* Ecio Rodrigues
Todos
os anos, uma professora do ensino fundamental, sempre bem intencionada e nem
tão bem informada, dedica-se, na primeira semana de junho, a promover junto aos
seus alunos o que chama de “educação ambiental”.
As
aspas foram propositais: embora a maioria desconheça, os conteúdos sobre meio
ambiente estão incluídos na Lei de Diretrizes de Base da Educação e dizem
respeito a processos pedagógicos estabelecidos, exigindo formação acadêmica específica.
Significa
dizer, em primeiro lugar, que nem tudo o que se refere ao meio ambiente é
educação ambiental. Orientar a população a poupar água, por exemplo, a despeito
de ser medida didática, importante para a ecologia, não tem relação com
educação ambiental.
Significa,
em segundo lugar, que nem todos possuem o conhecimento técnico necessário para dominar
o tema.
Voltando
à historinha do início. Na tal semana, as crianças cumprem duas atividades, estimuladas
por sua professora: plantar mudas de árvores e produzir papel reciclado artesanalmente.
A professora
não sabe que de cada 10 mudinhas plantadas pelas crianças, 9 vão morrer de
insolação, de sede ou por falta de alimento. E ela também ignora que o papel
reciclado é mais prejudicial ao meio ambiente do que o papel produzido do
eucalipto cultivado exclusivamente para esse fim.
Explicando
melhor. Plantar árvores é tarefa que exige expertise e que não se esgota no ato
de depositar uma muda na terra ou uma semente num receptáculo. De outra banda, a
produção de papel reciclado gasta mais energia e depende de mais produtos
químicos do que a produção de papel branco, que tem por base a celulose,
matéria-prima que por sua vez se origina das árvores.
Não tem
sentido chorar por um pé de eucalipto derrubado para o fabrico de papel, pelo
simples fato de que essa árvore, que foi plantada com essa finalidade, será
substituída por outra – por outro pé de eucalipto.
Trata-se
de um raciocínio simplório e que justificou a primeira grande transformação ocorrida
na humanidade, quando o homem evoluiu de nômade para sedentário, ou seja,
quando dominou os complexos processos que o levaram a dispor, perto de casa, de
tudo o que precisava para comer, se vestir e se locomover – uma conquista que demorou
muito tempo e exigiu muito esforço humano.
Resumindo,
ainda que expresse uma declaração de amor à natureza, a iniciativa da
professora não se confunde com educação ambiental: não envolve procedimento
pedagógico ou material didático que sirva para difundir algum domínio em ecologia.
Além de não transmitir muita informação para as crianças.
É
óbvio que despertar o carinho pela natureza é importante. Todavia, o erro na
abordagem pode causar desapontamentos futuros. Provavelmente, o problema maior
reside na constatação de que declarações de amor à natureza não têm levado os
futuros adultos a assumir sua responsabilidade e se esforçar para resolver a
grave crise ecológica enfrentada pela humanidade.
O ato simbólico,
repetido por milhares de atletas na abertura das Olimpíadas no Rio, de jogar
uma sementinha num tubete com vermiculita, é uma declaração de amor à natureza,
que decerto deixa a todos com a consciência tranquila. E isso será um grande
problema no futuro.
Não
vai aplacar nossa incompetência para organizar uma economia sem petróleo ou para
explorar a biodiversidade florestal na Amazônia. E isso é um grande problema,
hoje.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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