De maneira geral, a pesquisa mostra que no equilíbrio entre a perda de carbono para atmosfera na retirada seletiva dos indivíduos e a absorção do gás pela floresta que se regenera, a retirada de CO2 da atmosfera é muito superior. Conforme apontado no trabalho, novas árvores e aquelas que permanecem no local crescem e preenchem os espaços deixados por aquelas que foram retiradas.
O pesquisador Marcus Venicio Neve d´Oliveira, da Embrapa Acre, explica que o Tmfo é uma rede que envolve instituições e equipes de pesquisa da África, Ásia e América com o objetivo de realizar estudos de dinâmica de crescimento de florestas manejadas.
A forma de organização é por meio da realização de workshops presenciais, nos quais os membros da rede discutem os objetivos e metodologias dos trabalhos a serem desenvolvidos e compartilham dados.
“No caso desse estudo, a elaboração do artigo demorou em torno de um ano e contou com a participação de todos os sítios da rede na Amazônia com dez anos ou mais de monitoramento”
Revela.
Mais dados sobre o manejo sustentável
De acordo com a pesquisa, a recuperação dos estoques de carbono foi bastante rápida após a exploração. Também foi observado que as regiões do planalto da Guiana com 21 Mg C. ha-1 (miligramas de carbono por hectare ao ano) e Central da Amazônia cresceram mais rapidamente do que a Sul (12 Mg C. ha-1).“Esse efeito é ligado ao estresse ambiental promovido por estações secas mais longas nessa região”
Explica Marcus Venicio.
A redução dos estoques de carbono e a velocidade da recuperação da floresta dependem da quantidade de madeira retirada da floresta (que varia de menos de 10 a mais de 30 m3. ha-1 (metros cúbicos por hectare ao ano), técnicas de extração, características da floresta e clima.
“A grosso modo, após a exploração poderemos chegar a ter até uma captura de 3 Mg. ha-1. ano-1 com esse número tendendo a decrescer ao longo do tempo.”
A explicação para isto é que, normalmente, florestas não manejadas e sem nenhuma outra forma de perturbação antrópica, como incêndios, estão na sua capacidade máxima de estoque de carbono.
Flutuações locais de aumento ou diminuição desses estoques nesses ecossistemas podem acontecer em função da dinâmica natural da floresta, como a queda de grandes árvores, abrindo espaço para o ingresso de novas árvores e crescimento das remanescentes, mas ao longo do tempo essas flutuações tendem ser nulas a zero.
“Nas florestas manejadas, após o corte os estoques de carbono estão abaixo da capacidade de suporte da floresta, que tendem a experimentar um período de crescimento até a estabilização desses estoques em um nível semelhante ao da floresta original.”
Constatação
Os estudos são feitos em PPs (parcelas permanentes), amostras da floresta que são remedidas ao longo do tempo. Em todos os sítios, a primeira medição foi feita antes da exploração para que os cientistas pudessem avaliar o estado da floresta pré-manejo e o impacto que as operações florestais causaram na estrutura da floresta. Ao longo do tempo foi medido o crescimento, mortalidade e ingresso de árvores.“O crescimento tende a ser mais rápido logo após o corte seletivo devido à diminuição da competição com o aumento da entrada de luz e disponibilidade de água e nutrientes”
Detalha o pesquisador.
Ao longo do tempo, com o fechamento das copas esse incremento tende a diminuir. O tempo de estabilização depende da intensidade do corte realizado na área, da estrutura da floresta original, dos métodos de extração utilizados e fatores climáticos. De maneira geral, em torno de cinco anos após a exploração, o ritmo de crescimento da floresta começa a cair.
As extrações com impacto reduzido usados como parâmetro foram realizadas por empresas durante suas atividades comuns de manejo, entidades ou específicas para pesquisa. Todos os sítios nesse estudo tiveram acompanhamento de instituições de pesquisa.
O processo utilizado no estudo é o mesmo empregado pelas empresas que realizam o MFS. De acordo com o pesquisador, o modelo usado no Brasil é eficiente.
“Isso vem sendo demonstrado por diversos estudos realizados especialmente nos Estados do Para, Amazonas e Acre”
Ciclo ideal
Existe um debate, às vezes fervoroso, sobre o número de anos que se deve esperar para intervir novamente em uma área manejada. Para o especialista, o tempo deve ser calculado em função da quantidade de madeira retirada da floresta, sítio, método de extração e clima.“Na Amazônia brasileira usamos como regra geral uma taxa de recuperação de 0.8 m3. ha 1. ano-1 como média de crescimento da floresta após o manejo”
Explica Marcus Venicio. Adotando essa taxa de crescimento, em uma extração de hipotética de 20 m3 de madeira por ha, o ciclo seria de 25 anos.
“Essa taxa é consistente e foi obtida em estudos de crescimento de florestas manejada na Amazônia, mas não é perfeita.”
De acordo com o pesquisador, a grande vantagem do MFS é a manutenção da estrutura e biodiversidade da floresta.
“Assim, além dos estoques de carbono, todos os outros serviços ambientais da floresta como: ciclagem de nutrientes, proteção do solo, proteção dos cursos e qualidade da água, distribuição das chuvas e clima são mantidos.”
O manejo florestal (em alguns casos também o turismo) é a única atividade econômica na Amazônia que não tem como passo inicial a remoção dos ecossistemas originais.
“Somente isso, sem dúvida é uma grande vantagem considerando a grande emissão de CO2 produzida pela substituição da floresta pelos modelos tradicionais de uso da terra agricultura e pecuária”
Finaliza Marcus.
Fonte: http://referenciaflorestal.com.br/2017/06/23/manejo-sustentavel/