O manejo do Cacau Nativo pelos extrativistas que habitam as margens do rio Purus, em Boca do Acre AM, adquire grande importância, na medida em que contribui para a geração de trabalho e renda na região e, por conseguinte, para a melhoria das condições sociais desses pequenos produtores. O manejo do cacau promove o uso sustentável da diversidade biológica existente no ecossistema florestal da Amazônia, uso este, por sua vez, que se apresenta como uma saída para a manutenção da floresta.
quarta-feira, 27 de abril de 2016
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Fim do verão e do inverno amazônicos desafia resiliência dos rios
* Ecio Rodrigues
Parece
que as pessoas ainda não se deram conta dos efeitos decorrentes das mudanças no
clima em seu cotidiano. Aqui na Amazônia é possível que o desaparecimento da
histórica estacionalidade que sempre dividiu o ano em inverno e verão faça
finalmente a ficha cair, como se diz.
Primeiro,
é sempre bom reforçar que, na Amazônia, o desmatamento e sua ampliação anual a
taxas persistentes e superiores a 5 mil km2 está na raiz de todos os
males, em especial no que diz respeito ao aquecimento global.
Significa
afirmar, sucintamente, que duas prioridades deveriam ser assumidas pelos
gestores públicos como emergenciais: o reflorestamento das áreas já desmatadas
e a redução a zero do desmatamento a partir de 2016.
Dito
isto, cabe analisar, num despretensioso exercício de presciência, quais poderiam
ser as consequências se as duas estações climáticas regionais – denominadas de inverno
(alta pluviosidade) e verão (baixa precipitação) – viessem a se confundir, a
ponto de a distinção entre ambas não ser mais perceptível.
A
palavra-chave, aqui, é “adaptação”.
Como
se sabe, existe estreito vínculo entre o comportamento das florestas e as
estações do ano, principalmente em função das alterações na oferta de três
insumos que as plantas e animais valorizam muito: água, temperatura e luz.
Para
usar o exemplo da oferta de luz, diga-se que o fotoperíodo (como preferem os
agrônomos) é bem maior durante o verão (que corresponde ao inverno amazônico).
Durante esta estação as plantas ficam expostas à luz do sol por um tempo mais
longo; por conseguinte, observa-se ampliação da fotossíntese e da produção de
flores e frutos, o que, enfim, costuma ser bastante admirado pela fauna
silvestre.
Se não
mais houver distinção entre o inverno e o verão amazônicos, tanto os humanos quanto
a fauna e a flora terão que se adaptar às novas condições climáticas.
Muitos
haverão de considerar que a ocorrência de uma única estação climática, durante
todo o ano, pode representar maior estabilidade na vazão dos rios e encerrar o
ciclo dos traumas relacionados às alagações, como a que aconteceu em 2015.
Enganam-se.
A estabilidade na pluviosidade não significa necessariamente o fim de eventos
extremos. Ainda que a vazão dos rios se mantenha durante a maior parte do ano
em níveis médios, alagações e secas vão continuar acontecendo – uma vez que as causas
desses eventos estão vinculadas a fatores como desmatamento, quantidade de carbono
jogada na atmosfera, aquecimento do planeta e alterações no clima.
A
palavra chave, nesse caso, é “resiliência”.
Entendendo-se
resiliência como a capacidade de o rio retornar ao estágio original depois de
sofrer algum tipo de impacto ou pela ocorrência de eventos extremos, pode-se
dizer que maior ou menor resiliência representa recuperação rápida ou lenta,
respectivamente, após uma alagação ou seca.
A
resiliência está diretamente relacionada à vazão do rio e, sobretudo, à
quantidade de biomassa florestal presente na mata ciliar. Assim, a taxa de desmatamento
evidenciada em determinada bacia hidrográfica irá interferir diretamente na
resiliência dos cursos d’água que integram essa bacia.
A adaptação
ao fim do inverno e do verão demandará pesquisas sobre a resiliência dos rios e
a interação entre água e floresta. Mas isso, hoje, não passa de utopia.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília.
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Será o fim do verão amazônico?
* Ecio Rodrigues
Confirmando-se
a hipótese que prevê a regularidade de distribuição, entre os 12 meses do ano, dos
2.000 milímetros anuais de chuva (número aproximado) que caem na Amazônia, não
haverá diferença sensível que justifique a caracterização do inverno e do verão
amazônicos.
Na
expressão dos pesquisadores que acompanham as curvas de pluviosidade e
temperatura na região, a histórica estacionalidade presente no clima tende a
desaparecer, se for mantido o comportamento observado nos últimos anos.
Certamente
que uma série de questionamentos surge diante da possibilidade de não haver
mais as duas costumeiras estações. É importante alertar, todavia: não existe
relação entre essa hipótese e a ocorrência de eventos extremos, como foi o caso
da alagação recorde de 2015.
Na
mesma medida, o tímido inverno que se observa agora, em 2016, e que tem
apresentado precipitação reduzida, não traz necessariamente como consequência
uma seca profunda a partir de julho. O raciocínio inverso também é válido,
tendo em vista que a ocorrência de uma seca extrema não está, de antemão,
descartada.
Como é
fácil notar, é muito difícil fazer previsões sobre o comportamento do clima.
Por sinal, nos últimos anos percebe-se certo frisson na mídia local quando se
aproxima o tempo de perguntar: Vai alagar? Vai secar? Vai apartar?
Interrogações
para as quais não existem respostas precisas, por uma razão singela: as
perguntas estão erradas. Ocorre que análises sobre o comportamento de curvas de
pluviosidade e outros parâmetros climáticos são realizadas com base em informações
obtidas em séries históricas, que possibilitam estabelecer uma conexão estatística
para reforçar determinada tendência, mas que não permitem nenhuma assertiva
conclusiva sobre o futuro.
Contudo,
a recorrência das perguntas sugere certa apreensão quanto ao que poderá ocorrer
no futuro próximo. Sendo assim, diante da impossibilidade científica (e mística)
de se prever o futuro quando o assunto é alagação e seca, 3 questões
pertinentes deveriam ocupar os jornalistas.
A
primeira delas diz respeito à existência de um sistema de alerta que permita se
antecipar à tragédia, tal qual o modelo organizado e posto em funcionamento na
Ásia no pós-tsunami. A experiência demonstra que a possibilidade de se prever o
evento climático, mesmo que com pouco tempo de antecedência, reduz os efeitos
nefastos das tragédias e os custos inerentes às obras de restauro.
Sistemas
de alerta devem ser precisos, o que requer, além de investimentos em
equipamentos sensíveis na detecção de alterações, a manutenção de equipe
técnica permanente de monitoramento. Obviamente, quanto maior a antecipação
mais eficiente será o sistema.
A
segunda questão diz respeito ao que aqui se denomina “resistência pública”; ou
seja, ao plano de contingência a ser seguido depois de acionado o alerta, o que
envolve as estruturas passíveis de ser disponibilizadas para evacuação das
populações, a existência de um fundo provisional para a cobertura de despesas e
assim por diante.
Finalmente,
a terceira questão se refere às ações a serem levadas a efeito, no médio prazo,
para ampliação da resiliência do Rio Acre, isto é, para aumentar a capacidade
de o rio assimilar e reagir a grandes flutuações de vazão.
O
importante não é perguntar se a tragédia vai ocorrer, mas se estamos preparados
para ela.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília.
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Reitores de universidades federais não deveriam ser eleitos
* Ecio Rodrigues
Os
alunos talvez desconsiderem, alguns servidores talvez entendam, e um grupo
bastante seleto de professores talvez concorde, mas a eleição de reitores nas
universidades federais se mostrou um grande equívoco.
Antes
de continuar é bom esclarecer que não existem estatísticas que tratem da
relação entre a eleição de reitores e o gerenciamento das universidades. Ou
seja, não há dados que ilustrem eventual posicionamento quanto às vantagens ou
desvantagens, em termos de gestão, da escolha dos dirigentes por meio desse
pseudopleito eleitoral.
Pseudopleito,
explica-se. Acontece que os eleitores não votam no reitor de forma direta.
Escolhem (por meio de voto ponderado, ressalve-se) os candidatos que vão compor
uma lista de indicados ao cargo de reitor.
Para entender.
Embora haja eleições em todas as 62 universidades federais, a realização dos
certames é amparada por uma legislação algo caótica, que prevê a realização de
“consulta” junto aos 3 segmentos universitários (alunos, servidores e
professores). Os mais votados nessa consulta passam a integrar uma lista tríplice
apresentada ao Ministério da Educação, MEC, que escolhe o reitor entre os elencados.
Por
conta da existência de um dito “acordo de cortesia” pactuado entre o MEC e as
universidades (um acerto um tanto hipócrita, aliás), o candidato mais votado é
sempre o escolhido.
Como
dito, a consulta se realiza por meio de voto ponderado. Significa que o voto de
cada segmento possui peso diferenciado: pelas regras, o voto do professor tem
peso de 70%; o voto do servidor, de 15%; e o do aluno, de 15%. Grosso modo,
pode-se dizer que cada voto de professor equivale aos votos de 5 alunos ou de 5
servidores.
Outro ponto
inusitado dessa consulta que todos tratam como eleição é o fato de que reitor e
vice-reitor são votados separadamente. Quer dizer que não se vota numa chapa,
como ocorre com presidente e vice, governador e vice etc. No caso das
universidades, os votos são usados para compor duas listas independentes: uma, com
os mais votados para o cargo de reitor; a outra, com os mais votados para
vice-reitor.
Sem
embargo, os candidatos montam chapas e fazem campanhas bem no estilo acirrado
da década de 1980. Um estilo cansativo, que não atrai os eleitores e que parece
ultrapassado até mesmo para a realidade dos sindicatos, que teimam em não se
atualizar. Não à toa, cada vez menos votantes acorrem às urnas.
Em que
pese a menção às esquisitices desse processo consultivo, não se propõem aqui
soluções para aprimorá-lo – trata-se simplesmente de negá-lo.
Mas,
convenhamos, negar que a eleição é o melhor caminho para contratar o reitor de
uma universidade federal não é tarefa fácil. Por sinal, aqueles que vivenciaram
o clima nas universidades na década de 1970 devem estar se perguntando qual
poderia ser, então, a alternativa à eleição.
Fácil
entender o questionamento. Quem viu coronéis nomeando sargentos (as patentes
não eram necessariamente essas) para o cargo de reitor e defendeu a eleição
como um baluarte da democracia não vai acreditar que tudo deu errado.
O
problema é que o pseudopleito, além de ser muito questionável do ponto de vista
democrático, revelou-se inadequado para selecionar os melhores para o cargo de
reitor – cujo perfil deveria ser ou de um excelente gestor publico, ou de um
cientista renomado, ou ambos. Mas ninguém vota num candidato por esses
atributos.
Nada
pior e mais nefasto para a universidade do que um inapto para o cargo ser
alçado à condição de reitor sob o poderoso lastro de uma eleição que não
deveria sequer ter acontecido e que, talvez por isso mesmo, cada vez é menos
representativa.
Para a
escolha de um reitor deve haver outro caminho. O caos nas universidades
federais evidencia isso.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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