* Ecio Rodrigues
Em suma,
a existência de florestas, notadamente as que são consideradas especiais e que
ocupam as faixas de mata ciliar, não vai impedir a alteração no regime de
chuvas – cuja dinâmica depende do processo de mudanças climáticas, guardando
certo grau de imprevisibilidade.
Todavia,
se não é possível prever com exatidão a quantidade de chuvas que irá cair numa
certa localidade, num espaço de tempo significativo (durante uma determinada estação
do ano, por exemplo), já é possível afirmar, de outra banda, que a presença
duma quantidade maior de biomassa nas margens de um rio – seja mediante a
ampliação da largura da faixa de mata ciliar, seja mediante o adensamento da
quantidade de árvores ali existentes – garante maior equilíbrio hidrológico ao rio.
Significa
dizer que o rio não só apresentará diferenças de vazão menos acentuadas como
também (e mais importante) apresentará maior resiliência, ou seja, maior
capacidade para reagir às flutuações abruptas de vazão.
Portanto,
continuando o raciocínio, pode-se dizer que as funções exercidas pela mata
ciliar vão muito além dos corriqueiros e difundidos serviços de controle de
assoreamento e de manutenção de habitat para fauna terrestre.
Essas
funções incluem, por exemplo, o isolamento da água do rio de queimadas e
incêndios florestais, que elevam a temperatura e matam a ictiofauna; ou, ainda,
o sequestro de carbono, possibilitando a imobilização duma expressiva
quantidade desse gás, considerado o mais perigoso para o efeito estufa.
Sendo
assim – e ainda que à primeira vista essa constatação possa aparentar algum exagero
– a restauração florestal da faixa de mata ciliar existente ao longo dum rio
poderá auxiliar na estabilidade da vazão e no equilíbrio hidrológico desse curso
d’água, reduzindo os efeitos de eventos extremos, como secas e alagações
prolongadas.
Abram-se
aqui parênteses, a fim de esclarecer o emprego – proposital – do termo “prolongado”
na adjetivação dos eventos extremos.
A
aferição do tempo de duração das calamidades (em especial no caso das alagações)
é uma tendência cada vez mais comum, já que essa intermitência temporal irá
repercutir nas ações estatais levadas a cabo de maneira geral e, em especial, na
assistência prestada aos atingidos.
Em síntese,
não só os extremos de vazão estão cada vez mais preocupantes (ou seja, os
níveis mínimos de água estão cada vez mais mínimos, e os máximos, cada vez mais
máximos) como também o tempo de duração desses extremos de vazão vem se
alargando. A cada evento percebe-se que o rio permanece por mais tempo muito seco
e por mais tempo muito alagado, exigindo da sociedade um investimento cada vez
maior de recursos públicos.
A boa
notícia é que existe uma saída, e ela está na mata ciliar. Todavia, como a
relação entre a água que flui no rio e a floresta presente na mata ciliar demorou
a chamar a atenção dos pesquisadores, ainda existem poucos estudos sobre o
tema.
Cabe
à política pública promover a realização de pesquisas sobre a relação entre a mata
ciliar e a ocorrência de eventos extremos, bem como fomentar a execução de
projetos voltados para a restauração desse tipo peculiar de florestas.
Somente
por meio duma política púbica que considere os serviços prestados pela mata
ciliar – reconhecendo, inclusive, a conveniência em remunerar-se o produtor pelo
manejo dessas formações florestais, com o objetivo precípuo de favorecer a
interação água/floresta – será possível alcançar o equilíbrio hidrológico do
rio.
Afinal,
uma coisa é certa. Quanto mais biomassa florestal existir na mata ciliar, maior
será a influência no equilíbrio hidrológico do rio.
* Professor Associado da
Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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