* Ecio Rodrigues
É mais fácil possuir um avestruz como
bicho de estimação (PET, da sigla em inglês) do que um papagaio nascido e
criado na Amazônia.
Essa afirmação, embora verdadeira,
evidencia uma grande anomalia. Resta perguntar que tipo de diretriz técnica pode
sustentá-la. Quer dizer, o que leva o Estado brasileiro a dificultar de forma
tão drástica o licenciamento ambiental para a criação de animais silvestres, a
ponto de criar esse tipo de contrassenso.
Na completa ausência de subsídios
técnicos para sustentar o pressuposto de que a criação de animais amazônicos
como PET pode acarretar danos ao ambiente florestal da Amazônia ou à economia da
região, a resposta a essas perguntas mais assusta que conforta.
Os ambientalistas mais ortodoxos,
aqueles que acreditam piamente que é possível impedir a exploração da floresta
amazônica pelo homem, costumam considerar que os três maiores problemas
ambientais que afligem a região são: lixo; queimada em quintais; e caça e captura
clandestina de bichos na floresta para fins de alimentação e domesticação.
Trata-se de um grande equívoco.
Por sinal, a quantidade de equívocos presentes nesses três “pecados capitais” é
tamanha, que qualquer argumentação contrária exigiria muito mais que um breve
artigo de jornal.
Mas, só a título de explicação, é
importante deixar claro quais são os reais problemas ambientais amazônicos, cujo
combate deveria concentrar os esforços de todos: desmatamento de florestas e
queimada.
De qualquer forma, o ponto é que
esse tipo de raciocínio tortuoso, que prescinde de justificativa técnica, frequentemente
vigora nos órgãos de licenciamento, levando por sua vez ao entendimento de que
a transformação de um papagaio em PET ajudaria a engrossar as estatísticas relacionadas
à caça clandestina. Nada mais enganoso.
Durante toda a história da
humanidade, muitas espécies foram tiradas do ambiente selvagem para servir aos
seres humanos como fonte de proteína, como matéria-prima para indumentárias e
calefação, e até como meio de transporte. No âmbito desses propósitos
(alimentação, aquecimento, transporte), as espécies mais dóceis, aquelas que
conquistaram a amizade das pessoas, se transformaram em bichos de estimação.
Em nenhum momento da história da
relação do homem com os bichos de estimação houve interferência na população de
animais existente em ambiente selvagem. Ou seja, caça clandestina e oferta
legalizada de bichos de estimação são, como dizem os estatísticos, variáveis com
comportamento indiferente entre si. Não há comprovação de influência de uma
sobre outra.
Por outro lado, animais vendidos
em criatórios legalizados jamais correram risco de extinção. Tome-se o exemplo
dos bichos exóticos vendidos aqui no Brasil – como o avestruz acima citado.
A conclusão é que a criação
doméstica de animais amazônicos vai, no médio prazo, ajudar a resolver pelo
menos duas questões prementes e cruciais: reduzir o risco de extinção de
espécies e, o mais importante, ampliar o valor do habitat desses animais, ou
seja, da floresta.
Afinal, depois de mais de 50 anos
de vigência das legislações de proteção à fauna – quer dizer, depois de 50 anos
de fiscalização e aplicação de multas –, os animais silvestres amazônicos
continuam ameaçados.
Óbvio, portanto, que esse não é o
caminho. E o mercado de PET pode ajudar a transformá-lo.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília.
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