O manejo do Cacau Nativo pelos extrativistas que habitam as margens do rio Purus, em Boca do Acre AM, adquire grande importância, na medida em que contribui para a geração de trabalho e renda na região e, por conseguinte, para a melhoria das condições sociais desses pequenos produtores. O manejo do cacau promove o uso sustentável da diversidade biológica existente no ecossistema florestal da Amazônia, uso este, por sua vez, que se apresenta como uma saída para a manutenção da floresta.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
Depois de queimada recorde, desmatamento no Acre aumenta 47%
* Ecio Rodrigues
Depois
de bater sucessivos recordes mensais de queimadas, o Acre fechou 2016 como o
ano em que mais queimou desde o início das medições em 1998 (exceção feita a 2005,
por conta dos incêndios florestais que devastaram a Resex Chico Mendes).
Alertas
não faltaram; contudo, fizeram-se ouvidos moucos. O resultado foi que o estado
chegou ao final de novembro contabilizando a soma absurda de 6.987 focos de
calor. Os que se põem na defensiva se apressaram em desdenhar (como sempre) os
números apresentados pelo Inpe, o prestigiado Instituto de Pesquisas Espaciais.
E na ausência
de política pública capaz de reverter esse quadro sombrio, todos correram a
culpar El Niño. Esquecem que os impactos dos extremos climáticos decorrentes do
aquecimento do planeta podem ser ampliados ou reduzidos, dependendo da realidade
(leia-se desmatamento) encontrada em cada região.
Não há
dúvida científica quanto à constatação de que o desmatamento da floresta está
na raiz de todos os males. Significa afirmar, sem medo de errar, que o tamanho
da seca e/ou da alagação será maior ou menor, dependendo da área desmatada numa
determinada localidade.
Por
outro lado, haverá muito ou pouco desmatamento, dependendo das orientações
emanadas da política pública. Todas as vezes que prefeitos e governadores
aparecem na mídia em notícias ou declarações que de alguma forma motivam o
investimento na produção agrícola e na criação de gado, a resposta do produtor será
o aumento da área desmatada.
Acontece
que a realidade é bem mais simples do que muitos imaginam. Ninguém desmata ou
queima por maldade, apesar haver quem creia nessa sandice. Desmatar é opção de
investimento, e é aí que reside o perigo.
Em
29/11 último, com a divulgação do índice de desmatamento medido entre
agosto/2015 e julho/2016 na Amazônia, mais uma vez os números do Inpe deixaram
em maus lençóis os que defendem as políticas públicas levadas a efeito no Acre.
Afora
o fato de que se trata de números inquestionáveis – pois não há como, sob o
ponto de vista científico, refutar o levantamento do Inpe –, a ampliação em 47%
do desmatamento em território estadual não deixa dúvida: existe grande
indiferença e negligência governamental em relação ao desmatamento já ocorrido e
ao que foi ampliado na área de influência da bacia hidrográfica do rio Acre.
Algo
de podre está acontecendo, e nem com toda a condescendência do mundo pode-se
aceitar que, para fora, aos ouvidos europeus, o discurso seja o da “supremacia
verde” num Acre que se diz o “mais ambientalista” da Amazônia, enquanto para dentro,
aos eleitores rurais, o discurso leve ao aumento do rebanho.
Significativos
recursos financeiros ofertados pelos países mais ricos têm como exigência primordial
a redução do desmatamento. A escolha deveria ser simples: ou o estado se
qualifica como parceiro importante na cooperação internacional para a conservação
da floresta na Amazônia ou como grande produtor de boi. Não existe uma terceira
via – como se chegou a imaginar na época da aprovação da Lei do Zoneamento Ecológico-Econômico.
Confiava-se,
outrora, que o Acre não se tornaria um dos maiores responsáveis pela elevação
do desmatamento na Amazônia. Confiava-se que o Acre seria exemplo de
austeridade ecológica. Tudo perdido nos palanques.
Enfim,
se o recorde de queimadas foi debitado a El Niño, resta uma pergunta bastante
inconveniente: e o recorde de desmatamento? Foi a política de governo que
causou ou a culpa é dEl Muchacho?
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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