* Ecio Rodrigues
Passada
a ressaca eleitoral no país vizinho, o povo argentino se depara agora com
decisões que certamente remetem a uma forma diferente de governar.
Num
resultado eleitoral considerado histórico, os argentinos fizeram uma mudança sem
precedentes no governo daquele país, colocando em xeque o modelo político e,
mais importante ainda, o modelo econômico levado a efeito na América Latina,
sobretudo a partir do ano 2000.
Um
modelo político de certa maneira cultivado no Brasil e na Venezuela, e que
rapidamente se alastrou por Bolívia, Peru, Paraguai e Equador, somente para
ficar nos mais próximos. Um modelo que se desgastou em todos esses países nos
quais foi implantado e que sofreu seu primeiro revés expressivo na Argentina.
Considerado,
de forma um tanto romântica pela imprensa, como “de esquerda”, esse modelo
político, resumidamente, tem como principal referência a ascensão de um
sindicalismo que se preocupa menos com o aprimoramento das relações entre
capital e trabalho e mais com o poder político representado pelas vitórias
eleitorais.
Possivelmente
a designação mais acertada para esse modelo seja “populismo de centro-esquerda”,
uma vez que propugna um assistencialismo exacerbado (por isso o viés populista),
associado a um corolário econômico que se intitula socialista (por isso o viés
de esquerda), mas que não pode fugir das exigências do capitalismo globalizado
(por isso o viés de centro).
Complexo
para explicar e mais ainda para entender. O fato é que o modelo se mostrou dependente
de uma composição política que distribui cargos em quantidade suficiente para
manter a governabilidade. Equipes de gestores são formadas em função de sua fidelidade
ao modelo, mesmo que essa escolha comprometa a governança – devido a uma
inequívoca falta de vocação para a gestão estatal.
Um
erro manifesto, evidente. Ocorre que equipes de governo devem ser compostas
para garantir governança, e não governabilidade. Quer dizer, o foco deve estar
na eficiência para o gerenciamento da máquina pública.
Diferentemente,
quando as equipes são compostas para atender, como dizem os cientistas políticos,
demandas de governabilidade, o propósito se resume em evitar (como no caso
brasileiro) que os políticos eleitos tenham seus mandatos cassados ou, dizendo
de oura forma, venham a ser impitimados (para usar uma palavra aportuguesada do
inglês e um tanto estranha).
Os
resultados desastrosos desse recorrente equívoco são facilmente observados nas
incompetências usuais da gestão pública brasileira, em que o gestor público é amiúde
escolhido e nomeado (com pouquíssimas exceções) independentemente de sua
formação ou experiência profissional.
No
modelo rejeitado pelos argentinos, a incompetência na gestão estatal era,
paradoxalmente, reforçada por um Estado cada vez mais presente na vida das
pessoas. Um Estado caro, colossal, inchado e ineficiente, que impede a
sociedade de promover a dinâmica da economia.
Espera-se
que a decisão dos argentinos repercuta na região e que a prestação dum serviço
público mais satisfatório para a sociedade seja percebida logo de imediato – lá
e, claro, nos países vizinhos.
Espera-se
mais, que fatores como currículo e formação técnica da equipe de gestores
públicos argentinos logrem engendrar na sociedade o consenso de que o Estado
não pode cuidar de empresas aéreas ou de mais de 140 empresas que produzem de
peixe a computador, como acontece por aqui.
Menos
órgãos públicos, mais empresas privadas e mais sociedade civil. Se o rótulo
para isso é liberalismo, que seja. Esse, o principal recado dos argentinos para
a região.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento Sustentável
pela Universidade de Brasília.
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