segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Participação social em governos no pós-eleições




* Ecio Rodrigues
Os parlamentares, considerando-se a maioria dos senadores e dos deputados federais, repudiaram o Decreto Presidencial 8.246, publicado em maio de 2014, que instituiu a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social.
Segundo alegam (os parlamentares), o papel de monitorar a execução de políticas públicas seria do parlamento, e a participação social, na forma como estabelece o decreto, fere o princípio da independência dos poderes e retira atribuições constitucionais do parlamento nacional.
Na pior das hipóteses, na opinião dos congressistas, o Executivo estaria preparando um golpe contra os representantes eleitos, pelo povo, para discutir e votar as políticas públicas criadas em benefício, claro, do próprio povo.
E como, na política tupiniquim, as discussões que deveriam ser resolvidas no universo da política costumam ser atravancadas pelos interesses de cada um, as decisões acabam escorrendo para a esfera do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, certamente é lá que a participação social vai parar.
A rejeição dos parlamentares ao decreto da participação social tem fundamento.  Não obstante, não pode ser desconsiderado que, desde a redemocratização do país, iniciada no final da década de 1980 com o fim dos governos militares, vem ocorrendo um processo paulatino de envolvimento da população nas discussões sobre a elaboração – e, em alguns poucos casos, até mesmo na execução – dos programas sociais e políticas públicas.
Acontece que, se por um lado, cresce a expectativa por participação da sociedade na definição das políticas, constata-se, por outro, uma crise de representação sem precedentes.
Existe, como evidenciaram as manifestações de junho de 2013, uma indisposição da sociedade com a política em geral. E a principal causa dessa indisposição sem dúvida está no parlamento. Estatutos como o da suplência e do coeficiente eleitoral, que permitem que senadores e deputados sejam eleitos sem votos, são excrescências que custam caro à democracia e levam o parlamento ao descrédito e os eleitores à frustração.
Com a pressão popular por participação em alta, e com o parlamento desacreditado, o governo lança mão do sempre autoritário instrumento do decreto. Há de se convir, contudo, que, no contexto atual, seria difícil a aprovação de uma legislação que outorgasse à sociedade mais espaço de decisão política.
A nova política de participação social desponta 15 anos depois do surgimento do antigo Programa Comunidade Solidária, em cujo âmbito foi aprovada a Lei 9.790/99, norma que, juntamente com o Decreto 3.100/99, que a regulamentou, ficou conhecida como Marco Legal da Sociedade Civil.
Naquela época, a crise de representação política, em especial via parlamento, já era um fato. Por meio da definição de regras claras, o Executivo, sem apelar para o instituto do decreto, tentou regular a relação da sociedade civil com os governos eleitos. Infelizmente, nada disso vingou.
Agora, pretende-se ampliar a participação para além das organizações da sociedade civil, no intuito de chegar ao próprio cidadão. Não entrando no mérito de sua legitimidade e pertinência, trata-se, não há dúvida, de um projeto ambicioso, dispendioso e de difícil execução.
Com alguns exageros, o decreto presidencial procura organizar a participação do povo nos governos; se terá êxito, o tempo dirá.          

* Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

domingo, 12 de outubro de 2014

Mapa interativo online mostra evolução de desmatamento no mundo


Um novo mapa de alta resolução das florestas – online e interativo – foi criado com ajuda do site Google Earth. A ferramenta online esta disponível gratuitamente na internet e permite uma aproximação detalhada de até 30 metros.
O mapa online coleta dados desde 2000, o que significa que é possível verificar como a cobertura florestal mudou ao longo da última década. Para criar os mapas interativos, foram usadas mais de 650 mil imagens do satélite Landsat 7.
Entre 2000 e 2012, a Terra perdeu, em florestas, o equivalente à todo o território da Mongólia.
O mapa mostra que o Brasil avançou bastante no combate ao desmatamento, mas os ganhos nesta região foram superados por forte destruição de florestas em países como Indonésia, Malásia, Paraguai e Angola.
 
http://earthenginepartners.appspot.com/science-2013-global-forest

Mapa mundial do Carbono

 Feito pelo escritório inglês Kiln para um concurso do Banco Mundial de aplicativos sobre mudanças climáticas.
Com o auxílio do menu, você poderá ter informações detalhadas sobre cada país e suas populações. Clique sobre o play para ouvir a introdução sobre o Mapa do Carbono e o melhor modo de utilizá-lo.


http://www.carbonmap.org/?lang=pt#Area

Certificação florestal é a garantia de sustentabilidade




* Ecio Rodrigues
A demanda pela certificação de produtos florestais ganhou força ainda na década de 1990. Certificar significa afixar, em cada artigo comercializado (uma tora de madeira, uma tábua de cortar carne etc.), um selo que diferencie o produto de seus concorrentes.
Ao estampar um selo num determinado produto, a indústria passa ao consumidor uma informação que é esperada, ou melhor, exigida por ele. No caso da certificação florestal da madeira explorada na Amazônia, essa informação expressa uma garantia: aquela madeira foi explorada de acordo com as técnicas de manejo florestal, ou seja, a exploração não causou danos à floresta ou às populações que nela habitam.
Essa garantia, obviamente, traduz uma grande responsabilidade. Por isso, antes, depois e, especialmente, no ato da exploração da árvore, numerosos procedimentos técnicos (princípios, critérios e verificadores da certificação) são executados tanto pelos organismos que fornecem o selo (os certificadores) como pelos empreendimentos que o recebe (os certificados).
Mas os produtores relutaram e ainda relutam em aderir aos princípios da certificação florestal. Primeiro, porque consideram o custo da certificação proibitivo, o que, em parte, é verdade; segundo, porque não entendem exatamente como podem se beneficiar com o selo verde.
A superação dessa relutância configura, seguramente, o maior desafio enfrentado pela certificação florestal. Acontece que a certificação não é imposta, como se fosse uma exigência para a extração de madeira na Amazônia. Não é uma regra, como ocorre com as questionáveis certidões negativas exigidas pelos órgãos oficiais para o licenciamento ambiental.
Diga-se, aliás, que a certificação é, por natureza, voluntária. Ao optar pela certificação, o produtor é levado unicamente por razões de mercado. Pode-se dizer que são duas as principais razões que movem o produtor: agregação de valor e permanência no mercado. Embora preço e permanência no mercado nem sempre andem juntos (uma vez que há mercados que exigem a certificação mas não aceitam pagar a mais pelo produto certificado), geralmente o produtor é convencido por ambas as razões – ou por uma delas.  
Para entender melhor. Se a madeira certificada for comercializada com adicional de 20% sobre o preço, os custos da certificação são compensados. Por outro lado, como alguns mercados exigem a certificação, para se manter nesses mercados o produtor tem que obter o selo. Esse é o caso, por exemplo do mercado europeu; vale dizer, só os produtos de madeira que obtêm o selo de certificação podem ser exportados para a Europa.
É condição elementar, ademais, que a certificação não envolva qualquer tipo de órgão público. Parece difícil entender a ausência do poder público, entretanto, o objetivo principal da certificação é a garantia. Acontece que órgãos estatais costumam ter problemas sérios de credibilidade, e sem credibilidade não há como garantir as garantias.
Em âmbito mundial, o FSC (Forest Stewardship Council) é considerado o principal selo para produtos de origem florestal e o de maior credibilidade para a produção florestal na Amazônia. Atualmente, 183 milhões de hectares de florestas no mundo são certificados pela organização. O FSC é estruturado em três câmaras de discussão (social, empresarial e ambiental), cujos membros aprovam em assembleia geral os princípios adotados para a certificação em todo o mundo.
No Brasil, a certificação florestal é uma realidade desde 1993, quando o Conselho de Manejo Florestal, o chamado FSC Brasil, iniciou suas atividades.
A certificação florestal é a garantia de que a produção de madeira na Amazônia é sustentável. Não é o Ibama, mas o comprador, quem exige essa garantia. 
  
* Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.