segunda-feira, 9 de junho de 2014

Novas tecnologias ou mudança no padrão de consumo, qual a saída?



* Ecio Rodrigues
Não há mais espaço para dúvida: o planeta está aquecendo. Também não há dúvida de que as mudanças no clima trarão prejuízos econômicos e catástrofes ecológicas imprevisíveis.
E finalmente, graças ao último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês), organismo da ONU responsável pelo monitoramento do clima no planeta, já não se duvida que a culpa pelo aquecimento global recai sobre as atividades humanas.
Ou seja, foi o nosso modo de se locomover, de morar, de se vestir e de se alimentar, só para citar as demandas mais importantes da humanidade, que conduziu o planeta à rota sem volta do aquecimento – que, por sua vez, leva à instabilidade no clima e à ocorrência de alagações, secas, tsunamis, entre outros eventos extremos.
Sem embargo, embora esse diagnóstico seja aceito pela maioria dos países, não havendo necessidade de se invocar o irrelevante e duvidoso princípio da precaução, a busca por soluções ainda ensejará muita controvérsia.
A discussão sobre o que fazer para alterar o processo, irreversível até o momento, de aquecimento do planeta tem mobilizado os fóruns internacionais. Os países, em meio às dificuldades econômicas e à perigosa ampliação das desigualdades sociais, não conseguem encontrar um rumo consensual para salvar o planeta de uma crise ecológica sem precedentes.
Como assinala Fabián Echegaray, em artigo publicado na revista Ideia Sustentável, edição 34 (que pode ser acessado em ideiasustentavel.com.br/revista), “Diante das comprovações [sobre o diagnóstico do aquecimento global], o foco passa a estar agora nas soluções: dar preferência às mudanças de estilo de vida ou às mudanças trazidas pela tecnologia?”
Para os que defendem ações relacionadas ao desenvolvimento de novas tecnologias (designadas como “verdes”, “limpas”, e assim por diante), surge uma grande oportunidade, no que diz respeito à estruturação de novos mercados.
Incluídas no rol de possibilidades da denominada economia de baixo carbono, essas inovações tecnológicas assentarão as nações que nelas investirem, agora, numa posição estratégica, no futuro.
Há exemplos mundo afora de países que estão destinando volumosos recursos públicos para a estruturação de uma matriz energética baseada em fontes renováveis. A Alemanha, por exemplo, é, atualmente, líder no campo da energia solar e eólica, tanto na área de pesquisa quanto na de instalação de unidades de geração de energia elétrica.
O tema da energia, por sinal, seja no âmbito da geração, seja no que se refere à otimização do uso e ampliação da eficiência energética, tem merecido atenção especial. Tudo indica que será por meio da substituição dos combustíveis fósseis usados na produção de energia elétrica (como é o caso do petróleo e do carvão mineral) que a ainda incipiente economia de baixo carbono irá deslanchar.
Por outro lado, para os críticos do consumo excessivo e perdulário, que consideram o modelo americano de sociedade o exemplo a não ser seguido, só uma profunda alteração nos atuais hábitos de consumo salvará o planeta.
Vale dizer, não adianta apenas o emprego da madeira ou de outros recursos naturais renováveis na fabricação de bens de consumo, ou a fabricação de um carro que seja mais eficiente no uso de combustível, o problema está no consumo em si, o problema está na existência do carro – teríamos que começar a rever nossos padrões de consumo e começar a andar de bicicleta ou a pé.
Enquanto não se chega a um equilíbrio entre esses caminhos, a nações com visão estratégica investem na economia de baixo carbono. Deveríamos fazer o mesmo. 
     
* Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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