* Ecio Rodrigues
Tendo
sobrevivido intacto ao plebiscito que daria lugar a três novos estados, o Pará continua
a ser, de longe, o diferencial diante das frágeis economias da região
amazônica. Tanto pela fartura em minérios quanto pela pujança do agronegócio,
os paraenses podem se orgulhar de ostentar a economia mais forte da Amazônia.
Voltada
predominantemente para a produção de carne de boi, a concentração fundiária
observada no meio rural chega a assustar. Mais de 90% da terra empregada na produção
primária pertence a menos de 10% dos empreendimentos, com Índice de Gini de
0,822, de acordo com o mais recente censo agropecuário, realizado em 2006.
Não
à toa, desde meados da década de 2000 o Pará apresenta as maiores taxas anuais
de desmatamento da Amazônia. Essa situação deve se agravar com a pavimentação
da BR 163 (ligando Cuiabá a Santarém), a ser concluída ainda em 2015.
Por
outro lado, mais da metade do território paraense não está disponível para o
agronegócio, uma vez que, segundo o setor de Monitoramento por Satélite da
Embrapa, o perímetro destinado às Unidades de Conservação (estaduais e
federais) e às Terras Indígenas abrange 54,67% da área estadual.
Há
que se adicionar aí o quinhão das propriedades rurais que de forma compulsória
a legislação contingencia como Reserva Legal e onde a implantação do
agronegócio é proibida, sendo possível apenas a produção de madeira sob a
tecnologia do manejo florestal. Ainda segundo a Embrapa, essa categoria
especial de áreas protegidas ocupa 453.100 hectares.
Essa
distribuição fundiária sugere que em apenas 9,07% do total de 1.249.179 km2
que integram o território estadual não existe impedimento legal para
implantação da pecuária e cultivo de grãos (sobretudo soja).
Na
verdade, a restrição é ainda maior, já que esse cômputo não leva em
consideração a superfície classificada como Área de Preservação Permanente,
ou APP. Para resumir, APPs são os fragmentos de floresta que protegem a água
dos rios e igarapés. Significa dizer que quanto maior a rede hidrográfica, mais
extensas serão as faixas de APPs.
Todavia,
parece que esses números não batem com as taxas recordes de desmatamentos
ostentadas pelo Pará nos últimos 10 anos. É possível concluir, na melhor das
hipóteses, que não há espaço territorial disponível, segundo a legislação
vigente, para ampliação das áreas destinadas ao agronegócio no Pará.
Ou,
para ser mais claro: no Pará, todo desmatamento pode ser ilegal.
A
expectativa dos paraenses para a COP 21, a reunião da ONU que será realizada em
dezembro próximo em Paris, França, com o propósito de negociar um novo acordo
climático global, depende, em última instância, da capacidade do Brasil em honrar
os compromissos que já apresentou para negociação na conferência – sobretudo
com relação à recuperação de pastagens degradadas, restauração florestal de
mata ciliar e construção de hidrelétricas.
Ocorre
que, na condição de um dos maiores, senão o maior, produtor nacional de energia
elétrica gerada das águas, o Pará deverá abrigar novas hidrelétricas, que se
somarão à de Tucuruí e à polêmica usina de Belo Monte.
A
ampliação da produção mundial de energia limpa por meio do aproveitamento da
força das águas será, seguramente, uma das principais metas acordadas entre os
países e um dos pontos principais para a redução das emissões de carbono do
Brasil até 2020.
Como
só no rio Tapajós está prevista a construção de mais 7 hidrelétricas, a
capacidade produtiva dos paraenses pode dobrar. É esperar para ver.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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