* Ecio Rodrigues
Não há mais espaço para dúvida: o planeta está
aquecendo. Também não há dúvida de que as mudanças no clima trarão prejuízos
econômicos e catástrofes ecológicas imprevisíveis.
E finalmente, graças ao último relatório do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês),
organismo da ONU responsável pelo monitoramento do clima no planeta, já não se
duvida que a culpa pelo aquecimento global recai sobre as atividades humanas.
Ou seja, foi o nosso modo de se locomover, de
morar, de se vestir e de se alimentar, só para citar as demandas mais
importantes da humanidade, que conduziu o planeta à rota sem volta do
aquecimento – que, por sua vez, leva à instabilidade no clima e à ocorrência de
alagações, secas, tsunamis, entre outros eventos extremos.
Sem embargo, embora esse diagnóstico seja aceito
pela maioria dos países, não havendo necessidade de se invocar o irrelevante e
duvidoso princípio da precaução, a busca por soluções ainda ensejará muita controvérsia.
A discussão sobre o que fazer para alterar o
processo, irreversível até o momento, de aquecimento do planeta tem mobilizado
os fóruns internacionais. Os países, em meio às dificuldades econômicas e à perigosa
ampliação das desigualdades sociais, não conseguem encontrar um rumo consensual
para salvar o planeta de uma crise ecológica sem precedentes.
Como assinala Fabián Echegaray, em artigo
publicado na revista Ideia Sustentável, edição 34 (que pode ser acessado em
ideiasustentavel.com.br/revista), “Diante das comprovações [sobre o diagnóstico
do aquecimento global], o foco passa a estar agora nas soluções: dar
preferência às mudanças de estilo de vida ou às mudanças trazidas pela
tecnologia?”
Para os que defendem ações relacionadas ao
desenvolvimento de novas tecnologias (designadas como “verdes”, “limpas”, e
assim por diante), surge uma grande oportunidade, no que diz respeito à estruturação
de novos mercados.
Incluídas no rol de possibilidades da denominada
economia de baixo carbono, essas inovações tecnológicas assentarão as nações
que nelas investirem, agora, numa posição estratégica, no futuro.
Há exemplos mundo afora de países que estão destinando
volumosos recursos públicos para a estruturação de uma matriz energética
baseada em fontes renováveis. A Alemanha, por exemplo, é, atualmente, líder no
campo da energia solar e eólica, tanto na área de pesquisa quanto na de instalação
de unidades de geração de energia elétrica.
O tema da energia, por sinal, seja no âmbito da
geração, seja no que se refere à otimização do uso e ampliação da eficiência
energética, tem merecido atenção especial. Tudo indica que será por meio da substituição
dos combustíveis fósseis usados na produção de energia elétrica (como é o caso
do petróleo e do carvão mineral) que a ainda incipiente economia de baixo carbono
irá deslanchar.
Por outro lado, para os críticos do consumo
excessivo e perdulário, que consideram o modelo americano de sociedade o
exemplo a não ser seguido, só uma profunda alteração nos atuais hábitos de
consumo salvará o planeta.
Vale dizer, não adianta apenas o emprego da
madeira ou de outros recursos naturais renováveis na fabricação de bens de
consumo, ou a fabricação de um carro que seja mais eficiente no uso de
combustível, o problema está no consumo em si, o problema está na existência do
carro – teríamos que começar a rever nossos padrões de consumo e começar a andar
de bicicleta ou a pé.
Enquanto não se chega a um equilíbrio entre
esses caminhos, a nações com visão estratégica investem na economia de baixo
carbono. Deveríamos fazer o mesmo.
* Professor da Universidade Federal do Acre,
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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