terça-feira, 27 de junho de 2017

Pesquisa comprova os benefícios para a floresta que passa por intervenção da extração seletiva de árvores.

Um trabalho que contou com 21 pesquisadores, dos quais 10 brasileiros, comprovou que o MFS (Manejo Florestal Sustentável) na floresta amazônica amplia a absorção de carbono da atmosfera. O estudo levou um ano para ser produzido, foram avaliados 133 sítios espalhados pela floresta Amazônica, que são acompanhados há mais de 10 anos pelo Tmfo (sigla em inglês para Observatório de Florestas Tropicais Manejadas), totalizando 175 ha (hectares).
De maneira geral, a pesquisa mostra que no equilíbrio entre a perda de carbono para atmosfera na retirada seletiva dos indivíduos e a absorção do gás pela floresta que se regenera, a retirada de CO2 da atmosfera é muito superior. Conforme apontado no trabalho, novas árvores e aquelas que permanecem no local crescem e preenchem os espaços deixados por aquelas que foram retiradas.
O pesquisador Marcus Venicio Neve d´Oliveira, da Embrapa Acre, explica que o Tmfo é uma rede que envolve instituições e equipes de pesquisa da África, Ásia e América com o objetivo de realizar estudos de dinâmica de crescimento de florestas manejadas.
A forma de organização é por meio da realização de workshops presenciais, nos quais os membros da rede discutem os objetivos e metodologias dos trabalhos a serem desenvolvidos e compartilham dados.
“No caso desse estudo, a elaboração do artigo demorou em torno de um ano e contou com a participação de todos os sítios da rede na Amazônia com dez anos ou mais de monitoramento”
Revela.
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Mais dados sobre o manejo sustentável

De acordo com a pesquisa, a recuperação dos estoques de carbono foi bastante rápida após a exploração. Também foi observado que as regiões do planalto da Guiana com 21 Mg C. ha-1 (miligramas de carbono por hectare ao ano) e Central da Amazônia cresceram mais rapidamente do que a Sul (12 Mg C. ha-1).
“Esse efeito é ligado ao estresse ambiental promovido por estações secas mais longas nessa região”
Explica Marcus Venicio.
A redução dos estoques de carbono e a velocidade da recuperação da floresta dependem da quantidade de madeira retirada da floresta (que varia de menos de 10 a mais de 30 m3. ha-1 (metros cúbicos por hectare ao ano), técnicas de extração, características da floresta e clima.
“A grosso modo, após a exploração poderemos chegar a ter até uma captura de 3 Mg. ha-1. ano-1 com esse número tendendo a decrescer ao longo do tempo.”

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A explicação para isto é que, normalmente, florestas não manejadas e sem nenhuma outra forma de perturbação antrópica, como incêndios, estão na sua capacidade máxima de estoque de carbono.
Flutuações locais de aumento ou diminuição desses estoques nesses ecossistemas podem acontecer em função da dinâmica natural da floresta, como a queda de grandes árvores, abrindo espaço para o ingresso de novas árvores e crescimento das remanescentes, mas ao longo do tempo essas flutuações tendem ser nulas a zero.
“Nas florestas manejadas, após o corte os estoques de carbono estão abaixo da capacidade de suporte da floresta, que tendem a experimentar um período de crescimento até a estabilização desses estoques em um nível semelhante ao da floresta original.”

Constatação

Os estudos são feitos em PPs (parcelas permanentes), amostras da floresta que são remedidas ao longo do tempo. Em todos os sítios, a primeira medição foi feita antes da exploração para que os cientistas pudessem avaliar o estado da floresta pré-manejo e o impacto que as operações florestais causaram na estrutura da floresta. Ao longo do tempo foi medido o crescimento, mortalidade e ingresso de árvores.
“O crescimento tende a ser mais rápido logo após o corte seletivo devido à diminuição da competição com o aumento da entrada de luz e disponibilidade de água e nutrientes
Detalha o pesquisador.
Ao longo do tempo, com o fechamento das copas esse incremento tende a diminuir. O tempo de estabilização depende da intensidade do corte realizado na área, da estrutura da floresta original, dos métodos de extração utilizados e fatores climáticos. De maneira geral, em torno de cinco anos após a exploração, o ritmo de crescimento da floresta começa a cair.
As extrações com impacto reduzido usados como parâmetro foram realizadas por empresas durante suas atividades comuns de manejo, entidades ou específicas para pesquisa. Todos os sítios nesse estudo tiveram acompanhamento de instituições de pesquisa.
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O processo utilizado no estudo é o mesmo empregado pelas empresas que realizam o MFS. De acordo com o pesquisador, o modelo usado no Brasil é eficiente.
“Isso vem sendo demonstrado por diversos estudos realizados especialmente nos Estados do Para, Amazonas e Acre”

Ciclo ideal

Existe um debate, às vezes fervoroso, sobre o número de anos que se deve esperar para intervir novamente em uma área manejada. Para o especialista, o tempo deve ser calculado em função da quantidade de madeira retirada da floresta, sítio, método de extração e clima.
“Na Amazônia brasileira usamos como regra geral uma taxa de recuperação de 0.8 m3. ha 1. ano-1 como média de crescimento da floresta após o manejo”
Explica Marcus Venicio. Adotando essa taxa de crescimento, em uma extração de hipotética de 20 m3 de madeira por ha, o ciclo seria de 25 anos.
“Essa taxa é consistente e foi obtida em estudos de crescimento de florestas manejada na Amazônia, mas não é perfeita.”
De acordo com o pesquisador, a grande vantagem do MFS é a manutenção da estrutura e biodiversidade da floresta.
“Assim, além dos estoques de carbono, todos os outros serviços ambientais da floresta como: ciclagem de nutrientes, proteção do solo, proteção dos cursos e qualidade da água, distribuição das chuvas e clima são mantidos.”
O manejo florestal (em alguns casos também o turismo) é a única atividade econômica na Amazônia que não tem como passo inicial a remoção dos ecossistemas originais.
“Somente isso, sem dúvida é uma grande vantagem considerando a grande emissão de CO2 produzida pela substituição da floresta pelos modelos tradicionais de uso da terra agricultura e pecuária”
Finaliza Marcus.

Fonte: http://referenciaflorestal.com.br/2017/06/23/manejo-sustentavel/

domingo, 11 de junho de 2017

Eleições agora, diretas ou não, aumentariam o desmatamento na Amazônia



* Ecio Rodrigues
Relacionar o cotidiano às peripécias da política nacional não é tarefa fácil. Poucos conseguem fazer isso e talvez esteja nessa desconexão, entre uma ideia esdrúxula (como a que apregoa eleições diretas) e a realidade vivenciada pela população, a explicação para boa parte das mazelas dos brasileiros.
Estabilidade – política, econômica, social –, eis a palavra-chave para garantir crescimento e qualidade de vida. Afinal, com estabilidade surge o ambiente propício para debater e decidir as demandas de Estado, e não os anseios de uns e outros que assumem o governo.
No Brasil, todavia, instabilidade, ou crise, como prefere o pessoal da imprensa, tem sido rotina há tempos. Não à toa, em quase 30 anos desde o fim do regime militar, apenas dois presidentes concluíram seus mandatos.
Mas, e o desmatamento, onde é que entra?
De uma análise da mais recente taxa de desmatamento na Amazônia (divulgada no final de 2016 pelo conceituado Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é possível relacionar o desmatamento à instabilidade política e à maior crise econômica enfrentada pelo país nos últimos 100 anos.  
Diante da queda na economia – PIB negativo na ordem de 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016 –, seria sensato supor a retração dos investimentos.
          Igualmente, seria sensato supor a retração dos investimentos num contexto de profunda crise política, agravada por um longo processo de impeachment, além de uma enxurrada de denúncias que, mesmo quando não comprovadas, provocam estragos irreparáveis.
Ocorre que, na dinâmica econômica da Amazônia, investir significa desmatar a floresta (no propósito de ampliar a área destinada à criação de boi e não por pura maldade, como pensam os desavisados); dessa forma, acreditava-se que a taxa de desmatamento manteria a tendência de queda, mas não foi o que aconteceu.
A extensão da área desmatada causou um misto de surpresa e temor em todos os que se preocupam com o futuro da maior floresta tropical do planeta.
Surpresa, em face do inusitado aumento de 29% no desmatamento, no período entre agosto de 2015 e julho de 2016 – ou seja, no auge da recessão e durante o julgamento político da então presidente.
Temor, porque o aumento na destruição florestal, apesar de ocorrer em condições políticas e econômicas atípicas, foi mais intenso nas regiões fora do arco do desmatamento.
Segundo o Inpe, Amazonas e Acre foram os estados que mais destruíram as florestas: respectivamente, 54% e 47% de aumento em relação ao período anterior. Essa dinâmica pode significar o início de um novo ciclo de desmatamento recorde, como os que ocorreram em 1995 e 2004.
Decerto haverá quem argumente que relacionar os destinos do país à ampliação do desmatamento é pensar pequeno. Afinal, o que representa o desmatamento da Amazônia quando o que está em jogo é a presidência?
Para os que passam seus dias pensando no Poder, o desmatamento não significa nada, contudo, para quem se preocupa com a Amazônia, a estabilidade é tudo, independentemente de quem esteja no poder.
Promover a instabilidade com argumentos em favor da realização de eleições diretas, num cenário em que denúncias são jogadas ao vento e o moralismo se sobrepõe à razão, parece até irresponsabilidade.
Eleições vão acontecer em 2018, dentro de um cronograma institucional que é reconhecido e esperado pela sociedade. Claro que é melhor assim. Para a Amazônia e para o país.

*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.