O manejo do Cacau Nativo pelos extrativistas que habitam as margens do rio Purus, em Boca do Acre AM, adquire grande importância, na medida em que contribui para a geração de trabalho e renda na região e, por conseguinte, para a melhoria das condições sociais desses pequenos produtores. O manejo do cacau promove o uso sustentável da diversidade biológica existente no ecossistema florestal da Amazônia, uso este, por sua vez, que se apresenta como uma saída para a manutenção da floresta.
sexta-feira, 12 de junho de 2015
domingo, 7 de junho de 2015
Cacau nativo comporá cesta de produtos florestais
* Ecio Rodrigues
Decerto que a ampliação
do número de produtos florestais que podem ser manejados por comunidades que
habitam o ecossistema florestal da Amazônia é uma das diretrizes para
viabilizar a atividade do manejo florestal comunitário – que, por sua vez, se
configura na principal, senão única, alternativa econômica à criação de boi.
O manejo florestal
comunitário surgiu no Acre no início da década de 1990, em especial após a
criação das reservas extrativistas. Portanto, a despeito de não ser ainda
objeto de consenso, trata-se de uma tecnologia concebida e testada com sucesso há
25 anos, tendo ganhado força em toda a Amazônia.
A expectativa inicial era
a de que, no curto prazo – até 2010, digamos –, pelo menos 20.000 seringueiros
transformados em manejadores florestais aderissem a essa tecnologia, para ofertar
uma cesta variada de produtos florestais, incluindo-se, obviamente, a madeira.
Frustrou-se a
expectativa, e passos lerdos têm sido dados desde então. Vez ou outra aparece
um produto que ganha alguma importância comercial e faz com que as atenções se
voltem para o manejo florestal comunitário. Uma atenção fugidia, que logo recua
ao lugar comum da nefasta criação de boi realizada no interior da floresta.
É provável que a
principal novidade, nas idas e vindas entre o manejo florestal e a pecuária
praticada nas reservas extrativistas (ou em áreas de floresta ainda sem regularização
fundiária definida), seja a produção de cacau nativo.
O componente que diferencia
o cacau nativo em relação à pupunha, à seringueira, à pimenta longa, entre outros
produtos florestais que ganharam importância comercial, reside no fato de que o
cacau não pode ser (novamente) domesticado: a domesticação desse produto ocorreu
lá atrás, ainda no século XVII.
Quer dizer, é como se
fosse, o cacau nativo, um novo produto introduzido no mercado, que não concorre
com o cacau domesticado, melhorado geneticamente e caracterizado pela alta
produtividade. Em face do sabor original que marca o seu chocolate, o cacau
nativo apresenta o que os economistas chamam de “nicho de mercado”, ou seja, um
público com necessidades ou exigências específicas, cuja exploração pode representar
grande oportunidade de negócio.
Atualmente praticado
pelos ribeirinhos do Purus, o manejo comunitário do cacau nativo tem potencial
para ser aplicado em outras partes da Amazônia. A boa notícia é que os
expedientes técnicos para a elaboração do respectivo Plano de Manejo Florestal já
foram desenvolvidos.
O Plano de Manejo serve
a dois fins. Primeiro, orienta os manejadores quanto aos procedimentos executados
durante todo o processo produtivo, empregando inovações tecnológicas no intuito
de alcançar a produtividade demandada pelo mercado.
Segundo, possibilita o licenciamento
ambiental da atividade perante os órgãos de controle, e o monitoramento da
produção florestal, o que fornece segurança para o manejador.
Mas, para elaborar um
documento com esse nível de exigências é necessário um cabedal de informações
subsidiárias.
Mediante projeto de
pesquisa empreendido no Acre em 2007, sob o apoio do CNPq, logrou-se conceber
metodologia para o levantamento de algumas dessas informações, a saber:
mapeamento da dispersão dos povoamentos de cacau por meio de imagens de satélite
de média resolução (para o levantamento da ocorrência de cacau); inventário do
cacau nativo (para o levantamento da quantidade de pés de cacau existentes no
local de ocorrência); aferição da importância do cacau para a geração de
emprego e renda junto aos manejadores; e otimização do sistema produtivo.
O desafio principal foi
superado e a tecnologia, desenvolvida; falta convencer os políticos que manejar
cacau é melhor que criar boi. Mas isso leva tempo. Muito tempo.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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