* Ecio Rodrigues
Não há dúvida científica acerca da estreita relação que
existe entre as formações florestais e a quantidade e a qualidade da água que
corre num rio.
Embora esse vínculo entre a água e a mata ciliar
tenha sido desconsiderado durante as discussões que levaram à aprovação do
Código Florestal, em 2012, e do decreto regulamentador do Cadastro Ambiental
Rural, em 2014, os cientistas, por meio da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência, não pouparam esforços para alertar que o equilíbrio hidrológico de
um rio depende, em grande medida, do que ocorre na mata ciliar presente em suas
margens.
O esmiuçamento desse estreito vínculo é prioridade,
em especial na Amazônia. Parece claro que a região que abriga uma das maiores
bacias hidrográficas e a maior formação de floresta tropical do planeta deve se
aliar ao esforço científico para responder as questões que ainda instigam os
pesquisadores.
Essas questões se relacionam, por exemplo, às
espécies florestais que compõem as matas ciliares, e ao tipo de consórcio (entre
essas espécies) mais adequado para a restauração florestal dos trechos
degradados – a maior parte, diga-se, em decorrência da criação de gado.
Determinados a investigar a importância das
florestas para os rios, pesquisadores vinculados à Engenharia Florestal da
Universidade Federal do Acre lograram aprovar, no âmbito dos editais publicados
pelo CNPq, dois projetos de pesquisa voltados para o estudo da mata ciliar dos
rios Acre e Purus.
Os importantes resultados obtidos em ambos os
projetos incluem a definição de metodologia padronizada para o inventário e mapeamento
por satélite da mata ciliar dos rios que cortam o território do Acre. Também compreendem
a concepção de um indicador, o denominado IVI-Mata Ciliar, que possibilita a
especificação das espécies florestais a serem empregadas na restauração
florestal das áreas desmatadas.
Essas experiências, por sua vez motivaram a criação
do Grupo de Pesquisa Interação Água e Floresta na Amazônia. O grupo, cadastrado
no CNPq, dedica-se a estudar a influência das formações florestais presentes na
Estação Ecológica do Rio Acre no nível de turbidez e vazão da água que abastece
os oito municípios situados à jusante da nascente do rio.
Dando continuidade às pesquisas, no período de 08 a
25 de outubro próximo, uma expedição terá lugar na estação ecológica,
localizada na cabeceira do rio Acre, no município de Assis Brasil, na fronteira
entre Brasil e Peru.
Contando com o apoio do ICMBio, a equipe de
pesquisadores irá subir o rio, de Assis Brasil até a estação ecológica, a fim
de concluir as medições iniciadas em 2012, quando a mesma expedição foi
realizada no período das cheias. Agora, os níveis de vazão e turbidez do rio,
além da biomassa presente na mata ciliar, serão mensurados durante a seca.
Outro objetivo da expedição será a instalação de 10
parcelas permanentes, cada uma com 20 X 130 metros. Durante os próximos 20 anos,
essas parcelas serão monitoradas, visando-se a: aferir a dinâmica florestal da
mata ciliar; medir o fluxo de sedimentos e de água que chega ao rio; quantificar
a contribuição da estação ecológica para a qualidade e a quantidade da água que
chega nos municípios à jusante; e, o mais importante, precificar o serviço ambiental
que a estação ecológica presta, de melhoria na qualidade e vazão da água.
Espera-se que num futuro próximo as empresas distribuidoras
de água para abastecimento urbano, as unidades de produção agropecuária e as demais
indústrias que dependem da água do rio Acre paguem por esse serviço.
Os valores arrecadados irão custear o manejo da estação
ecológica – que, dessa forma, poderá produzir água de melhor qualidade e em
maior quantidade. Nada melhor que um ciclo econômico virtuoso.
* Professor da Universidade
Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.