* Ecio Rodrigues
É
uma pena, mas a região que abriga a maior floresta tropical do mundo, a
Amazônia, dispõe de uma representação política que vislumbra exclusivamente um futuro
baseado na agropecuária – vale dizer, um futuro que prescinde, que abre mão da
maior floresta tropical do mundo.
Obcecados
pela criação de gado, os políticos amazônidas, sem exceção e, o pior, sem
diferenciação entre os partidos que permanecem por longos períodos no poder
regional, enxergam a região como o “celeiro do mundo” – continuam retumbando o
equivocado conceito que aprenderam lá atrás, com a dedicada professorinha do
ensino fundamental.
Superar
essa etapa do processo de desenvolvimento da Amazônia tem sido difícil, se não
impossível. Por mais que as evidências reiteradamente comprovem a inviabilidade
de qualquer atividade que pressuponha uma ocupação produtiva baseada no
desmatamento, a persistência da insensatez impressiona.
Além
dos documentos oficiais, oriundos de organismos internacionais de
financiamento, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano (para ficar
nos mais requisitados pelos governos
locais), há um sem-número de estudos, publicados tanto por peritos nacionais
quanto por estrangeiros, demonstrando o que deveria ser uma verdade
indiscutível: a pecuária não serve para a Amazônia. Simples assim.
Por
outro lado, existe ainda mais um argumento, muito eloquente, aliás, e que
deveria ser suficiente para convencer os amazônidas de que um modelo de
desenvolvimento ancorado na floresta precisa ser consensuado, elaborado e levado
a efeito, imediatamente.
Ocorre
que o mundo não aceita mais o desmatamento de florestas na Amazônia. Isso é
fato. E não adianta partir para os costumeiros arroubos de soberania nem
tampouco recorrer a duvidosos sensos de oportunidade – como o que advoga que a
renúncia ao desmatamento ensejaria indenização pecuniária, algo quase
abominável. A tendência é de recrudescimento, a ponto de começar-se a exigir a
restauração florestal das porções de mata ciliar.
Talvez
seja essa a maior expectativa sobre os resultados das negociações que deverão
ocorrer durante a 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima, COP 21 da sigla em inglês, que será realizada a
partir de 11 de dezembro de 2015 em Paris, França.
Afinal,
os avanços são manifestos. Até o momento, 150 países protocolaram na ONU seus
planos de redução de emissões de carbono, que englobam 90% do total de gases de
efeito estufa lançados na atmosfera. Para se ter uma ideia do tamanho dessa
adesão, o Protocolo de Kyoto, assinado em 1996 e que vai vigorar até 2020, prevê
metas de redução em torno de 10% das emissões mundiais.
Não
é necessário aprofundar-se na análise dos planos de redução das emissões de
carbono para constatar que a diminuição do desmatamento na Amazônia e, a partir
da COP 21, a restauração florestal da mata ciliar desmatada pela pecuária são
questões-chave.
Significa
afirmar que, mesmo sem querer e mesmo sob algum grau de teimosia e descuido, os
amazônidas serão obrigados a assumir o que deveriam ter sido os primeiros a
propor: tolerância zero para com o desmatamento – o legal e o ilegal,
evidentemente.
Por
sinal, será cada vez mais vexaminoso explicar mundo afora a existência de um “desmatamento
legalizado”.
Para
os que insistem no desmatamento, a expectativa é que a COP 21 demonstre o
óbvio: a saída sempre esteve na conservação da floresta.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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