incomparável. Para quem vive na região, razões para lembrar a data
de hoje decerto não faltarão.
Zerar
o desmatamento ilegal é compromisso a ser honrado.
Na
verdade, o compromisso deveria ter sido no sentido de zerar todo desmatamento –
afinal, acabar com o desmatamento ilegal é um dever do Estado brasileiro e, sob
esse ponto de vista, há de se convir que é uma meta tímida para constar dum
acordo tão ambicioso. A despeito disso, contudo, não há dúvida que o cotidiano
dos amazônidas sofrerá impacto sensível com o fim do desmatamento ilegal.
Construir
mais hidrelétricas é compromisso a ser honrado.
A geração
de energia limpa, por meio do aproveitamento da força das águas em usinas
hidrelétricas e da queima de biomassa florestal em usinas termoelétricas, é
capaz de promover um novo ciclo econômico na região, e o melhor, em consonância
com o ecossistema e a vocação produtiva da Amazônia.
Restaurar
a mata ciliar é compromisso a ser honrado.
A recuperação
das áreas degradadas de mata ciliar terá impacto direto na vazão dos rios amazônicos
e, por conseguinte, na ocorrência de eventos extremos, como secas e alagações.
Por outro lado, os projetos de restauração florestal da mata ciliar impulsionarão
um promissor segmento econômico voltado para a produção de sementes de espécies
nativas.
Durante
a 22ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 22, na sigla em inglês),
que se inicia em 07 de novembro próximo, em Marrakesh, no Marrocos, serão
definidos os mecanismos de cobrança das obrigações perfilhadas por cada país.
Diante
do calor recorde de 2016, não há tempo para subterfúgios: todos os compromissos
assumidos terão que ser rigorosamente cumpridos.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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