* Ecio Rodrigues
Recente relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), instituição ligada à ONU responsável por monitorar o aquecimento global e consequentes mudanças climáticas, não deixa dúvida: o aumento da temperatura do planeta é sim uma tendência.
Ao processar os dados relacionados à temperatura mundial durante o ano de 2020, a conclusão da OMM é deveras preocupante. A despeito do contexto de isolamento social, que afetou duramente o sistema de transporte de pessoas no mundo, constatou-se que a quantidade de calor continuou se elevando.
Isso é assustador, como vem alertando de forma incisiva a ONU. Com efeito, esperava-se que a contração da dinâmica econômica ocasionada pela pandemia levaria a um abatimento na temperatura, em face da expressiva queda na quantidade de carbono lançada na atmosfera por cada país.
Para dar uma ideia do impacto da pandemia na economia, basta dizer que o PIB americano amargou uma retração inédita em 2020, ficando em 3,5% negativos. E os EUA nem estão entre os países que apresentaram os piores cenários – no caso do Brasil, por exemplo, o PIB desceu à dolorosa marca de 4,1% negativos.
Contudo, mesmo com a drástica redução havida nas emissões, a temperatura continuou a subir. Tudo indica que essa elevação ocorreu por inércia, em decorrência da quantidade de carbono já acumulada na atmosfera.
Diante disso, 2020 se tornou um dos 3 anos mais quentes de todos os tempos – pelo menos desde 1850, quando se iniciaram as medições.
E (mais uma vez fazendo referência às advertências da ONU) se os países não assumirem metas mais rigorosas de redução das emissões, com aplicação imediata, a recuperação da economia mundial pode levar a novos recordes de aquecimento global.
Do lado de cá, a situação não é menos grave.
Certamente as atividades no meio rural brasileiro não sofreram tanto com as restrições impostas pelas medidas de isolamento social.
Nosso forte e poderoso agronegócio segurou mais da metade do PIB nacional em 2020 – o que demonstra que o processo envolvendo plantio e colheita, inteiramente mecanizado e repleto de inovações tecnológicas, continuou acontecendo, com a sua usual eficiência.
Por sua vez, o desmatamento e as queimadas na Amazônia não só continuaram como aumentaram. Considerando que a maior parte da contribuição do Brasil para o estoque de carbono lançado na atmosfera vem dessas duas mazelas, deduz-se que a pandemia não interferiu sobre a parcela de responsabilidade dos brasileiros no aquecimento global.
Assim se deu na imensa maioria dos países que dependem do agronegócio da soja, do milho e da carne de boi (citando apenas as commodities mais comuns) como principal atividade econômica.
Para os cientistas da OMM as perspectivas para 2021 não são nada promissoras, pois a humanidade parece ter deixado de lado a crise ecológica. O que é bastante compreensível, em função da crise sanitária.
Porém, na visão daqueles especialistas, uma vez transcorrida a vacinação, as pessoas precisam voltar sua atenção para a temperatura do planeta. Por isso defendem, com muita certeza científica, que 2021 deveria ser o ano da economia de baixo carbono em todo o mundo.
Durante a “Cúpula de Líderes para o Clima”, evento inventado e organizado pelos EUA em abril, o governo americano divulgou que o Acordo de Paris seria alçado à condição de projeto de nação. Afora essa auspiciosa novidade, contudo, poucas decisões concretas foram tomadas pelos países.
Da mesma maneira como fez a OMS, em 2019, a respeito da pandemia, a OMM alerta o mundo quanto à emergência climática. Como já sabemos, os incrédulos sofrem mais. A história não pode se repetir.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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