* Ecio Rodrigues
Importante ressaltar de pronto: sob a perspectiva da
sustentabilidade, não adianta reciclagem sem reuso.
Como o que importa, em termos ecológicos, é a redução
das matérias-primas indesejáveis no meio ambiente, dar novos usos a produtos
confeccionados com PET (politereftalato de etileno) não traz nenhum benefício
para a sustentabilidade ecológica do planeta. Pelo contrário, a cada novo uso,
uma quantidade maior desse material indesejável será, obviamente, produzida.
Para entender melhor. A produção de PET é indesejável
por uma razão de fácil compreensão: geração de lixo inorgânico. Ocorre que esse
tipo de matéria-prima, usada em especial na fabricação de embalagens de
alimentos e bebidas, demora cerca de 1.000 anos para desaparecer do ambiente.
Significa, então, que as embalagens de PET usadas e
descartadas permanecem nos lixões por um período não inferior a mil anos – ou
seja, para sempre. Resíduos orgânicos como papel também lotam os lixões, porém
com uma diferença fundamental: desaparecem (ou voltam ao ciclo natural) em
semanas ou dias.
A demanda pela produção de PET surgiu e se ampliou
justamente em função da possibilidade de reciclagem, já que se trata de uma
matéria-prima com propriedades termoplásticas, que pode ser reprocessada
diversas vezes. Embora inventada pelos britânicos na década de 1940,
somente na década de 1970 deu-se a produção das primeiras garrafas.
Depois, na década de 1980, americanos e canadenses
começaram a reciclar garrafas PET, inicialmente para a manufatura de tecidos,
lâminas e recipientes para produtos não alimentícios; mais tarde, já nos anos
1990, chegou-se ao uso do PET reciclado para o acondicionamento de bebidas e alimentos.
O fato é que, como a cada novo uso a demanda aumenta,
atualmente a produção de PET alcança cifras assustadoras, a ponto de
representar expressivo fator de receita para a multimilionária indústria do
petróleo. Quer dizer, essa poderosíssima indústria, que vende gasolina e diesel,
por incrível que pareça, teme perder ou ter que reduzir o seu setor de PET.
Voltando ao título desse artigo, há uma questão que
deve ser levantada, sobre a qual existe muita desinformação. Se não adianta
reciclagem sem reuso, a confecção de árvores de natal com garrafas PET não traz
nenhum benefício para o meio ambiente.
Suponha-se que todas as cidades, das mais de cinco
mil existentes no Brasil, fizessem sua decoração de natal com árvores de garrafa
PET. O que tal medida representaria para a redução da quantidade de PET
produzida no país? A resposta é: nada, coisa nenhuma.
Pior ainda, como as garrafas usadas nas árvores de
natal não voltam a ser garrafas, o que acaba acontecendo – repita-se – é a ampliação
da demanda por PET. No fim, vai tudo parar nos lixões, aumentando ainda mais a
poluição.
Pois bem. Se, por um lado, o Natal de PET não implica
ganhos para a sustentabilidade do planeta, por outro, possui valor estético
discutível, já que as árvores de garrafa, decididamente, não são nenhum exemplo
de refinamento. No fim das contas, portanto, não faz o menor sentido usar
garrafas PET na decoração natalina.
E, se não faz sentido em qualquer lugar do país, o
que dizer no caso das cidades amazônicas? Na Amazônia, além de evidenciar
desconhecimento sobre o tema da sustentabilidade, as arvores de garrafas PET são
quase uma heresia. Afinal, estamos falando da maior floresta tropical do mundo,
onde árvores de verdade não faltam!
Natal de PET. Não deixa de ser sintomático que, em
plena floresta amazônica, as árvores de garrafa PET sobreponham-se às verdadeiras.
* Professor da Universidade
Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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