* Ecio Rodrigues
Em 05
de junho último, numa eleição inédita (por conta do acirramento da disputa tanto
no primeiro quanto no segundo turno), 50,12% dos eleitores peruanos elegeram
para presidente o economista Pedro Pablo Kuczynski, apelidado PPK – certamente
não por coincidência a mesma sigla do partido pelo qual concorreu, o Partido
Peruano por el Kambio.
Em
números absolutos, PPK conseguiu 41 mil votos a mais que sua oponente, Keiko
Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori e considerada herdeira do “fujimorismo”
–, que obteve 49,88% dos votos.
Embora
apertada, a vitória reforça a tese de que existe, na América do Sul, uma
tendência à retomada dos ideais do liberalismo econômico. Essa tendência, iniciada
com vitória de Macri na Argentina, foi mantida com a derrocada de Maduro nas
eleições legislativas da Venezuela, e se intensificou depois que os bolivianos
negaram a Evo Morales a chance de concorrer a um novo mandato em 2020.
Claro
que no âmbito de tal tendência é possível incluir a crise política brasileira.
Mas como não há sinal de luz no final desse túnel, melhor deixar de lado as
mazelas nacionais.
O
processo eleitoral no Peru se distinguiu por duas particularidades: primeiro, que
o sindicalismo, representado pelo atual Presidente Ollanta Humala, foi mandado às favas, tendo recebido alto grau de
rejeição, a ponto de nenhum candidato, mesmo no primeiro turno, requerer o seu
apoio.
Com viés populista (por adotar um sem-número de
bolsas e programas sociais voltados para dar coisas ao povo) e de
centro-esquerda (por se render ao sistema econômico internacional e ao mesmo
tempo refutá-lo com discurso sindicalista ultrapassado), o atual mandatário não
conseguiu manter sua popularidade.
Já a segunda particularidade diz respeito ao populismo
que saiu derrotado, igualmente perigoso, no entanto de direita. A filha de
Alberto Fujimori (que, por sinal, está preso) obteve apoio nas camadas mais necessitadas
da população, em especial devido sua adesão a programas sociais direcionados para
dar coisas ao povo.
Tal qual Cristina Kirchner, na Argentina, e
guardando alguma semelhança com a brasileira Dilma Rousseff, a “mãe dos pobres”
da direita fujimorista também marcou sua campanha eleitoral com promessas de ampliação
de ajuda humanitária aos desfavorecidos.
Com aprimorada formação superior em Economia, o
presidente eleito conseguiu congregar, em torno de seu partido, o apoio dos que
demonstram preocupação com os rumos da economia peruana.
Defendendo austeridade nos gastos estatais e a
organização dum serviço público enxuto e pautado pela busca de eficiência, mediante
redução do número de servidores e dos custos operacionais, o PPK recebeu a
confiança da classe média peruana, o que permitiu decidir a eleição a seu favor.
Espera-se que o novo presidente logre, em sua equipe
de governo, valorizar a competência técnica para a gestão pública. Espera-se
mais, que as empresas estatais, como sempre em grande quantidade e caracterizadas
pela ineficiência, sejam fechadas, vendidas ou privatizadas, de forma a se privilegiar
uma economia dinâmica, que funcione sem a intervenção dos governos.
Todavia, não é fácil demonstrar que o crescimento da
economia, e não “bolsas-família”, é o que traz oportunidades à população. Sorte
ao Peru.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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