* Ecio Rodrigues
Confirmando-se
a hipótese que prevê a regularidade de distribuição, entre os 12 meses do ano, dos
2.000 milímetros anuais de chuva (número aproximado) que caem na Amazônia, não
haverá diferença sensível que justifique a caracterização do inverno e do verão
amazônicos.
Na
expressão dos pesquisadores que acompanham as curvas de pluviosidade e
temperatura na região, a histórica estacionalidade presente no clima tende a
desaparecer, se for mantido o comportamento observado nos últimos anos.
Certamente
que uma série de questionamentos surge diante da possibilidade de não haver
mais as duas costumeiras estações. É importante alertar, todavia: não existe
relação entre essa hipótese e a ocorrência de eventos extremos, como foi o caso
da alagação recorde de 2015.
Na
mesma medida, o tímido inverno que se observa agora, em 2016, e que tem
apresentado precipitação reduzida, não traz necessariamente como consequência
uma seca profunda a partir de julho. O raciocínio inverso também é válido,
tendo em vista que a ocorrência de uma seca extrema não está, de antemão,
descartada.
Como é
fácil notar, é muito difícil fazer previsões sobre o comportamento do clima.
Por sinal, nos últimos anos percebe-se certo frisson na mídia local quando se
aproxima o tempo de perguntar: Vai alagar? Vai secar? Vai apartar?
Interrogações
para as quais não existem respostas precisas, por uma razão singela: as
perguntas estão erradas. Ocorre que análises sobre o comportamento de curvas de
pluviosidade e outros parâmetros climáticos são realizadas com base em informações
obtidas em séries históricas, que possibilitam estabelecer uma conexão estatística
para reforçar determinada tendência, mas que não permitem nenhuma assertiva
conclusiva sobre o futuro.
Contudo,
a recorrência das perguntas sugere certa apreensão quanto ao que poderá ocorrer
no futuro próximo. Sendo assim, diante da impossibilidade científica (e mística)
de se prever o futuro quando o assunto é alagação e seca, 3 questões
pertinentes deveriam ocupar os jornalistas.
A
primeira delas diz respeito à existência de um sistema de alerta que permita se
antecipar à tragédia, tal qual o modelo organizado e posto em funcionamento na
Ásia no pós-tsunami. A experiência demonstra que a possibilidade de se prever o
evento climático, mesmo que com pouco tempo de antecedência, reduz os efeitos
nefastos das tragédias e os custos inerentes às obras de restauro.
Sistemas
de alerta devem ser precisos, o que requer, além de investimentos em
equipamentos sensíveis na detecção de alterações, a manutenção de equipe
técnica permanente de monitoramento. Obviamente, quanto maior a antecipação
mais eficiente será o sistema.
A
segunda questão diz respeito ao que aqui se denomina “resistência pública”; ou
seja, ao plano de contingência a ser seguido depois de acionado o alerta, o que
envolve as estruturas passíveis de ser disponibilizadas para evacuação das
populações, a existência de um fundo provisional para a cobertura de despesas e
assim por diante.
Finalmente,
a terceira questão se refere às ações a serem levadas a efeito, no médio prazo,
para ampliação da resiliência do Rio Acre, isto é, para aumentar a capacidade
de o rio assimilar e reagir a grandes flutuações de vazão.
O
importante não é perguntar se a tragédia vai ocorrer, mas se estamos preparados
para ela.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília.
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