* Ecio Rodrigues
Nos
últimos cinco anos, a quantidade de queimadas no Acre aumentou de maneira
ininterrupta até atingir seu ápice em 2015, quando foram detectados 5.512 focos
de calor em todo o território estadual.
Reforçando
o adágio popular segundo o qual “nada é tão ruim que não possa piorar”, o
comportamento das estatísticas sugere que o aumento das queimadas deve
continuar.
Embora
ainda seja cedo para tirar conclusões, tudo indica que 2016 reservará um novo e
igualmente vergonhoso recorde de queimadas para o Acre. Os dados já apontados pelas
imagens de satélite dão conta que, em maio último, aconteceram 16 queimadas
contra 2 observadas no mesmo período em 2015. Um aumento, no mínimo, muito perigoso.
Mais
do que urgente, é emergencial a reversão desse processo de ampliação – que não deve
ser tratado com indiferença pelos gestores públicos. Entretanto, nenhuma medida
corretiva poderá ser adotada sem que se compreenda a nova dinâmica assumida pelas
queimadas.
A
experiência demonstra que está nas políticas públicas, sejam elas agrícolas,
florestais ou de assistência social, a motivação que leva o produtor a queimar
em determinado ano.
A
decisão pelo aumento do roçado ou do pasto exige do produtor disponibilidade de
recursos para investimento, o que lhe sai caro. A segurança de retorno
econômico vem dos governantes: em última análise, é o prefeito ou o governador –
ou ambos – quem motiva o produtor a queimar.
Corrobora
essa tese (que a motivação para queimar tem origem na política pública) o fato de
que a maior parcela de contribuição para a atual taxa de queimadas vem do
pequeno e do médio produtor.
Ou
seja, a nova dinâmica das queimadas expõe os agricultores familiares.
Ora,
todos hão de concordar que uma coisa é culpar o grande produtor pecuarista –
acusado de queimar os pastos para não gastar dinheiro com arados e adubos;
outra coisa, bem diferente, é culpar o agricultor familiar, categoria que costuma
gozar da cumplicidade dos políticos, da benevolência dos gestores públicos e da
simpatia da sociedade.
Mas essa
nova dinâmica das queimadas no Acre traz mais uma novidade. Diferentemente das
grandes propriedades, os responsáveis pelas queimas não estão localizados ao
longo das rodovias, onde é fácil chegar. Estão na mata ciliar dos rios, em
colocações bem distantes dos centros urbanos, a muitos dias de motor de rabeta
da cidade.
Significa
dizer que constituem alvo difícil de fiscalizar e mais ainda de autuar.
E não
para aí. Como os focos de queimada estão localizados na área de influência dos
rios Purus e Juruá (para ficar nos mais impactados), é provável que se repita,
nessa região, o estrago causado no âmbito da bacia hidrográfica do rio Acre durante
a década de 1980. Igualmente, a tendência é que as Reservas Extrativistas e as
Terras Indígenas sejam levadas para o universo da criação de boi, da mesma
forma como aconteceu com as unidades de conservação situadas no vale do rio
Acre.
Lamúrias
não vão adiantar depois que um novo recorde de queimadas for estabelecido em
2016. Os políticos e gestores públicos deveriam agir já.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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