* Ecio Rodrigues
Há quase dez anos os engenheiros florestais
(formados e em formação) vinculados à Universidade Federal do Acre aventavam a possibilidade
de organizar-se um evento com periodicidade anual e que ocorresse no início do
período letivo – o que coincidiria com o início da safra florestal.
Surgiu dessa forma a “Semana Florestal”. Trata-se da
reunião de um grupo de acadêmicos e não acadêmicos sob dois pressupostos comuns:
o envolvimento com o setor florestal do Acre e a crença de que o aproveitamento
dos recursos florestais constitui a principal, talvez única, estratégia de
desenvolvimento para a região.
A primeira edição da Semana Florestal ocorreu em 2007.
Sob o slogan “Biodiversidade: ver a floresta que existe além das árvores”,
foram discutidas as implicações decorrentes do aproveitamento da
biodiversidade. Depois, enfrentou-se o espinhoso tema do gargalo tecnológico (“Desenvolvimento
Tecnológico e Alternativas Florestais”, segunda edição), chegando-se ao exame
de uma tecnologia específica para a exploração do ecossistema (“Manejo
Florestal de Uso Múltiplo”, terceira edição).
A quarta edição da conferência (“Reservas Extrativistas:
uma fonte de renda inexplorada”) chamou a atenção para o manejo florestal
comunitário, certamente um dos principais legados do Acre para a política
florestal da Amazônia. Em seguida, os debates abordaram o papel das empresas do
setor florestal (“Manejo Florestal Empresarial: um mercado promissor e
sustentável”, quinta edição), a importância da madeira para a geração de energia
(“Biomassa Florestal e Energia Elétrica”,
sexta edição) e o complexo sistema normativo destinado à conservação da
floresta (“Unidades de Conservação: passaporte para o futuro”, sétima edição).
Com o amadurecimento das discussões, logrou-se
planejar o que foi denominado “trilogia das alterações climáticas”. A ideia é
completar uma sequência de três edições dedicadas ao tema das mudanças no
clima. A trilogia iniciou-se em 2014, na oitava edição do evento (“Florestas sob
um novo clima”) e será concluída em 2016, na décima.
Em 2015, à luz do mote “Floresta e Água: um
equilíbrio mútuo” (slogan vencedor de um concurso realizado entre os alunos do
curso de Engenharia Florestal), os participantes da Semana Florestal irão se debruçar
sobre a interação que existe entre a mata ciliar dos rios e a água que corre em
seus respectivos fluxos.
Ocorre que não há dúvida científica quanto ao fato
de que a mata ciliar tem influência no equilíbrio hidrológico dos cursos d’água;
a supressão desse tipo especial de floresta acarreta o assoreamento dos rios, o
que, por sua vez, pode levar à ampliação do risco de secas e alagações
O estudo da mata ciliar, todavia, nunca foi prioridade
nem para a academia nem para os institutos de pesquisas que atuam na Amazônia,
e só após a ocorrência de eventos extremos, como alagação no rio Madeira e seca
no rio Negro, o assunto ganhou preeminência.
Sem embargo, no decorrer dos últimos 10 anos três projetos
de pesquisa foram levados a efeito com a finalidade de gerar informações acerca
da mata ciliar dos rios Acre e Purus e a influência das formações florestais
ali presentes sobre a quantidade e a qualidade da água que corre nesses rios.
A experiência obtida na execução desses projetos,
aprovados em editais do CNPq que somam 800 mil reais de investimentos, dentre
outros tópicos, será objeto de apreciação na XIX Semana Florestal do Acre.
No período de 23 a 27 de março será possível aprofundar
o que a ciência já comprovou.
Que a água que corre num rio ou igarapé da Amazônia
depende da floresta que existe na mata ciliar. Todos lá!
* Professor da Universidade
Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.
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