* Ecio Rodrigues
Em 2014, o desmatamento na Amazônia reduziu 18%, tendo
alcançado uma área inferior a 5.000 km².
Não se trata, obviamente, de uma área pequena –
longe disso. Todavia, depois do susto tomado em 2013, quando o desmatamento
cresceu 28% e os analistas chegaram a prever um “repiquete”, vale dizer, uma
nova e perigosa fase de elevação, a queda de 2014 foi recebida com entusiasmo.
Mas ainda é cedo para conjecturas, e a concretização
de alguma tendência, de declínio ou de ascensão, vai depender do que ocorrer
daqui para a frente. Se houver recuperação econômica, junto com obras de expansão
da infraestrutura (por exemplo, o asfaltamento da rodovia BR 319, entre Porto
Velho e Manaus), certamente o risco da ampliação do desmatamento aumentará consideravelmente.
Além da redução ocorrida na taxa de desmatamento, 2014
trouxe outras boas novas para a Amazônia e a conquista da sustentabilidade.
Os resultados obtidos na COP 20, reunião da ONU realizada
em Lima, foram positivos, na medida em que um novo acordo climático global, em
substituição ao Protocolo de Kyoto, deverá ser assinado em Paris no final de
2015.
A expectativa é a de que o novo acordo climático seja
inflexível em relação ao desmatamento e, o melhor, estabeleça mecanismos para a
valorização das formações florestais como instrumento-chave da chamada economia
de baixo carbono.
Significa que, num futuro cada vez mais próximo, o
país que conservar áreas de florestas, sobretudo nativas e especialmente na
Amazônia, terá acesso a recursos financeiros compensatórios e volumosos.
A composição do Fundo das Mudanças Climáticas, que
recebeu aportes consideráveis dos países desenvolvidos, demonstra que o tema do
aquecimento do planeta chegou à condição de prioridade política internacional.
E falando em ganhos para a sustentabilidade da
Amazônia, não se pode deixar de fazer referência – por mais contraditório que
possa parecer – às implicações decorrentes da crise de água no Sudeste do país.
Tudo indica que, no caso da expressiva queda observada
no volume d’água do Sistema Cantareira (para dar o exemplo de são Paulo), os
efeitos das alterações no clima se concretizaram na falta de chuvas.
Pois bem. Existem evidências científicas de que o
desmatamento na Amazônia, sua localização e ampliação anual, interfere no regime
pluviométrico da região Sudeste, aumentando ou reduzindo a quantidade de água
que cai do céu.
Ou seja, a destruição das florestas – de longe o
mais grave problema ambiental da Amazônia – além dos inúmeros prejuízos sociais
e econômicos que causa na própria região, ainda pode ter parcela de culpa na
seca que aflige São Paulo.
Mas, enfim, sem querer fazer apologia da tese
“quanto pior, melhor”, não há dúvida que esse tipo de constatação é importante
para a sustentabilidade, já que ajuda a fechar o cerco contra o desmatamento.
Resta mencionar, finalmente, o estudo desenvolvido
pela Embrapa e que, tendo sido praticamente ignorado pela imprensa, pôs em
xeque a produtividade da pecuária na Amazônia, onde para cada boi criado é
necessário desmatar um hectare de floresta.
Quem sabe, as conclusões desse estudo tragam à tona
o que deveria ser óbvio: o fato de que uma atividade com produtividade tão
irrelevante não pode ser financiada com dinheiro público.
A desmitificação da pecuária como atividade
importante para a região aproxima a Amazônia da sustentabilidade. Se é para
criar boi, que seja longe daqui.
* Professor da Universidade
Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.