* Ecio Rodrigues
Mesmo após a instalação de mais de 120 usinas em território nacional,
nota-se uma indisposição generalizada da mídia, sempre despreparada, e da
sociedade brasileira em geral para com as hidrelétricas.
Difícil compreender as razões dessa indisposição, mas, ao que tudo indica,
associa-se o aproveitamento das águas a prejuízo econômico, impactos sociais
negativos e, o maior dos equívocos, elevada degradação ecológica. Tudo errado.
Comecemos pela viabilidade econômica. Não existe dúvida quanto ao fato de
que, atualmente, a força das águas se configura a opção mais barata para a
geração de energia elétrica no país. Em face da longa vida útil do
empreendimento, os custos referentes à construção de uma hidrelétrica, por
maiores que sejam (e quanto maior a rejeição da sociedade, mais elevados eles serão),
se pagam no médio prazo.
O interesse que as empresas do setor privado manifestam nos leilões realizados
para a concessão das obras é a maior demonstração de que o aproveitamento das
águas é bom negócio, lucro garantido. E o argumento de que as usinas são
levantadas com dinheiro público é tão desprovido de razoabilidade que nem vale
a pena discutir.
Quanto aos impactos sociais, decerto a apreensão decorre da quantidade de
empregados necessários à execução da obra (que ultrapassa as dezenas de
milhares); e das condições de atendimento pelos serviços públicos disponíveis
nos locais do empreendimento.
Seria insensato não reconhecer que o deslocamento de um contingente considerável
de trabalhadores de uma determinada localidade para outra acarretará – tanto no
local de origem quanto no do destino, diga-se – impactos sociais relacionados à
oferta de serviços básicos de educação, saúde e segurança. Essa lógica,
todavia, vale para qualquer empreendimento de grande porte, e não somente para as
hidrelétricas.
Vale dizer, quando o Incra mobiliza milhares de famílias para ocupar, por
exemplo, uma área rural na Amazônia, no âmbito de seus questionáveis projetos
de colonização e reforma agrária, o impacto na rede estatal de serviços também é
muito grande. O mesmo acontece quando é instalado um polo industrial e assim
por diante. São problemas, contudo, que podem ser contornados mediante a
implementação de ações mínimas de planejamento, não se prestando a inviabilizar
o empreendimento.
O outro lado da questão concernente aos impactos sociais é que, pelo
menos no caso da Amazônia, as localidades nas quais se constroem as usinas são,
sem exceção, regiões esquecidas pelas políticas públicas; quando um lugar
desses é destino de uma iniciativa do porte de uma hidrelétrica, é natural que a
população espere plena satisfação de todas as demandas relacionadas à prestação
de serviços básicos.
Ou seja, como a expectativa é por serviços de excelência onde antes não
havia serviço nenhum, sempre haverá algum grau de frustração; entretanto, em todas
as cidades onde uma hidrelétrica é construída, há significativa melhoria nas
condições sociais, o que se reflete no aumento do IDH.
Finalmente, chegamos às refutações de cunho ambiental. Mais uma vez, seria
insensato não admitir que a construção de uma barragem num rio, de forma a permitir
a formação de um lago e a alteração do fluxo d’água, poderá causar problemas de
adequação da fauna e da flora nesse novo ambiente gerado pela ação humana.
Mas, não se pode negar, tampouco, a capacidade de resiliência do meio
hídrico, basta analisar as características ecológicas presentes em
hidrelétricas com mais de dez anos de operação. Em muitas delas, inclusive, as condições
ambientais para a conservação da ictiofauna longe de se agravar, melhoraram.
A máxima de que onde houver um rio e uma queda haverá uma hidrelétrica
vale para um futuro cada vez mais próximo. Para a geração de energia elétrica,
a força d’água ainda é o melhor caminho.
* Professor da Universidade Federal do Acre,
Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e
Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.