segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Falta planejamento na Amazônia? Óbvio que não.



* Ecio Rodrigues
Aqui no Brasil, nunca se falou tanto em planejamento de políticas públicas, tampouco se discutiram e elaboraram tantos planos, como nos últimos 25 anos. Parece que, com o fim da ditadura militar, o desejo de tomar parte nas decisões sobre os assuntos que antes não podiam ser discutidos foi traduzido, pela sociedade, na necessidade de se planejar a qualquer custo.
Assim, sem necessariamente entenderem do assunto, representantes de organizações da sociedade civil se viram participando do planejamento de ações de política pública direcionadas para um conjunto diversificado de temas e setores.
Para dar uma ideia ligeira do quão grande era a vontade de planejar, diga-se que, apenas com relação à Amazônia e restringindo-se tão somente à área ambiental, pelo menos 12 procedimentos de planejamento foram concluídos só nos últimos dez anos.
Dos planejamentos mais sofisticados, como o Zoneamento Ecológico Econômico, aos mais simples – como talvez seja o caso do Plano de Resíduos Sólidos –, outros 10 planos foram elaborados para a região: Plano de Saneamento Básico; Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável; Plano de Recursos Hídricos; Agenda 21; Plano de Gestão de Risco e Respostas a Desastres; Plano de Conservação e Recuperação de Nascentes e Matas Ciliares; Plano de Gestão Integrada da Orla; Plano de Habitação; Plano de Mobilidade Urbana e Plano Diretor Participativo.
São tantas as implicações oriundas das diretrizes previstas nesses 12 planos, que poucos gestores conseguem distinguir até onde vai um plano e onde começa o outro. Dessa forma, chegou-se ao cúmulo de se contratarem consultores para unificá-los.
Mas, diante da nossa dificuldade em executar o que foi planejado, o que acontece é que, independentemente do tempo e do dinheiro gastos em todo o procedimento, o resultado não é levado a efeito, e as metas e objetivos são simplesmente esquecidos. No final das contas, é como se o processo de planejamento tivesse um fim em si mesmo, e os documentos ali originados, que deveriam ser sucintos e objetivos, são em geral extensos e pedantes, impossíveis de ser postos em prática; acabam servindo apenas para cobrir as estantes dos órgãos públicos.  
Duas constatações podem surgir dessa vontade de planejar e da dificuldade de consumar o que se planeja. A primeira é que não existe cultura de planejamento no país. Já a segunda constatação, mais complexa, diz respeito à competência para planejar. Parece existir uma carência generalizada de profissionais com formação e experiência para conduzir processos de planejamento. Por isso, em regra os planejamentos não levam a lugar nenhum.
No âmbito ambiental, o caso das reservas extrativistas é sintomático. Nos termos dispostos na legislação ambiental, para que a reserva extrativista, após sua criação, venha a ser gerenciada pelo órgão responsável, o ICMBio, é mandatória a elaboração de um Plano de Manejo da Unidade, um documento de planejamento que prescreve, entre outros elementos, o zoneamento produtivo da reserva.
Depois, para que o produtor possa explorar qualquer produto florestal (a madeira, por exemplo), é necessário um Plano de Manejo específico para aquela atividade produtiva – que deve ser licenciada pelo órgão ambiental competente. Além disso, ambos os planos devem estar de acordo com o Plano de Utilização da Reserva Extrativista. Parece até brincadeira!
A despeito de todos esses planos, contudo, o fato é que, até hoje, passados mais de vinte anos da criação da primeira reserva extrativista, nenhuma – nenhuma! – funciona como deveria. Conforme demonstrado na auditoria realizada pelo TCU em 2013, nenhuma das reservas extrativistas criadas no país atinge os objetivos que justificaram o investimento público na sua instalação.
O excesso de planos e o seu pífio resultado não deixam dúvidas de que a Era de Planejar passou. Temos que, urgentemente, chegar à Era de Executar.    

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

Nenhum comentário:

Postar um comentário