segunda-feira, 13 de junho de 2016

Peruanos rejeitam populismo de esquerda e de direita




* Ecio Rodrigues
Em 05 de junho último, numa eleição inédita (por conta do acirramento da disputa tanto no primeiro quanto no segundo turno), 50,12% dos eleitores peruanos elegeram para presidente o economista Pedro Pablo Kuczynski, apelidado PPK – certamente não por coincidência a mesma sigla do partido pelo qual concorreu, o Partido Peruano por el Kambio.
Em números absolutos, PPK conseguiu 41 mil votos a mais que sua oponente, Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori e considerada herdeira do “fujimorismo” –, que obteve 49,88% dos votos.
Embora apertada, a vitória reforça a tese de que existe, na América do Sul, uma tendência à retomada dos ideais do liberalismo econômico. Essa tendência, iniciada com vitória de Macri na Argentina, foi mantida com a derrocada de Maduro nas eleições legislativas da Venezuela, e se intensificou depois que os bolivianos negaram a Evo Morales a chance de concorrer a um novo mandato em 2020.
Claro que no âmbito de tal tendência é possível incluir a crise política brasileira. Mas como não há sinal de luz no final desse túnel, melhor deixar de lado as mazelas nacionais.
O processo eleitoral no Peru se distinguiu por duas particularidades: primeiro, que o sindicalismo, representado pelo atual Presidente Ollanta Humala, foi mandado às favas, tendo recebido alto grau de rejeição, a ponto de nenhum candidato, mesmo no primeiro turno, requerer o seu apoio.
Com viés populista (por adotar um sem-número de bolsas e programas sociais voltados para dar coisas ao povo) e de centro-esquerda (por se render ao sistema econômico internacional e ao mesmo tempo refutá-lo com discurso sindicalista ultrapassado), o atual mandatário não conseguiu manter sua popularidade.
Já a segunda particularidade diz respeito ao populismo que saiu derrotado, igualmente perigoso, no entanto de direita. A filha de Alberto Fujimori (que, por sinal, está preso) obteve apoio nas camadas mais necessitadas da população, em especial devido sua adesão a programas sociais direcionados para dar coisas ao povo.
Tal qual Cristina Kirchner, na Argentina, e guardando alguma semelhança com a brasileira Dilma Rousseff, a “mãe dos pobres” da direita fujimorista também marcou sua campanha eleitoral com promessas de ampliação de ajuda humanitária aos desfavorecidos.
Com aprimorada formação superior em Economia, o presidente eleito conseguiu congregar, em torno de seu partido, o apoio dos que demonstram preocupação com os rumos da economia peruana.
Defendendo austeridade nos gastos estatais e a organização dum serviço público enxuto e pautado pela busca de eficiência, mediante redução do número de servidores e dos custos operacionais, o PPK recebeu a confiança da classe média peruana, o que permitiu decidir a eleição a seu favor.
Espera-se que o novo presidente logre, em sua equipe de governo, valorizar a competência técnica para a gestão pública. Espera-se mais, que as empresas estatais, como sempre em grande quantidade e caracterizadas pela ineficiência, sejam fechadas, vendidas ou privatizadas, de forma a se privilegiar uma economia dinâmica, que funcione sem a intervenção dos governos.
Todavia, não é fácil demonstrar que o crescimento da economia, e não “bolsas-família”, é o que traz oportunidades à população. Sorte ao Peru.

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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