* Ecio Rodrigues
Diante da divulgação da nova taxa de desmatamento, alusiva
ao período de agosto/2013 a julho/2014, fosse o Acre governado por outro grupo
político, estaria sujeito à fúria do Governo Federal. Ocorre que, de acordo com
o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, o desmatamento recuou na
Amazônia, e esse recuo só não foi maior por causa da perigosa elevação ocorrida
no Acre.
Para explicar melhor. Os dados do Prodes (projeto
oficial de monitoramento do desmatamento na Amazônia e que envolve as pastas de
Ciência e Tecnologia e de Meio Ambiente), anunciados dia 26 de novembro último,
demonstram, para a felicidade geral, que houve uma diminuição de 18% no
desmatamento ocorrido na região, em relação ao período anterior.
Além de se tratar de uma excelente notícia, essa
redução contraria todos os prognósticos suscitados em levantamentos parciais, evidenciando,
por parte do Ministério do Meio Ambiente, uma forte disposição no sentido de reverter
o que os especialistas chamaram de “repiquete do desmatamento” – em referência
ao aumento detectado no intervalo entre 2012 e 2013, equivalente a 28%.
Ou seja, a comemoração é dupla. Reverteu-se o que
poderia ser uma tendência de elevação e, pela segunda vez desde que se
iniciaram as medições, o desmatamento na Amazônia foi inferior a 5.000
quilômetros quadrados (ficou em 4.848 km²). A primeira vez que isso ocorreu foi
no período 2011/2012.
Essas são as boas novas. A notícia ruim, muito ruim,
é que, no Acre, o desmatamento, longe de diminuir, aumentou em 41%.
A ampliação do desmatamento no Acre provoca, nos
envolvidos com o tema, um misto de consternação e insegurança.
Consternação porque, diferentemente do que vem
ocorrendo nos últimos cinco anos, o Acre sempre apareceu nas estatísticas anuais
de desmatamento como um território exemplar, onde supostamente a preocupação com
o meio ambiente seria superior à evidenciada pelos demais estados amazônicos. Ao
que parece, todavia, não é bem assim.
Insegurança, porque a elevação do desmatamento no Acre
envolve uma nova e perigosa dinâmica, já que as áreas desmatadas tomam as
margens dos rios e, na maioria das vezes, são inferiores a seis hectares – vale
dizer, remetem às pequenas propriedades. O controle do desmatamento em pequenas
superfícies e na mata ciliar dos rios exige dos órgãos de monitoramento um
esforço para o qual não estão preparados.
Insegurança, ainda, em relação ao futuro de uma
imensa região coberta por florestas que abrigam, ou protegem, as cabeceiras de
rios importantes, como Juruá, Purus, Acre, Envira e Tarauacá, somente para
ficar nos mais conhecidos.
E por falar em Tarauacá, esse município contribuiu
significativamente para o aumento do desmatamento no Acre. Diga-se, aliás, que
ao longo de 2014, Tarauacá, Feijó e Manoel Urbano ficaram se revezando na lista
dos 10 municípios que mais desmataram na Amazônia.
Pode ser que o aumento assustador do desmatamento no
Acre não tenha nada a ver com a aprovação do novo Código Florestal em 2012 – lei
que, de forma indireta, beneficiou o agronegócio. Pode ser também que não tenha
nada a ver com a conclusão da pavimentação da rodovia BR 364 em 2011. E pode
ser, ainda, que não tenha nada a ver com as políticas públicas levadas a efeito
pelo governo estadual, focadas primordialmente na promoção da agropecuária.
Mas pode ser que tenha.
A extemporânea alagação ocorrida em Tarauacá foi uma
advertência que não pode ser ignorada. Alguma atitude deve ser tomada, já.
* Professor da Universidade
Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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